Currículo e alfabetização

contradições da legislação em tempos neoconservadores

Autores/as

  • Camila Maria Bortot Universidade Federal do Paraná- UFPR
  • Kellcia Rezende Souza Universidade Federal da Grande Dourados- UFGD

DOI:

https://doi.org/10.29280/rappge.v8i1.11799

Palabras clave:

Políticas educacionais, Currículo, Alfabetização, BNCC, PNA

Resumen

O presente artigo tem por objetivo analisar as contradições inerentes às mudanças curriculares recentes para a alfabetização brasileira em tempos neoconservadores. Metodologicamente, a pesquisa constitui-se bibliográfica e documental na medida em que se busca a compreensão da produção do conhecimento científico acerca de determinados recortes da realidade investigada. Tem por fontes documentos nacionais que organizaram o currículo para a alfabetização nos últimos anos, tomando como documentos principais: as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (BRASIL, 2013), a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017) e a Política Nacional de Alfabetização (PNA) (BRASIL, 2019). A partir de um exame histórico-contextual, demonstramos que as tendências da legislação atual materializam o controle acirrado sobre os currículos, à falta de autonomia dos docentes, à padronização e homogeneização do trabalho pedagógico e o reducionismo da alfabetização ao método fônico de uma política pautada em evidências científicas. Essas evidências, por sua vez, são pautadas na neurociência, que desconsidera o conhecimento produzido historicamente em diferentes facetas, em prol da homogeneização de um ensino mecânico e padronizado. Esses elementos rompem, de forma intencional, com políticas anteriores que consideravam a pluralidade escolar, a autonomia docente e a multiplicidade teórico-metodológica.

Biografía del autor/a

Camila Maria Bortot, Universidade Federal do Paraná- UFPR

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), na linha de Políticas Educacionais. Mestra em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), na linha de Políticas e Gestão da Educação. Pedagoga, com láurea acadêmica, pela UEM. Especialista em Docência no Ensino Superior e especialista em Gestão Educacional, ambas pelo Centro Universitário de Maringá (UniCesumar).  Pesquisadora da Rede de Estudos e Pesquisas em Planejamento e Gestão Educacional (Replag). Vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Estado, Políticas Educacionais e Infância (Geppein/UEM/CNPq). Integrante do Grupo de Pesquisa Políticas e Gestão da Educação, do Núcleo de Políticas Educacionais (NuPE) da UFPR. Afiliada da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae) e da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped). Realiza pesquisas na área da Educação, com enfoque em: Estado, Política Social, Política Educacional, Organismos e Organizações Internacionais, Planejamento Educacional, Gestão da Educação, Infância e Educação Infantil. Atualmente é professora do Curso de Pedagogia no Centro Universitário Cidade Verde (UniCV).

Kellcia Rezende Souza, Universidade Federal da Grande Dourados- UFGD

Possui Licenciatura em Educação Física pela Universidade Federal de Goiás (2009) e Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Metropolitana de Santos (2015). Mestre em Educação pela Universidade Federal da Grande Dourados (2012). Doutora em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista - Unesp/Araraquara (2017). É docente da Faculdade de Educação da UFGD e atua nos Programas de Pós-Graduação em Educação e Administração Pública da mesma instituição. Realiza atividades de ensino, pesquisa e extensão voltadas para as áreas de Políticas públicas educacionais e gestão de instituições de ensino. Desenvolve pesquisas sobre as seguintes temáticas: políticas públicas educacionais, internacionalização da educação, estudos comparados em políticas públicas e gestão universitária.

Citas

ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado. 3. ed. Tradução Joaquim José de Maura Ramos. Lisboa: Presença/Martins Fontes, 1980.

BRASIL Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2017. Disponível em: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf. Acesso em: 1 set. 2022.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Último acesso em 5 de fevereiro de 2023.

BRASIL. Decreto nº 9.765, de 11 de abril de 2019. Institui a Política Nacional de Alfabetização. 2019a.BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. PNA: Política Nacional de Alfabetização. Brasília: MEC, SEALF, 2019a. 54 p.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno. Parecer CNE/CP no 22/2019.Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação). Aprovado em: 7/11/2019. Parecer Homologado - Portaria n° 2.167, publicada no D.O.U. de 20/12/2019, Seção 1, p. 142. 2019.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno. Resolução CNE/CP no 2, de 20 de dezembro de 2019. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC- Formação). 2019.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno. Parecer CNE/CP no 14/2020. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Continuada de Professores da Educação Básica e Base Nacional Comum para a Formação Continuada de Professores da Educação Básica (BNC-Formação Continuada). Aprovado em: 10/7/2020. Parecer Homologado - Portaria n° 882, publicada no D.O.U. de 26/10/2020, Seção 1, p. 57. 2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno. Resolução CNE/CP no 1, de 27 de outubro de 2020. Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Continuada de Professores da Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Continuada de Professores da Educação Básica (BNC- Formação Continuada). 2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Brasília: SEF, 2012.

