v. 6 n. 1 (2022): “CARTOGRAFIAS DE TERRITORIALIDADES AMAZÔNICAS: INVISIBILIDADES E RESISTÊNCIAS”
Por muito tempo a arte e a autoridade de descrever o espaço foi exclusividade do Estado. A virada ocorre por meio de situações sociais, que ressaltam o periférico, o marginal e o fronteiriço (DELEUZE, 1988). E é assim que grupos e vozes tão diversos tem utilizado a cartografia, de maneira explícita pelas suas reivindicações face ao Estado, tanto de demandas de políticas públicas quanto de direitos ao seu reconhecimento e existência.
Na discussão da cartografia social com debates interdisciplinares, tem-se a oportunidade de demonstrar que os mapas, ainda que constituam relações de força, ao mesmo tempo consistem num instrumento de descrição. Trata-se da análise dos processos diferenciados de territorializações que ressaltam relações de poder e permitem avançar na compreensão das situações de conflitos, disputas, territorialidades, identidades e concepções diversas de tempo e espaço recolocando novas questões ao pensamento crítico sobre as compreensões de realidades amazônicas.
Nesta direção o Dossiê “CARTOGRAFIAS DE TERRITORIALIDADES AMAZÔNICAS: INVISIBILIDADES E RESISTÊNCIAS” tem o objetivo debater outras concepções e compreensões epistemológicas e empíricas relativas à geopolítica de conhecimentos sobre as diversas realidades Amazônicas. Objetiva-se também nesta compilação de reflexões, entender a história regional, seus sujeitos e territórios, a partir de abordagens interdisciplinares de um conhecimento histórico local, regional atravessados por temporalidades, ancestralidades e processos sul/globais.
Por conseguinte, cultivar abordagens e sentimentos transgressores de subversão e superação de preconceitos e estereótipos construídos sobre estas histórias periféricas, antes pouco cogitadas nos mercados editoriais e conferências do campo intelectual epistemológico do norte que no tempo presente se deslocam para o centro das abordagens em um movimento antihegemônico. Na contramão do frenesi deste capitalismo tipográfico (ANDERSEN, 2008), muitas vezes ainda reproduzido em formações pedagógicas e currículos escolares euro-centrados.
Este Dossiê também caminha na direção de contornos regionais ao entender as Amazônias como espaço de diversidades culturais e históricas inerentes ao processo de formação sócio-cultural, territorial e identitário. Em outras palavras, trás uma perspectiva coetânea a cartografia social, histórica, antropológica e sociológica ao situar e reposicionar a alteridade em relação ao contexto territorial e a dialética de pertencimento e negação, continuidade e rupturas em relação ao que se projeta enquanto desenvolvimento regional.
Intenta-se por fim, revelar estudos e compreensões de “outras memórias escritas, visuais e gestuais...” (PACHECO, 2012) sedimentadas nas mais variadas maneiras de expressões sociais, culturais e políticas de sujeitos. Bem como analisar as inúmeras estratégias de enfrentamentos, pertencimentos e resistências frente às ameaças constantes de poderes constituídos, fortemente evidenciados historicamente na Amazônia desde os períodos coloniais, até o epistemicídio contemporâneo e ocultamento do outro como informa Dussel (1992).
Organizadores:
profa. Dra. Eliana Teles (UFPA)
prof. Dr. Raimundo Erundino Santos Diniz (UNIFAP)
prof. Dr. David Junior de Souza Silva (UNIFAP)