Das ruínas às curas
Palavras-chave:
akroá-gamella, cura, seres insíveis e invisíveis, retomadaResumo
O presente trabalho se desenvolve no Território Taquaritíua, com o povo akroá-gamella, indígenas Jê que povoam a região da Baixada Maranhense no estado do Maranhão. O povo Akroá-Gamella marca sua presença no estado maranhense desde 1713 e no atual território desde 1749, mas após longos séculos de invasões, grilagem e fraudes cartoriais, a extensão que possuíam de 14 mil hectares diminuiu de forma significativa seu território tradicional, e hoje ocupam apenas 530 hectares. Após anos de um momento que descrevem como a fase que “viviam debaixo da pedra colocada pelo estado”, em 2010 retomam as articulações coletivas e partir desse ano realizam assembleias públicas de autodeclaração e começam as recuperações de áreas que estavam sob posse de não indígenas. Os espaços que sofriam com a devastadora interferência de fazendeiros e empresários são marcados pela de cura da terra, grande parte das antigas fazendas vão sendo consumidas pelas plantas, toda e qualquer imagem que assemelha aquele espaço com antigo fazendeiro vai sendo destruída, entram em ruínas e assume característica dos verdadeiros donos das paisagens, os seres encantados. Nesse processo as relações com as plantas ficam marcadas, pois relacionam constantemente a permanência das plantas em alguns espaços com a cicatrização dessa terra foi afetada e desencantada. O ressurgimento da mata nativa, das ervas e flores que nunca foram plantadas em algumas lagoas, como o espaço que está se recuperando dessas interferências.
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