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria Nº 1.460, de 15 de agosto de 2019. Institui a Conferência Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências. 2019c.

BRASIL. Ministério da Educação. Portaria nº º 1.461, de 15 de agosto de 2019. (Nomeia os pesquisadores para compor o painel de especialistas da Conferência Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências). 2019d.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. Conta pra Mim: guia de literacia familiar. - Brasília: MEC, SEALF, 2019.

DOURADO, Luiz Fernandes. A BNCC na contramão do PNE 2014-2024: avaliação e perspectivas. Recife: ANPAE, 2018.

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Um paradigma científico e evidências a ele relacionadas resolveriam os problemas da alfabetização brasileira? Revista Brasileira de Alfabetização - ABAlf, Belo Horizonte, v. 1, n. 10 (Edição Especial), p. 125-128, jul./dez. 2019.

FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 25. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.

FREIRE, Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização: Leitura do mundo, leitura da palavra. Tradução de: OLIVEIRA, Lólio Lourenço de. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.

FREITAS, Luiz Carlos de. Os reformadores empresariais da educação e a disputa pelo controle do processo pedagógico na escola. Educação & Sociedade, Campinas, v. 35, n. 129, p. 1085-1114, dez. 2014.

LEHER, Roberto. Apontamentos para análise da correlação de forças na educação brasileira: em prol da frente democrática. Educ. Soc., Campinas, v.40, e0219831, 2019.

MACEDO, Maria do Socorro Alencar Nunes. Por uma alfabetização transformadora. Revista Brasileira de Alfabetização - ABAlf, Belo Horizonte, v. 1, n. 10 (Edição Especial), p. 63-65, jul./dez. 2019. Disponível em: http://abalf.org.br/revistaeletronica/index.php/rabalf/article/view/382/272.

MILITÃO, Andrea Nunes. Inserção da terminologia “direito à aprendizagem” no arcabouço legal da formação de professores. Práxis Educacional, [S. l.], v. 17, n. 46, p. 152-176, 2021. DOI: 10.22481/praxisedu.v17i46.8921. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/praxis/article/view/8921.

MORAIS, Artur Gomes. Alfabetização e letramento na BNCC: problemas conceituais, lacunas e inadequações no que é prescrito para os dois anos iniciais do ensino fundamental. Debates em Educação, v. 12, p. 01-16, 2020.

MORAIS, Artur Gomes. Políticas e práticas de alfabetização no Brasil, hoje: precisamos continuar resistindo e aprendendo com Paulo Freire. Revista Brasileira de Alfabetização | ISSN: 2446-8584 | Número 16 (Edição Especial) – 2022

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Brasil, 2091: notas sobre a “Política Nacional de Alfabetização”. OLHARES - Revista Eletrônica do Departamento de Educação da Unifesp, São Paulo, 27 de novembro de 2019, v. 7 n. 3, p. 17-51. DOI: https://doi.org/10.34024/olhares.2019.v7.9980.

SAVIANI, D. Políticas educacionais em tempos de golpe: retrocessos e formas de resistência. Roteiro, [S. l.], v. 45, p. 1–18, 2020. DOI: 10.18593/r.v45i0.21512.

SAVIANI, Demerval. Política educacional brasileira: limites e perspectivas. Revista de Educação PUC-Campinas, [S. l.], n. 24, 2012.

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento: Caminhos e Descaminhos. Revista Pátio. Ano VIII, n. 29, fev./abr. 2004.

SOARES, Magda. Alfabetização: a questão de métodos. 1. ed. 3. reimpressão. São Paulo: Contexto, 2019.

Publicado

2023-12-22

Cómo citar

BORTOT, C. M.; SOUZA, K. R. Currículo e alfabetização: contradições da legislação em tempos neoconservadores . Revista Amazônida: Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas, [S. l.], v. 8, n. 1, 2023. DOI: 10.29280/rappge.v8i1.11799. Disponível em: //periodicos.ufam.edu.br/index.php/amazonida/article/view/11799. Acesso em: 23 nov. 2024.