v. 7 n. 2 (2023): "MUNDOS DO TRABALHO: ASSOCIAÇÕES, LIDERANÇAS E GREVES NA AMAZÔNIA URBANA E RURAL"

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Queridos leitores, é com grande satisfação que apresentamos o dossiê Mundos do Trabalho: associações, lideranças e greves na Amazônia urbana e rural.

A proposta do dossiê surgiu com o intuito de reunir estudos que refletissem sobre a organização dos trabalhadores, suas lideranças e seus movimentos paredistas no espaço amazônico, seja na cidade ou no campo e em dimensões e abordagens historiográficas variadas.  Buscou agregar debates acerca da natureza e das particularidades das relações de trabalho na região, de como os trabalhadores se relacionavam entre si, com o espaço urbano e/ou rural e com outros setores da sociedade e poder público.

Entendemos que salientar a importância das categorias profissionais que movimentam e dinamizam a produção da riqueza (e que muitas vezes não compartilham dela) na Amazônia pretérita e presente é algo fundamental em função da ideia bastante propalada e equivocada, e que deve ser combatida, de que esta produção não ocorre pela ação do braço trabalhador (e sim pelo capital e/ou empregador).

Portanto, ressaltar as condições de trabalho e vida dos trabalhadores amazônicos, bem como suas lutas e conquistas, permitem visibilidade e compreensão das relações sociais e de trabalho estabelecidas, assim como a luta por cidadania.

O primeiro artigo do dossiê intitulado O lugar da racialização: sobre o associativismo marítimo de Manaus, 1905-1919, de Caio Julião Paião, focou nas experiências associativas dos marítimos, analisando como os processos de racialização, em grande medida, também se materializavam em hierarquização social, demonstrando que tais hierarquias não se davam apenas pelo viés de classe.

Já Betsy Bell Morais, no artigo Trabalhadores excluídos e trabalhadores grevistas sob a ótica do Commercio do Amazonas e Correio do Norte (Manaus, 1898-1911), tomou os respectivos jornais citados para, através deles, perscrutar os seus discursos e demonstrar como eles influenciavam pensamentos e comportamentos de diversos setores sociais em relação aos trabalhadores esquecidos e aos paredistas.

Na sequência, Luciano Everton Costa Teles, em artigo denominado A imprensa operária no Amazonas nos anos iniciais do século XX: caminho de pesquisa, debateu acerca da ligação dos trabalhadores com a imprensa, da relevância atribuída por eles a ela, enquanto ferramenta de comunicação e formação de opinião e consenso público, e de um possível caminho de pesquisa relacionando imprensa e espaço público.

Em seguida, temos o artigo A maldição da juta na Amazônia: história e memória de trabalhadores rurais de uma comunidade amazônica, de autoria de Everton Dorzane Vieira. Nele, o autor procurou, por intermédio da História Oral, utilizando entrevistas, examinar a história contada por ex-trabalhadores da juta entre os anos 1950-1980, suas experiências de trabalho e de vida.  

Ainda considerando a juta, temos o artigo de Matheus Rodrigues chamado A Fabriljuta e os elementos que constituíram a sua instalação e funcionamento na cidade de Parintins entre 1960-1980. Neste texto o autor tratou de analisar o contexto histórico e econômico da implantação da fábrica Fabriljuta em Parintins e os impactos sociais e de produção da juta na região.

E, por fim, dispomos do artigo Compadrio e famílias escravas em Manicoré no século XIX (1868-1880), feito por Thaiza Colares Magalhães, que pretendeu investigar, utilizando como fonte os registros de batismo da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, o sistema de compadrio arquitetado pelas famílias escravizadas na freguesia de Manicoré, interior do Amazonas, no contexto da economia da borracha.

São seis artigos que compõem o dossiê e que estabelecem importantes reflexões no campo do mundo do trabalho na Amazônia. Como é possível observar, os três primeiros artigos cronologicamente se situam nos anos finais do século XIX e iniciais do século XX, na Amazônia da Primeira República brasileira, e tomam a imprensa como fonte documental primordial na construção do conhecimento histórico.

Por outro lado, os dois artigos subsequentes, e que versam sobre a juta, localizam-se num recorte temporal mais recente, entre as décadas de 50 e 80 do século XX, e lançam mão da História Oral e documental. Por outro lado, o último artigo se fixa no século XIX e emprega como fonte os registros de batismo.

Além disso, os recortes geográficos (Manaus, Manicoré, Parintins, etc.) e os personagens no âmbito da Amazônia (Marítimos, gráficos, trabalhadores da juta, escravos, dentre outros) são diversificados. Da mesma forma que temos contemplados os espaços urbano e rural.

Dito isso, só temos a nos alegrar com o dossiê em tela e agradecer fortemente a todos que colaboraram direta ou indiretamente para a sua realização – autores, pareceristas, editores, designers, dentre outros.

É sempre trabalho coletivo.

Desejamos a todos uma ótima leitura.

Organizadores:

Prof. Dr. Luciano Everton Costa Teles, CEST/UEA.

Prof. Me. Moisés Dias de Araújo, SEDUC/AM.

 

Publicado: 2023-12-31

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