Chamada para publicação-Dossiê: "História Ambiental: interdisciplinaridade, transnacionalidade e desafios"
A Canoa do Tempo - Revista do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) convida os pesquisadores (as) de todo o país a enviarem artigos inéditos ao dossiê: "História Ambiental: interdisciplinaridade, transnacionalidade e desafios", organizado pelos professores Santiago Silva de Andrade (UNIR), Marcio Henrique Bertazi (UnB) e Roger D. Colacios (UEM).
A história ambiental, hoje em dia, pode ser considerada uma área consolidada no cenário historiográfico nacional. Duas décadas atrás essa situação era outra, uma área ainda em processo de reconhecimento pelos seus pares, que tateava nos corredores de arquivos e museus, pinacotecas e hemerotecas, em busca das diversas formas de documentação para o exercício de seu métier, além da abertura de pontes entre outras áreas de conhecimento, da entrada em eventos especializados, concretização de disciplinas em cursos de história etc.
Atualmente a história ambiental brasileira, apesar de não ter aberto mão da constante busca pela pesquisa inédita, fontes originais e estudos inovadores, já detém um corpo sólido de temas, fontes, aspectos teóricos-metodológicos,estando presente em grades curriculares e na oferta de cursos e minicursos, além de se constituir como linha de pesquisa em mestrados e doutorados de programas de pós-graduação de reconhecida excelência acadêmica. A sua vitalidade também está demonstrada na reiterada organização de simpósios temáticos em eventos de porte nacional e internacional nas últimas duas décadas, pelo menos. Os pesquisadores da história ambiental no Brasil - e sobre o Brasil - têm apresentado uma produção significativa, com livros, artigos e demais formatos de divulgação científica usuais no século XXI (documentários, blogs, vlogs, podcasts e afins).
À semelhança de outros movimentos historiográficos, a história ambiental também tem lidado com a complexa relação entre as gradações na escala de análise e as escolhas dos escopos de pesquisa. Nas décadas de 1980 e 1990 estudos pioneiros de amplo espectro analisaram aspectos da história brasileira a
partir do viés ambiental. Trabalhos como de Warren Dean e Jozimar Paes de Almeida trouxeram, respectivamente, uma nova perspectiva sobre as transformações de base antropogênica sofridas pela Mata Atlântica e uma abordagem inovadora sobre os canaviais paulistas em seu processo de deterioração ambiental e social. As primeiras décadas do século XXI assistiram não só à multiplicação das abordagens microanalíticas no campo da historiografia ambiental, mas também à diversificação dos seus objetos e fontes. Rios, florestas, plantations, parques urbanos e industriais, instituições e fronteiras, dentre outros, tornaram-se temas de pesquisa, tendo como horizonte, sempre, a busca pela compreensão dos processos, características, dinâmicas e influências que historicamente marcaram a relação entre seres humanos, não-humanos e todo o mundo natural.
Uma das contribuições mais importantes da história ambiental é a sua insistência no caráter interdisciplinar e transnacional da sua prática. O primeiro - a interdisciplinaridade - é imperativo derivado de um posicionamento epistemológico que busca superar os limites da dualidade que secciona e isola a experiência humana dos processos naturais e não-humanos, e que divide, rigidamente, os instrumentos de compreensão daquelas experiências entre ciências "humanas" e ciências "naturais". A transnacionalidade, por sua vez, é perspectiva subsidiada pela ideia de que há conexões naturais e ecológicas (como biomas e ecossistemas, por exemplo) que unem países e regiões, atravessam fronteiras internacionais - artificial e politicamente construídas - , articulam dinâmicas globais de exploração e apropriação dos recursos materiais e que exigem posturas metodológicas que não se rendam às balizas do Estado-Nação.
Este dossiê tem como objetivo coligir trabalhos voltados para a análise das relações entre as sociedades humanas e o meio ambiente, em perspectiva histórica. Serão bem-vindos textos que tenham como foco: a) as interações entre as sociedades humanas, suas instituições e o mundo natural; b) as discussões teóricas e práticas sobre a história ambiental e seus desdobramentos na historiografia brasileira e internacional; c) a utilização da história ambiental na educação através de novas interpretações, materiais didáticos, dentre outros; d) a relação entre as sociedades humanas e os animais não-humanos ao longo da história; e) estudos que abordem questões que ultrapassem a fronteira política entre nações, em abordagens comparativas, conectadas, globais e/ou atlânticas. Outras discussões que se enquadrem nestas aspectos aqui abordados também são bem vindas para compor o dossiê.
Prazo para envio dos artigos: 15 de outubro de 2023.
Normas para submissão se encontram no link.
Para mais informações ou esclarecimentos, entre em contato com a gente pelo e-mail: canoadotempo@ufam.edu.br