“PESQUISAR COM
diálogos e percursos interdisciplinares”
Resumo
Articular saberes e práticas produzidos a partir das diferentes abordagens participativas requer a ousadia de romper com modelos tradicionais na produção científica, ampliando os sentidos e percursos para a produção do conhecimento. A participação se expressa numa prática cidadã que se sustenta em marcos teóricos, tipologias e modelos metodológicos, fundamentados em valores construídos no marco dos direitos humanos. Esta perspectiva nos remete para a importância de sistematizar o conhecimento em seu processo de construção, a partir de diferentes abordagens como a pesquisa participativa baseada na comunidade (CBPR), pesquisa-intervenção, pesquisa-ação, pesquisa participante, entre outras designações. Mais importante do que as nomenclaturas é a prática da “parceria” e a reflexão sobre essa prática de co-criação e do igual valor do conhecimento de cada parceiro, pois o importante é fazer pesquisas “com” parceiros da comunidade, membros, atores sociais e grupos. (WALLERSTEIN, 2018). A interdisciplinaridade e diversidade de autores e referências que tecem este campo se configuram como valores essenciais.
No contexto de sociedades complexas, faz-se necessário produzir conhecimento que considere as dimensões da vida social, perpassando por questões relativas à perspectiva de gênero e suas singularidades, feminismo, diversidade, identidade sexual, deficiência, trabalho e renda entre outras. A compreensão acerca das desigualdades sociais e relações assimétricas de poder constitui elemento essencial para a garantia de direitos e importante fundamento para as políticas públicas.
A potência e a capilaridade das abordagens participativas para a pesquisa nas diferentes áreas do conhecimento devem se constituir numa perspectiva crítica, fortalecendo a autonomia dos sujeitos, a participação, a valorização de movimentos instituintes, os processos de subjetivação e atribuir sentidos às experiências (MENDES, PEZZATO, SACARDO, 2016). Sua possibilidade de disseminação mediante parcerias e trabalhos colaborativos entre pesquisadores, profissionais dos serviços públicos e população de diferentes regiões e com diferentes expertises, favorece a ampliação do repertório e oportunidade da inserção do saber local e valorização da participação popular no delineamento de projetos e políticas públicas.
O presente número da Revista Eletrônica Mutações (Relem) pretende favorecer o debate sobre as diferentes possibilidades de pesquisar COM e não SOBRE ou PARA as pessoas, enfatizando questões e reflexões acerca das condições de vida, de ambiente, de saúde, de educação e de trabalho através de uma trama de relações entre os vários níveis de determinações sociais e em diálogo com produções teóricas acerca de experiências, políticas ou programas. Os diferentes saberes aprofundam a necessidade da escuta das pessoas e podem interferir nas ações e políticas, para que as mesmas sejam mais efetivas e democráticas. Partimos do pressuposto de que o conhecimento construído no processo participativo gera efeitos em todas as pessoas, com suas diversidades e pluralidades. E produzem, na perspectiva freireana, os inéditos viáveis (PARO et al, 2020) que emergem das mutações capilarizadas e contínuas na direção do bem viver.
Iniciamos esta edição com as contribuições de Paro (2023), brindando-nos com o poema/homenagem “Entre partidas e partilhas: um poema-homenagem a Carlos Rodrigues Brandão” (em memória); Wallerstein e Duran (2023) e o texto “Using Community Based Participatory Research to Address Health Disparities, Health Promotion Practice” / “Usando a pesquisa participativa baseada na comunidade para abordar as disparidades de saúde”, tradução de Nilza Rogéria de Andrade Nunes (2023); Oliveira, Figueiredo e Neto (2023) e seu trabalho artigo “Pesquisar COM como potência de aprendizagem social: uma experiência nas ciências ambientais junto a uma escola do campo” e Santos e Moraes (2023) e seu manuscrito “Feminismo de quem para quem? Repensando conceitos feministas a partir do PesquisarCOM”, bem como os manuscritos presentes nas demais seções desta edição. Assim, fica o convite para o apreço aos novos manuscritos e a expectativa em relação aos demais trabalhos que estarão dispostos ao longo dos meses de outubro e novembro de 2023.
Excelente leitura!
Referências
MENDES, Rosilda, PEZZATO, Luciane Maria e SACARDO, Daniele Pompei. Pesquisa-intervenção em promoção da saúde: desafios metodológicos de pesquisar “com”. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2016, v. 21, n. 6 [Acessado 1 Setembro 2022] pp. 1737-1746. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-81232015216.07392016>. ISSN 1678-4561. https://doi.org/10.1590/1413-81232015216.07392016.
PARO, César Augusto, VENTURA, Miriam e SILVA, Neide Emy Kurokawa e. Paulo Freire e o inédito viável: esperança, utopia e transformação na saúde. Trabalho, Educação e Saúde [online]. 2020, v. 18, n. 1 [Acessado 1 Setembro 2022] , e0022757. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00227>. Epub 19 Ago 2019. ISSN 1981-7746. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00227.
WALLERSTEIN N. Prefácio. In: TOLETO, RF et al. Pesquisa participativa em saúde: vertentes e veredas. São Paulo: Instituto de Saúde, 2018. p.11-26.
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