v. 7 n. 1 (2023): "O PODER POLÍTICO: HISTÓRIA DOS PARTIDOS, ASSOCIAÇÕES E MOVIMENTOS NO BRASIL (SÉCULOS XX E XXI)"
A discussão sobre a atualidade do político na História e Historiografia já está superada. Há mais de duas década historiadores e historiadoras vem realizando pesquisas no campo da História Política seguindo uma recente tradição encabeçado por dois livros considerados clássicos: “Por uma História Política”, organizado por René Rémond, e “Por uma História do Político”, de Pierre Rosanvallon.
Nesse sentido, não se restringiu apenas a uma atualização do campo: observa-se uma ampla diversificação metodológica, de temas, questões, fontes. Fruto desse processo, vimos um amplo movimento surgir ao colocar em cena projetos e pesquisas que versam sobre uma História Política intrínseca com a formação nacional, ideológica, cultural e social. A partir desse deslocamento, conseguimos vislumbrar nas páginas historiográficas a trajetória de novos agentes, movimentos sociais, organizações coletivas, práticas sociais, culturas associativas, partidos e forças políticas (grupos parlamentares, clubes, sindicatos, entidades, facções etc.) que se organizavam de acordo com seus interesses, ideologias, articulações e relações em torno da classe, gênero, raça e etnicidade. Não sem motivos que as mais variadas fontes demonstram que a organização dos movimentos dos trabalhadores/as, negros/as e indígenas, das mulheres, dos imigrantes e das elites se estabeleceram como força motriz para o debate público sobre direitos sociais e políticos no século XX e XXI.
Períodos e temáticas bastante populares entre os historiadores vem sendo revisitadas a partir dessas atualizações teórico-metodológicas da História Política, à luz de novas fontes ou de documentação antes ignorada pelos pesquisadores. Por outro lado, se a História é a ciência dos homens no tempo, como nos ensinou Marc Bloch, ela – a História – reflete sobre a atualidade e volta ao passado para questionar esse presente.
O dossiê “O poder político: história dos partidos, associações e movimentos no Brasil (séculos XX e XXI)” comprova as duas afirmações acima. O período varguista, a breve experiência democrática de 1945 a 1964, a Ditadura militar instalada a partir de abril de 1964 e até os anos recentes do desastroso Governo Jair Bolsonaro são escrutinados ao longo de 14 artigos – e a grande quantidade de textos demonstra igualmente a vitalidade e atualidade do político entre historiadores.
Por exemplo: o integralismo e o movimento integralista são alvos diretos de quatro artigos, além de perpassa outros textos. Isso advém de pensarmos o Brasil atual, dos anos recentes, indo em busca das raízes da nossa extrema-direita, do nosso fascismo, dos usos da violência como ferramenta política, do corporativismo, o papel da mídia na disseminação de ideias autoritárias e na criação de um inimigo imaginário. As eleições também merecem destaque. Entender por meio de outras fontes o processo eleitoral, as escolhas e a impossibilidade da escolha, as alianças partidárias na nossa República, convergindo para um diálogo profundo entre as História Social e Política.
Em resumo, os artigos aqui selecionados expõem a atualidade da História Política e as possibilidades de pesquisa nesse campo; expõe principalmente um contínuo e renovado interesse de jovens pesquisadores, sobretudo das regiões Norte e Nordeste, pela temática.
Organizadores:
Prof. Dr. Anderson Vieira Moura
Profª. Msc. Kívia Mirrana Pereira