Sobre la revista

A Wamon - Revista dos alunos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas - é um periódico semestral que visa publicar artigos, resenhas, traduções, entrevistas, ensaios fotográficos, poesias e notícias objetivando a contribuição de um debate no campo antropológico. A revista aceita contribuições em fluxo contínuo, que serão submetidas aos/às editores/as e pareceristas externos. Serão aceitos trabalhos em português, espanhol, francês e inglês relacionados às temáticas antropológicas.

Avisos

Chamada para submissão ao dossiê temático Estudos etnográficos sobre finanças climáticas e sociais

2024-10-28

Como parte da resposta aos crescentes índices de desmatamento, aumento de gases de efeito estufa da atmosfera, perda de biodiversidade e efeitos das mudanças climáticas nos mais diversos biomas latinoamericanos, uma agenda de “finanças climáticas” tem ganhado força entre governos nacionais, organismos internacionais e organizações não-governamentais, com a emissão de títulos verdes, como créditos de carbono e títulos soberanos sustentáveis. Paralelamente, soluções financeiras também têm sido propostas para questões associadas à desigualdade de gênero e racismo, como é o caso da inclusão de mulheres no mercado de crédito e o investimento em “negócios de impacto”, que preveem retornos tanto sociais quanto financeiros. Trata-se de um processo de financeirização que atravessa diferentes domínios da vida, expandindo-se à medida que se propõe como solução para as desigualdades e efeitos planetários provocados pelo próprio sistema capitalista. Tal expansão é acompanhada de uma dimensão moral, que torna o crescente endividamento um problema individual, a ser resolvido com educação financeira. Aspirações vão moldando noções de pessoas empreendedoras e investidoras, atravessando desejos e imaginações de si.

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Vol. 9 Núm. 1 (2024): Dossiê "Ecologias Decoloniais: crises e insurgências para novos horizontes emancipatórios ecológicos"
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Os eixos reflexivos de raça, gênero e justiça ambiental, formulados nas linhas de uma ecologia decolonial, propiciam um olhar sistemicamente diverso, no exercício de estranhamento das relações estabelecidas através das estruturas coloniais. Assim, a lógica global operante dissemina no mundo moderno-colonial padrões e define as leituras espaciais mediante a maneira hegemônica e homogênea de produção e uso, depauperando outras possibilidades de envolvimento e uso ecossistêmico. Desta maneira, os ajustes das experiências tecidas em diferentes realidades disseminaram sistemas de pensamentos, comportamentos e práticas que produzem efeitos e ressonâncias em nossos contextos socioambientais e que nos atingem até hoje. Nesse sentido, os deslocamentos epistemológicos e ontológicos de uma ecologia decolonial nos orientam para adentrar em outras vias de acesso que permitam captar os sentidos e significados estabelecidos por diferentes comunidades originárias que elaboraram subjetivamente uma outra maneira de se relacionar e de se colocar no mundo a partir de seus repertórios de existir, que proporcionam outros elos de conexão e de envolvimento balizados em seus aspectos políticos, socioeconômicos, culturais e simbólicos, em âmbito local e global. Portanto, a proposta visa reunir pesquisas e reflexões dedicadas a debater os impasses, contradições e emergências de agendas contemporâneas que envolvam o meio ambiente, incluindo temas como crises e catástrofes ambientais, desigualdades raciais e sociais, políticas, conflitos de manejo e territorial, mudanças climáticas, equilíbrio ecossistêmico, biossegurança, poluição, ativismos e resistências que podem ser compreendidos como lócus em que se realiza as transformações históricas, tomando como ponto base os processos ecossistêmicos. Ademais, pretende-se receber textos das/dos pesquisadoras/es: negras (os) e indígenas, principalmente (Quilombolas, Ribeirinhos e Povos Originários) que dialoguem com as pautas das ecologias decoloniais.

Publicado: 2024-11-14

Resenha

Ensaio Fotográfico

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Povos originários, capitalismo e relações de poder na América Latina

As relações sociais na América Latina estão alicerçadas em assimetrias de poder oriundas do (mal)encontro colonial. A conquista do “novo mundo” tem marcado o surgimento de uma matriz de dominação estruturada pelo racismo e alimentada pelo capitalismo. O racismo surge assim como condição para a exploração dos territórios e das populações que o habitam (Quijano, 2000), dessa maneira, constitui-se como o eixo transversal da reprodução das práticas coloniais que se perpetuam nas sociedades latino-americanas atuais.

Os povos indígenas ao longo dos 520 anos de espoliação, viram suas terras e territórios transformando-se em mercadoria, seus rios virarem em esgotos (Krenak, 2015) e seus corpos subjugados aos interesses do capitalismo colonial. O Estado brasileiro, desde seus primeiros anos republicanos, caracteriza-se por fomentar e patrocinar frentes de expansão econômica sob a bandeira do desenvolvimento (Velho, 2013). No caminho dessas frentes estavam e estão as populações indígenas que vêm sendo exterminadas, deslocadas e constrangidas a trabalhar sob condições degradantes, inclusive com respaldo das instituições governamentais. Essas populações também elaboraram estratégias para se apropriarem da “arquitetura da dependência” (Turner, 1991) no intuito de afirmar certa autonomia econômica e política.  

Entretanto, estudos clássicos das ciências sociais têm recorrentemente omitido as relações de poder que atravessam as organizações sociais, econômicas e espirituais dos povos originários, em prol de uma visão a-histórica e um tanto essencialista dessas sociedades, analisando-as sob o espectro da sua “alteridade radical”. Para além do conceito de alteridade, Fabian (2006) aponta a noção de “outridade” (otherness) como mais adequada para encarar a alteridade não como uma visão espelhada de si, mas historizada, enquanto produto de violências, assimetrias de poder, decorrente do colonialismo. A “outridade” reflete nas representações dessas populações, que são vistas, ora como o ícone sublime da simbiose entre homem e natureza, e ora como aculturadas, absorvidas pelas sociedades nacionais e o sistema capitalista. Essas representações permeiam o pensamento nacional, na qual a história dos processos coloniais e as respostas e estratégias políticas e econômicas dessas populações tendem a ser apagadas.

Dentro dessa perspectiva, este Dossiê pretende receber artigos embasados em trabalhos etnográficos ou históricos que considerem os indígenas “de carne e osso” (Ramos, 1994) e que apreendam as relações de poder que atravessam a formação e afirmação dessas populações. Serão bem-vindos artigos que abordem, tanto perspectivas etnográficas quanto históricas: 1) as relações sociais de trabalho; 2) estratégias políticas e de manejo ambiental; 3) resistências e autonomias territoriais, que digam respeito às populações indígenas do continente americano. Visando a pluralidade de relatos e narrativas, temos especial interesse em trabalhos produzidos por acadêmicos e pesquisadores indígenas. Suas pesquisas são extremamente importantes para entendermos a sociedade brasileira e latino-americana desde uma pluralidade de perspectivas além de contribuir ativamente para a restauração da história (Palermo,2005).