NOS CAMINHOS DAS ÁGUAS, A RETOMADA DA SAÚDE YANOMAMI

Autores

  • Gina Luisa Carvalho Boemer Fiocruz
  • Isabela Freitas Vaz FIOCRUZ
  • Daniel d'El de Oliveira Rei Pinto Fundacao Oswaldo Cruz
  • Pedro Basta Fundação Oswaldo Cruz
  • Jose Luiz Marmos Serviço Geológico do Brasil - CPRM
  • Alexandre Pessoa Dias Fundação Oswaldo Cruz
  • Paulo Cesar Basta Fundação Oswaldo Cruz

DOI:

https://doi.org/10.21170/geonorte.2024.V.15.N.51.168.190

Palavras-chave:

saude indigena, saneamento, agua potavel, tecnologias sociais, determinantes sociais da saude

Resumo

Historicamente, as taxas de mortalidade infantil nas crianças indígenas são desproporcionalmente mais altas que nas crianças pertencentes a outras categorias de cor ou raça, no Brasil. Aproximadamente 75% das mortes notificadas em crianças indígenas são por causas evitáveis, reduzíveis por ações preventivas, de diagnóstico ou tratamento. Dentre estas, destacam-se a doença diarreica aguda (DDA), a desidratação e a desnutrição. Este estudo visou analisar a qualidade das águas de rios, poços e torneiras utilizadas para consumo humano, nas comunidades Ariabú e Maturacá, na Terra Indígena Yanomami, Amazônia-Brasil. Realizou-se trabalho de campo em janeiro e setembro de 2023, momento em que foram realizadas entrevistas comunitárias, observação participante, e foram amostrados 26 pontos para análise da qualidade da água. Como referência, utilizamos os parâmetros definidos na Resolução Conama 357/2005 e na Portaria GM/MS 888/2021. Em campo, foram feitas medições in situ com sonda multiparamétrica, e medição de cloro residual livre nas torneiras. Nos mananciais superficiais (águas naturais), foram observados: pH >6; turbidez média, cor real e aparente altas, baixa concentração de nutrientes, temperaturas médias de 24ºC e oxigênio dissolvido baixo. Em alguns pontos, as concentrações de coliformes ultrapassaram 2419 NMP/100mL, excedendo muitas vezes o limite recomendado como seguro, estando inviável até para banho. Em águas de abastecimento, as análises revelaram que as amostras atenderam os parâmetros físico-químicos estabelecidos pela legislação. No entanto, o hábito da população local de consumir águas naturais, provenientes dos rios da região, onde foram detectadas altas concentrações de coliformes fecais, em pontos próximos das comunidades, revela a estreita associação entre o consumo de água contaminada e a elevada frequência de desidratação, desnutrição e diarreia nos territórios.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ALVES, F.T.A. et al. Mortalidade proporcional nos povos indígenas no Brasil nos anos 2000, 2010 e 2018. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, RJ, v. 45, n. 130, p. 691–706, set. 2021. DOI: 10.1590/0103-1104202113010.

BASTA, P.C.; ORELLANA, J.D.Y. Pesquisa sobre os determinantes sociais da desnutrição de crianças indígenas de até 5 anos de idade em oito aldeias inseridas no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami. Fiocruz, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)/Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), 2020.

BASTA, P.C. Garimpo de ouro na Amazônia: a origem da crise sanitária Yanomami. Cadernos Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 39, n. 12, 6p, 2023. DOI: 10.1590/0102-311XPT111823.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. RESOLUÇÃO CONAMA N° 357. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. 17 mar. 2005. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/cepsul/images/stories/legislacao/Resolucao/2005/res_conama_357_2005_classificacao_corpos_agua_rtfcda_altrd_res_393_2007_397_2008_410_2009_430_2011.pdf.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. RESOLUÇÃO CONAMA no 274. Define os critérios de balneabilidade em águas brasileiras. DOU: seção 1, 29 nov. 2000. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/aguas-interiores/wp-content/uploads/sites/12/2018/01/RESOLU%C3%87%C3%83O-CONAMA-n%C2%BA-274-de-29-de-novembro-de-2000.pdf.

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual da solução alternativa coletiva simplificada de tratamento de água para consumo humano em pequenas comunidades utilizando filtro e dosador desenvolvidos pela Funasa. Superintendência Estadual do Pará. Brasília: Funasa, 2017. 49p. Disponível em: https://www.funasa.gov.br/documents/20182/38937/Manual+da+SALTA-z+WEB.pdf. Acesso 28 abr. 2024.

BRASIL. Ministério da Saúde. PORTARIA GM MS No 28. Declara Emergência em Saúde Pública de importância Nacional (ESPIN) em decorrência de desassistência à população Yanomami. Seção 1, Brasília, DF, 20 jan. 2023a. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-gm/ms-n-28-de-20-de-janeiro-de-2023-459177294.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS n. 888, de 4 maio 2021. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 4 maio 2021. Disponível em: https://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Legislacoes/Portaria_Consolidacao_5_28_SETEMBRO_2017.pdf.

