v. 9 n. 2 (2024): Dossiê Memórias sensíveis, contramemórias e patrimônios incômodos: políticas e narrativas

O conceito de patrimônio histórico e cultural de matriz eurocêntrica frequentemente reitera narrativas conciliatórias a respeito do que é digno de ser lembrado. Via de regra, tais narrativas reafirmam o lugar da branquitude como locus principal de construção de memória e da identidade nacional nos países colonizados. Em contraposição a esse cenário, situações traumáticas, incômodas, marginais e historicamente apartadas da memória coletiva têm sido cada vez mais levadas a público. As intervenções sobre monumentos, a construção de memoriais, a elaboração de antimonumentos e ações de contramemória, a releitura/reconfiguração de exposições e acervos por agentes historicamente retratados de forma estereotipada e outras iniciativas correlatas mobilizam um amplo leque de questões: quem diz o que deve ser lembrado, como e por quem? Quais as estratégias de contestação de narrativas supostamente estabelecidas, frequentemente povoadas por personagens brancos, fardados e masculinos?
Neste dossiê gostaríamos de receber trabalhos constituídos a partir de reflexões tais como: quais são os objetos, corpos e gestos performados em estratégias de contestação de narrativas patrimoniais hegemônicas? Como a interpelação mútua entre a rua e a arte movimenta processos de luta pela descolonização do espaço urbano? Como iniciativas de ativismos diversos agenciam a memória em seus repertórios de mobilização? Quais concepções de tempo estão em jogo nessa mobilização?