APRESENTAÇÃO: DA EDUCAÇÃO QUE SE TECE

Autores

  • Fabiane Maia Garcia Universidade Federal do Amazonas
  • Fadul Moura

Resumo

O segundo número on-line da Revista Amazônida procura dar continuidade à divulgação de pesquisas no campo educacional. Nesta coletânea, poderão ser encontradas pesquisas que apresentam as temáticas voltadas à trajetória do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e as pesquisas desenvolvidas no âmbito das Secretarias de Educação do município e do Estado. Desse modo, são destaque o próprio programa, o processo de formação docentes em múltiplos aspectos e espaços, o trabalho pedagógico e a prática docente no interior da escola e, por fim, um levantamento sobre dois temas importantes no conjunto de produções acadêmicas e científicas no cenário nacional. A configuração disposta resulta da seleção de oito artigos apresentados no XVI Seminário de Pesquisa em Educação (SEINPE), em comemoração aos 30 anos do Programa. Assim, este número conta com colaborações de pesquisadores de distintas instituições como, por exemplo, o Conselho Estadual de Educação de Roraima, a Universidade Nilton Lins e Universidad Evangelica del Paragay. Tais pesquisas entrelaçaram fios que foram capazes de gerar a tessitura que agora se apresenta.

O texto intitulado Os fios e as cores na rede de conhecimentos do PPGE: 31 anos de criação, 30 de funcionamento é responsável pela abertura deste número da Revista Amazônida. Nele, recupera-se a trajetória do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas, destacando-o como marco na Pós-graduação da região Norte do país. As palavras da professora pesquisadora são importantes para o reconhecimento de uma produção acadêmica de fôlego, cuja solidez é fundamentada nas redes tecidas no decorrer dessa longa caminhada.

No campo da formação docente, temos três produções. A primeira, Da interpretação à compreensão: perspectivas dos processos cognitivos à formação docente, aduz reflexões desenvolvidas no âmbito do PPGE da UFAM. O campo epistemológico da pesquisa é composto pela Formação de Professores, pautada em uma trajetória que se inicia pela perspectiva das Ciências Cognitivas e da Neurociência e se estende até a Hermenêutica crítica. Visando analisar os processos cognitivos da emoção, o texto avalia os limites e os alcances da mediação dos conhecimentos e dos saberes desenvolvidos na formação contínua de professores da SEMED-AM. O segundo e terceiro textos, para além da formação docente, integram a temática da Educação Indígena. Em Um olhar sobre atividades para o ensino de leitura e escrita em escolas indígenas ocorre uma reflexão sobre a oralidade, a autoria e a natureza das atividades de leitura e escrita no contexto da disciplina Ensino e Aprendizagem da Leitura e da Escrita (EALE), ministrada aos alunos do curso de Formação de Professores Indígenas (FPI). Enfatiza-se a especificidade do trabalho pedagógico diferenciado, a considerar o fato de que os futuros professores que exercerão suas práticas direcionadas a comunidades bilíngues – além de falantes de sua língua, começam a aprender o português. Ao fim, busca-se uma reflexão sobre a replicação de métodos tradicionais, pois tais não abarcam a gama cultural diferenciada, pois carregam uma ideologia de reprodução que silencia a interlocução. Por sua vez, o texto Formação do educador indígena: instrumento de fortalecimento da Educação Escolar Indígena, fundamenta a discussão levantada com a premissa da escola indígena específica, diferenciada, bilíngue e comunitária, a qual foi verificada em Roraima no contexto do Projeto Magistério Indígena Tamîkan (PMIT). Os autores analisam a proposta de formação do curso e suas expectativas, reconhecendo a busca pela igualdade e equidade dos povos indígenas da região. Assim, apontam a necessidade dessa modalidade escolar intercultural, que é justificada pela responsabilidade social que tais professores assumem com os membros de etnia e comunidade.

Em relação ao processo de organização do trabalho e das práticas docentes, foi possível categorizar dois trabalhos que destacam o protagonismo do estudante e o trabalho com a agenda ambiental. Como uma linha a compor o PPGE, Participação estudantil e gestão democrática: apontamentos da legislação educacional apresenta os dispositivos das leis nº 9.394 (LDBEN/96) e nº 11.892 (criação dos Institutos Federais de Educação, Profissional, Ciência e Tecnologia), com o objetivo de fomentar uma discussão sobre o que se concebe como espaços de participação estudantil, ensejando a ressignificação desses espaços e mecanismos de suas operações no âmbito do Instituto Federal de Educação do Amazonas. Assim, o texto inclina-se para uma contribuição à identificação da participação estudantil na gestão escolar, especialmente no contexto da educação profissional de nível técnico. Do mesmo modo, o texto Educação ambiental em escolas municipais de Manaus/AM traz à baila resultados de pesquisas cujo corpus foi composto por escolas públicas, objetivando analisar o modo como a proposta da Educação Ambiental e da Agenda Ambiental Escolar definida pela Secretaria Municipal de Educação têm sido aplicadas nas respectivas escolas. No texto, são apresentados esclarecimentos sobre a equivocada abordagem conservadora acerca desse prisma, pautado não na atitude reflexiva e crítica, mas na paliativa e ineficaz proposta de sensibilização. Assim, o texto encaminha a interpretação de seu objeto visando à consciência crítica definida por Paulo Freire, ao passo que se afasta o modelo de tradicional da Educação Ambiental.

Por fim, os dois últimos trabalhos se debruçam sobre a importante tarefa de perscrutar as linhas e os interesses dos estudos e pesquisas em andamento, a respeito de importantes temas: a Educação Especial e a homofobia. Assim, as duas pesquisas assumem o caráter de busca por referenciais e por práticas de ensino voltadas a grupos específicos e que não recebem a atenção necessária. Em Atendimento educacional especializado, autismo e habilidades sociais em ambientes escolares: um estudo de revisão, os autores recorrem a uma estratégia de levantamento da produção científica sobre autismo e habilidades sociais no banco de Teses e Dissertações da CAPES e Scielo. Com os dados coletados, perfazem uma análise das interações sociais e dos programas de intervenção pedagógicas que oferecem possibilidades ao ensino e ao processo de aprendizagem à luz de uma prática inclusiva significativa para crianças diagnosticadas com autismo. No texto Mapeamento da produção científica sobre homofobia na escola, por sua vez, a característica do estudo bibliométrico ocorre com o manuseio da Plataforma Oasisbr. Os dados mapeados permitem aos autores abrir, com segurança, um espaço de discussão sobre onde se encontram os focos de estudos sobre homofobia e quais são os trabalhos que refletem a respeito do tema, direcionando-o ao contexto escolar. Com base nesses dados, propõem uma reflexão acerca do momento e do contexto escolar, em que os sujeitos reconhecem a diferença que carregam em si diante de uma sociedade heteronormativa.

Esses oito textos costuram o grande campo que a palavra latina educator (aquele que cria, alimenta) é que capaz de abarcar. Destarte, compreende-se a metáfora-conceito do texto-tecido, trazida pelas palavras da professora Rosa Mendonça de Brito no texto de abertura, tem a capacidade de compor uma unidade, mediante aquilo que essa reunião alimenta: o trabalho de pesquisas preocupadas com práticas educacionais e o que elas alimentam.

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Publicado

20-09-2017

Como Citar

MAIA GARCIA, F.; MOURA, F. APRESENTAÇÃO: DA EDUCAÇÃO QUE SE TECE. Revista Amazônida: Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas, [S. l.], v. 1, n. 2, 2017. Disponível em: //periodicos.ufam.edu.br/index.php/amazonida/article/view/3770. Acesso em: 21 nov. 2024.