BRASIL. Ministério da Saúde. Missão Yanomami - Informe Mensal 04. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Brasília, 22 fev. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/svsa/coes/coe-yanomami/informe-diario/informe-mensal-n-04_-coe-yanomami_31-12-20231-publica.pdf/@@download/file.

BRASIL. Ministério da Saúde. Missão Yanomami - Informe Diário 08/02. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Brasília, 14 fev. 2023b. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/svsa/resposta-a-emergencias/coes/coe-yanomami/informe-diario/informe-diario-_08-02.pdf/view.

BRASIL. Ministério da Saúde. Missão Yanomami - Informe Mensal 02. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Brasília, 18 out. 2023c. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/svsa/resposta-a-emergencias/coes/coe-yanomami/informe-diario/missao-yanomami-informe-mensal-02/view. Acesso em: 22 nov. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Missão Yanomami - Informe Mensal 03. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Brasília, 21 dez. 2023d. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/svsa/resposta-a-emergencias/coes/coe-yanomami/informe-diario/missao-yanomami-informe-mensal-3/@@download/file.

CALDAS, A. D. R. et al. Mortalidade infantil segundo cor ou raça com base no Censo Demográfico de 2010 e nos sistemas nacionais de informação em saúde no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 33, p. e00046516, 2017. DOI: 10.1590/0102-311X00046516.

CARDOSO, A. M.; SANTOS, R. V.; COIMBRA JR, C.E.A. Mortalidade infantil segundo raça/cor no Brasil: o que dizem os sistemas nacionais de informação? Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, p. 1602-1608, 2005. DOI 10.1590/S0102-311X2005000500035.

DIAS, A.P. Tecnologia Social. In: Gomes, U.A.F; Pena, J.L.; Queiroz, J.T.M. (Org.). Dicionário de saneamento básico [livro eletrônico]: pilares para uma gestão participativa nos municípios. Belo Horizonte, MG: Projeto SanBas, 2022. p.717-723. Disponível em: https://sanbas.eng.ufmg.br/wp-content/uploads/2022/07/Dicionario-de-Saneamento-Basico.pdf. Acesso 27 abr. 2024.

MARINHO, G. L. et al. Saneamento básico em domicílios indígenas de áreas urbanas da Amazônia Legal, Brasil. Cadernos Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 29, p. 177-186, 2021. DOI: 10.1590/1414-462X202199010455.

MARINHO, G. L. et al. Mortalidade infantil de indígenas e não indígenas nas microrregiões do Brasil. Revista Brasileira de Enfermagem,[online], v. 72, n.1, p. 57-63, 2019. DOI: 10.1590/0034-7167-2017-0646.

MORAES, A.O.D.S.; MAGALHÃES, E.I.D.S.; ORELLANA, J.D.Y.; GATICA-DOMINGUEZ, G.; NEVES, P.A.R.. BASTA, P.C.; VAZ, J.D.S. Food profile of Yanomami indigenous children aged 6 to 59 months from the Brazilian Amazon, according to the degree of food processing: a cross-sectional study. Public Health Nutr. Jan;26(1):208-218. 2023. DOI: 10.1017/S1368980022001306

ORELLANA, J. D. Y. et al. Intergenerational Association of Short Maternal Stature with Stunting in Yanomami Indigenous Children from the Brazilian Amazon. International Journal of Environmental Research and Public Health, Basel, v. 18, n. 17, p. 9130, 30 ago. 2021. DOI: 10.3390/ijerph18179130.LEONETI, A. B.; PRADO, E. L.; OLIVEIRA, S. V. W. B. Saneamento básico no Brasil: considerações sobre investimentos e sustentabilidade para o século XXI. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 45, n. 2, p. 331-348, 2011. DOI: 10.1590/S0034-76122011000200003.

RAUPP, L. et al. Condições de saneamento e desigualdades de cor/raça no Brasil urbano: uma análise com foco na população indígena com base no Censo Demográfico de 2010. Revista Brasileira de Epidemiologia, [online], v. 20, n. 1, p. 1-15, 2017. DOI: 10.1590/1980-5497201700010001.

RAUPP, L. et al. Saneamento básico e desigualdades de cor/raça em domicílios urbanos com a presença de crianças menores de 5 anos, com foco na população indígena. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 35, n. Suppl 3, p. e00058518, 2019. DOI: 10.1590/0102-311X00058518.

TEIXEIRA, P. A. et al. Parasitoses intestinais e saneamento básico no Brasil: estudo de revisão integrativa. Brazilian Journal of Development, [online], v. 6, n. 5, p. 22867-22890, 2020. DOI: 10.34117/bjdv6n5-006.

Downloads

Publicado

2024-11-06

Como Citar

Carvalho Boemer, G. L., Freitas Vaz, I., de Oliveira Rei Pinto, D. d’El ., Basta, P., Marmos, J. L., Pessoa Dias, A., & Basta, P. C. (2024). NOS CAMINHOS DAS ÁGUAS, A RETOMADA DA SAÚDE YANOMAMI. REVISTA GEONORTE, 15(51). https://doi.org/10.21170/geonorte.2024.V.15.N.51.168.190