Racialização e feminização da negligência
uma análise intersecional da violência e suas contribuições para a formação na psicologia e no serviço social
Resumo
Este artigo analisa a negligência na infância sob uma perspectiva interseccional, partindo da tese de doutorado "Famílias e expressões de negligências na infância: implicações de classe e gênero na proteção social". Argumenta-se que a responsabilidade pela negligência é desigualmente distribuída, recaindo de forma mais intensa sobre as mulheres. Essa feminização do problema é aprofundada com um recorte racial, mostrando como a pobreza e as desigualdades estruturais tornam mulheres negras duplamente vulneráveis. A sobrecarga no cuidado e a falta de apoio são frequentemente confundidas com falhas individuais. O texto questiona como essa visão enviesada impacta a atuação de conselhos tutelares e instituições de proteção, afetando o poder familiar. Concluímos que a formação em Psicologia e Serviço Social deve adotar a interseccionalidade como ferramenta para desconstruir esses vieses, promovendo uma prática profissional mais justa e eficaz.
Referências
ASSIS, S. G. et al. Sentidos da negligência na infância: a visão de Conselheiros Tutelares no Rio de Janeiro, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 14, n. 2, p. 187-196, 2009.
AZEVEDO, M. V. M. Violência e negligência na infância e adolescência: uma análise da atuação do Conselho Tutelar de Fortaleza. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2005.
BARROS, A. M.; BARROS, M. L.; FREITAS, M. C. Negligência na infância e adolescência: uma análise da visão de profissionais da assistência social. Serviço Social & Sociedade, n. 117, p. 164-187, 2014.
BERBERIAN, Thais Peinado. Serviço Social e avaliações de negligência: debates no campo da ética profissional. Serviço Social e Sociedade, v. 1, n. 121, p. 48-65, 2015.
CÓRDOVA, F. M.; BONAMIGO, M. A. Negligência familiar: uma análise da intervenção do Conselho Tutelar. Revista de Direito e Saúde, v. 2, n. 2, p. 145-160, 2012.
EGRY, Emiko Yoshikawa, et al. Compreendendo a negligência infantil na perspectiva de gênero: estudo em um município brasileiro. Revista Escola de Enfermagem, v. 49, n. 4, p. 556-563, 2015.
EGRY, P. P. et al. O gênero na produção da negligência familiar: um estudo com a categoria gênero no serviço social. Revista Katálysis, v. 18, n. 2, p. 558-570, 2015.
GARCIA, J. S.; OLIVEIRA, C. D. Negligência materna e suas consequências para o desenvolvimento infantil. Cadernos de Saúde Pública, v. 33, n. 8, p. 1-10, 2017.
GOMIDE, S. S.; GUIMARÃES, M. M.; MEYER, R. L. Negligência materna e paterna: um estudo comparativo. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 16, n. 1, p. 42-50, 2003.
GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 1-25, 2016.
LEWGOY, A.M.B. Competência profissional: dimensões do processo de supervisor de estágio. São Paulo: Cortez, 2009.
MACHADO, D. Interseccionalidade e Serviço Social: um diálogo necessário. In: XVII Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social, 2022, Rio de Janeiro. Anais… Rio de Janeiro: ABEPSS, 2022.
MATA, N. T.; SILVEIRA, A. G.; DESLANDES, S. F. Negligência parental em uma sociedade patriarcal: uma análise da perspectiva de gênero. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22,
- 9, p. 2887-2898, 2017.
MATA, Natália Teixeira. Famílias e expressões de negligências na infância: implicações de classe e gênero na proteção social. Tese (Doutorado em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2022.
MATA, Natália Teixeira. Negligência na infância: Uma reflexão sobre a (Des)proteção de crianças e famílias. O Social em questão, n. 45, p. 223-238, 2019.
NASCIMENTO, C. L.; MORGADO, M. F. O cuidado na família: uma análise do papel da mãe e do pai na atenção à criança. Estudos Feministas, v. 23, n. 1, p. 209-222, 2015.
SANTOS, J. B.; BAPTISTA, R. V.; CONSTANTINO, P. B. A maternidade de mulheres em situação de rua: um estudo sobre os desafios do cuidado. Revista Serviço Social & Sociedade, n. 140, p. 1-17, 2021.
SANTOS, T. C. M.; PASSOS, R. G. Interseccionalidade e Serviço Social: a perspectiva crítica de Lélia Gonzalez. Serv. Soc. Soc., São Paulo, v. 148, n. 3, p. 1-20, 2025.
SANTOS, Tenise Rosa Klein dos.; DIOTTO, Nariel. Feminização e racialização da pobreza: a realidade das mulheres negras no contexto brasileiro. RJLB, n. 4, p. 908-932.
SILVA, Juliana Marcia Santos, et al. A Feminização do cuidado e a sobrecarga da mulher-mãe na pandemia. Revista Femininos, v. 8, n. 3, p. 149-161, 2020.
SILVA, Welligton Magno da. Interseccionalidade como horizonte primordial à Psicologia Social: reflexões sobre diversidade epistemológica. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 44, p. 1-13, 2024.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Revista Eletrônica Mutações - RELEM

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.






