Chamada para publicação-Dossiê: "Negacionismos históricos e Ensino de História"

2024-12-10

A Revista Canoa do Tempo, do Programa de Pós-Graduação em História da UFAM, convida pesquisadores a submeterem artigos ao dossiê temático “Negacionismos Históricos e Ensino de História”, organizado pelos professores Esdras Carlos de Lima Oliveira (UVA), Helena Ragusa Granado (UNESPAR-Campo Mourão) e Makchwell Coimbra Narcizo (PPGH - UFAM).

Este dossiê busca reunir análises críticas sobre as múltiplas formas de negacionismo — histórico, político, ideológico, científico, entre outros — e seus efeitos no campo historiográfico, no ensino de História e também na esfera pública considerando os espaços por onde se expressa e circula o conhecimento histórico, uma das preocupações da Didática da História e que   impacta fortemente no dia a dia da sala de aula.

Desde que inundados por uma chuva de discursos anti-intelectuais, anti-direitos humanos e anti-científicos, consequências da ascensão de uma nova direita que também ganhou força no cenário político social brasileiro a contar da primeira década deste século, o termo “negacionismo” tornou-se parte do vocabulário brasileiro — mais ainda com o advento da COVID19 — definido pelo Instituto Butantan como a recusa de aceitar evidências científicas. Essa recusa afeta diretamente (a autoridade) na atuação do professor não só enquanto um agente mediador do conhecimento mas também as experiências de seu eterno “fazer-se”, para não dizer sobre os censos que na ciência histórica já bastante debatidos entre historiadores, também se validam pela via da alteridade e da  empatia no desenvolvimento de uma compreensão histórica.

Há três pontos importantes para destaque: 1 —  a explosão literária de extrema direita a partir da década de 2000 com o lançamento de obras de Leandro Narloch (2009) e Olavo de Carvalho (1996) pavimentaram o negacionismo histórico e ajudaram a pavimentar a perspectiva negacionista sobre a área de História; 2 — Outro elemento importante é que o conceito de negacionismo extrapolou o ambiente acadêmico e de setores da imprensa para o grande público a partir da pandemia da Covid 19; 3 — Também importante são os debates sobre o Holocausto/shoah que incentivaram o uso do conceito de negacionismo, especialmente a partir de Henry Rousso (1993) em que o pesquisador forjou em 1987 esse conceito para substituir o inadequado termo “revisionismo”.

Soma-se a isso o investimento midiático da empresa Brasil Paralelo que transita entre um revisionismo rasteiro e negacionismo histórico. Nas salas de aula, alterando o cotidiano escolar o negacionismo histórico, por exemplo, não é uma realidade recente no Brasil, ele é um velho conhecido e  ganhou força nos últimos anos, com afirmações negando eventos históricos como o Holocausto, a Ditadura Militar e a escravidão.  Porém, as vias pelas quais vem se disseminando, contaminando de forma acelerada o saber histórico e produzindo novos enquadramentos da memória contrárias a uma “História Pública que queremos” vem promovendo, dentre outras, situações exaustivas de conflito e até mesmo de violência no espaço escolar.  As questões que perpassam pelos silêncios que remetem aos “passados difíceis” negando eventos históricos como o Holocausto, mas não só, também aqueles que nos são mais próximos, correm risco.

Desta feita, diante da insistência em negar o fato da catástrofe ou chamar  eventos já bastante debatidos e validados pela ciência histórica de controversos, procuramos neste dossiê por contribuições que versem sobre o negacionismo. De Pierre Vidal-Naquet (1988) ou Deborah Lipstadt (1994), até os enfoques mais recentes trazidos por Andreas Huyssen (2014), Aviezer Tucker (2008), Michal  Kopeček (2008). As provocações trazidas por Dan Stone (2003) em seu ensaio acerca de uma perspectiva mais aberta acerca dos estudos do Holocausto ou ainda os estudos trazidos por Elisabeth Roudinesco (2010), na obra “Retorno à Questão Judaica” ao analisar o impacto do revisionismo histórico na memória coletiva e na política contemporânea, especialmente em eventos traumáticos são fundamentais para entender a manipulação das narrativas históricas e suas consequências.

No contexto brasileiro, Francisco Carlos Teixeira da Silva e Karl Schurster (2022), Ronaldo Almeida (2021), Rodrigo Perez Oliveira (2020), Arthur Lima de Avila (2021), Patrícia Valim juntamente com Alexandre de Sá Avelar e Berber Bevernage (2021) e  Fernando Nicolazzi (2019), também tem contribuído para o debate significativamente. Importante destacar a abordagem de Enzo Traverso (2022) que alerta para o uso político desses discursos, especialmente por movimentos de extrema-direita. Não obstante, o diálogo com perspectivas de Christian Laville (1999)  que reflete sobre as batalhas de narrativas sobre a história na escola e além disso, os usos do passado com os negacionismos.

Esperamos também artigos que explorem o negacionismo científico, incluindo o antivacinismo, o formato da Terra e a negação de mudanças climáticas. Teóricos como Bruno Latour (2004), e Naomi Oreskes (2010), discutem as implicações dessas distorções no contexto político. Importante também nesse diálogo as contribuições de outras áreas do saber que tanto quanto a História nessa onda de “negação coletiva” como bem entende Marcos Silveira Buckeridge (2008). A reflexão sobre o impacto dessas práticas no ensino de História e as estratégias pedagógicas que podem ser adotadas para resistir a essas distorções são essenciais, garantindo uma educação crítica, pautada naqueles princípios mínimos que ao menos no que toca o saber histórico escolar deles, nunca deveriam ter saído, como é o caso da evidência histórica.

A organização e publicização de mais um dossiê que enfrente as questões incômodas aos profissionais e futuros profissionais da História, em especial aqui os que atuam diretamente com o público escolar pretende, debater o papel do professor de História na promoção de uma educação reflexiva que capacite os alunos a enfrentar o negacionismo e preservar a memória em suas várias formas. É urgente compreender como o negacionismo afeta o ensino das Humanidades e como os educadores podem responder a essa ameaça, abordando as lacunas existentes na formação docente.

Prazo para envio dos artigos: 31 de julho de 2025.

Normas para submissão se encontram no link.

Para mais informações ou esclarecimentos, entre em contato com a gente pelo e-mail: canoadotempo@ufam.edu.br