Caiu uma flor!
Abstract
(Fomo de Iemanjá do Ilê Axé Ialodê Oxum Karê Ade Omi Arô)
Caiu uma flor.
Silenciou uma voz.
Ela foi de encontro a nossa gente que é
preta, retinta, marginalizada.
É real, é macabro, é sofrido, é visceral!
É perturbador pensar que a cada dia e
em qualquer momento, lugar, tempo, espaço
ou mesmo instituição social.
Os nossos corpos racializados
inevitavelmente podem tombar no chão.
Sempre sendo sangrados e sacrificados.
Caiu uma flor.
E agora quem vai clamar pelo filho?
Aquele filho preto acometido e vilipendiado
por fazendeiros ou pelo Estado?
E agora quem vai orientar Ori dos Omoorixás?
Quem vai cuidar de nossos Arás?
Quem vai clamar por justiça a nossa ancestralidade?
Quem vai pedir por dignidade e respeito?
Quem vai lutar por bem-viver?
Quem vai liderar a comunidade do Quilombo?
Caiu uma flor.
E neste contexto de lágrimas,
Seguimos em lamento.
Mas, também continuamos em luta.
Transformamos diariamente
nosso luto em nossa luta.
Porque é preciso lutar, gritar, confrontar e
não aceitar que Mães Bernadetes e Cláudias Silvas sejam mortas.
É urgente lutar para que tantas outras pretas e pretos
não venham a ter seus corpos caídos no chão destes Brasis.
Para que não seja episódios comuns, rotineiros,
os nossos corpos dilacerados e jogados ao relento.
Repetidamente localizados às margens da exclusão.
Para que as políticas estatais genocidas
não nos toques e os olhares turvos
não insistam em nos criminalizar e encarcerar.
Caiu uma flor.
E eu digo respeito a todas as Ialorixás.
Respeito à todas as Mães Pretas.
Pois, elas seguem em luta
pelos seus e pelos nossos.
Elas sabem onde tem morado a nossa dor
E sentem nossas lágrimas a derramar.
Respeito aos povos de terreiro.
Respeito às comunidades tradicionais.
Respeitemos aqueles e aquelas que não se calam.
Caiu uma flor.
E nós vamos chorar e também vamos (re)existir.
Lutar e lutar até que esse massacre chegue ao fim.
Que o genocídio não seja uma palavra que acompanhe
as orações sobre nós.
Seguiremos em luta e no combate ao extermínio existencial.
Caiu uma flor.
Mas não parou a luta.
E quem disse que podemos parar?
A cada corpo caído no chão,
devemos e erguemos nossas vozes.
Não estamos sozinhos a ancestralidade segue conosco.
Mãe Bernadete se faz presente acompanhando-nos.
Caiu uma flor e continuamos em luta, em marcha e em vigília.
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