A vénia do incivilizado: análise crítica ao quadrinhos “Bomvento no Brasil”

Authors

  • André Saraiva Santos Universidade de Aveiro

DOI:

https://doi.org/10.38047/rct.v16.FC.2024.di12.p.1.36

Keywords:

Comics, Luso-Tropicalism, Indigenous Peoples

Abstract

José Ruy durante vários anos criou quadrinhos alusivos ao passado do povo português. Assegurava aos leitores que o conteúdo não era apenas fruto da fantasia e do gosto pela arte, mas sim produtos de análise histórica feita com rigor. Em Bomvento no Brasil surgem “índios” que não demonstram estranheza perante as caravelas, mulheres disponíveis, um chefe pouco perspicaz, tribos sem nome que se matam e se devoram sem motivo. A tudo isto assistem os Portugueses, incondicionalmente neutros mesmo quando atacados, prontos a construir uma irmandade inter-racial. Sem escravidão, sem escambo, sem violência. Quantos silêncios da alteridade pressupõe uma narrativa desta natureza e que tipo de contorcionismos são feitos na compilação de estórias para obter uma imagem digna do passado da nação que satisfaça um público português?

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Published

2024-12-31

How to Cite

Saraiva Santos, A. (2024). A vénia do incivilizado: análise crítica ao quadrinhos “Bomvento no Brasil”. Canoa Do Tempo, 16, 1–36. https://doi.org/10.38047/rct.v16.FC.2024.di12.p.1.36

Issue

Section

Dossiê - Pensar o presente e futuro da História Indígena