v. 10 n. 1 (2025): Dossiê Encarceramento e interseccionalidade na temática prisional na Amazônia e no Nordeste
 
			
		
							Este dossiê nasceu da urgência de olhar para as prisões do norte e do nordeste do Brasil a partir de uma perspectiva interseccional. Encarceramento não é apenas uma estatística ou uma política de segurança pública, é uma experiência atravessada por gênero, raça, classe, território e geração. As prisões amazônicas e nordestinas carregam especificidades históricas e sociais que pouco aparecem nos grandes debates nacionais. São regiões onde o Estado penal se mostra ainda mais violento e desigual, mas onde também se constroem formas de resistência, cuidado, solidariedade e reflexão.
O conjunto de artigos reunidos nesta coletânea resulta do esforço de pesquisadoras, pesquisadores e militantes que, em diálogo com as comunidades afetadas, buscaram compreender as formas como o encarceramento em massa amplifica essa relação entre a prisão e a sociedade, marcando profundamente a vida das pessoas periféricas, em especial mulheres negras, pretas, pardas e indígenas.
Ao longo dos textos, transitamos entre diferentes olhares: da saúde à educação, da maternidade às violências de gênero, até a realidade do sistema socioeducativo, que, provocando reflexões, tensiona os modos como a sociedade brasileira tem naturalizado a punição e a exclusão.
Temas recorrentemente vistos como “perigosos” ou de “preocupação do Estado” e de políticas públicas são frequentemente atravessados por uma visão masculinista que excluí o debate racial e de gênero em detrimento dos grandes “temas”. Assim, essas temáticas são pensadas, recorrentemente, por um viés politicamente questionável: homens brancos, centralizados e/ou oriundos do Sudeste. Esse dossiê pretende remar na contramão dessas grandes ondas de pensamento, ainda que em uma rabeta feita pra atravessar nossos banzeiros.
Não intencionalmente, antes de adentrar na apresentação deste dossiê é oportuno afirmar que ele foi majoritariamente pensando, articulado e escrito por mulheres, assim a decisão de pensar na Amazônia e no Nordeste como lócus de reflexão acionou um recorte de gênero, demonstrando e enfrentando epistemologicamente uma versão masculinista no debate sobre crime, prisão e encarceramento em massa, colocando questões raciais e de gênero como um plano de fundo, incômodo, mas ainda assim um pano de fundo incontornável.
 
						