Entre grades e normas
o encarceramento de mulheres em conflito com a lei e com a performatividade de gênero
DOI:
https://doi.org/10.29327/2702935.10.1-9Palavras-chave:
Mulheres encarceradas, Prisão feminina, Gênero, Interseccionalidade, DecolonialidadeResumo
O estudo investiga como normas regulatórias de gênero, articuladas à colonialidade do poder masculino, configuram a “mulher a não ser” no sistema prisional. Diante do aumento de 567% do encarceramento feminino nos últimos 15 anos, e considerando as intersecções de gênero, raça e classe, busca-se compreender esses dispositivos de controle e seus efeitos sobre as detentas. Adotou-se análise qualitativa, sob as lentes da teoria das normas regulatórias de gênero, de quatro entrevistas com egressas do Centro de Reeducação Feminino, no Pará, examinadas. Resultados revelam experiências persistentes de violência ética – revistas invasivas, abandono familiar e penas agravadas – que negam humanidade e feminilidade às presas, mas também resistências baseadas em solidariedade e vínculos afetivos. Conclui-se que o cárcere reforça dupla vulnerabilidade feminina e requer políticas públicas penais atentas às dimensões interseccionais e decoloniais que atravessam o cárcere.
Palavras-Chave: Mulheres encarceradas. Prisão feminina. Gênero. Interseccionalidade. Decolonialidade.
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