O extermínio epistemológico e os perigos do conceito de mínimo curricular no esvaziamento de conteúdos da Base Nacional Comum Curricular

uma proposta de superação

Autores

  • Luís Gomes de Lima Universidade Federal do Paraná (UFPR)

DOI:

https://doi.org/10.29280/rappge.v8i1.11894

Palavras-chave:

Currículo, Epistemologia, BNCC, Conhecimento Poderoso, Pedagogia dos Conteúdos

Resumo

O presente trabalho analisa o conceito de mínimo, presente no esvaziamento curricular na BNCC, e seu alinhamento com a precarização da formação docente no país. Busca-se demonstrar os riscos desse projeto educacional à formação e emancipação dos estudantes do ensino básico brasileiro, especialmente aos mais pobres. A metodologia empregada é qualitativa de vertente descritiva, segundo os pressupostos do materialismo histórico-dialético. Constata-se que não há intenção educacional no projeto em curso, mas sim motivações ideológicas-políticas-econômicas, impulsionadas por setores privatistas, com a única intenção de transformar a educação pública brasileira em ativo financeiro. As especificidades epistemológicas de cada disciplina escolar, juntamente com o conceito de conhecimento poderoso, são defendidas como meio de superação ao extermínio de conteúdos e disciplinas da BNCC.

Biografia do Autor

Luís Gomes de Lima, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Doutor em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade de São Paulo junto à Faculdade de Educação, onde pesquisou o papel da abstração no desenvolvimento de conceitos físicos por meio da Teoria dos Registros de Representação Semiótica (TRRS) de Raymond Duval. Mestre em Ensino de Física pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Pós Graduado em Metodologias do Ensino da Física pela Universidade Gama Filho. Licenciado em física pela universidade Metropolitana de Santos. Graduado em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Bandeirante de São Paulo. Graduado em Tecnologia Mecânica modalidade Projetos e Processos de Produção pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atualmente atua como professor-pesquisador na Universidade Federal do Paraná no Departamento de Educação, Ensino e Ciências.

Referências

ANFOPE. Manifesto da ANFOPE em defesa da educação e da democracia, 2020. Disponível em: http://www.anfope.org.br/wp-content/uploads/2020/03/1.-Manifesto-ANFOPE-em-defesa-da-educa%C3%A7%C3%A3o-e-da-democracia-01032020.pdf Acesso em 10 fev. 2023.

ARENDT, Hannah. A crise na Educação. In: Entre o passado e o futuro. Tradução: Mauro W. Barbosa. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.

BACHELARD, Gaston. La Philosophie du Non: Essai d’une philosophie du nouvel esprit scientifique. Paris: Les Presses universitaires de France, 1940.

BACHELARD, Gaston. La Formation de l’Espirit Scientifique. Paris: Pantheon Books, 1972.

BAUDELOT, Christian.; ESTABLET, Roger. L’école capitaliste en France. Paris: Maspero, 1971.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Resolução CNE/CP nº 2, de 22 de dezembro de 2017. Ministério da Educação, 2017.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018.

BRASIL. Resolução CNE/CP n. 2, de 20 de dezembro de 2019. Brasília, 2019.

DELORS, Jacques. (org.). Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. Tradução: José Carlos Eufrázio. São Paulo: Cortez Editora. Brasília: Unesco, 1998.

DUARTE, Newton. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana. Campinas: Autores Associados, 2000.

DUARTE, Newton. As pedagogias do aprender a aprender e algumas ilusões da assim chamada sociedade do conhecimento. Revista Brasileira de Educação, n. 18, p. 35-40, 2001.

DUARTE, Newton. Os Conteúdos Escolares e a Ressurreição dos Mortos: Contribuição à Teoria Histórico-Crítica do Currículo. Campinas: Autores Associados, 2016.

ENKVIST, Inger. Educação: Guia para Perplexos. Campinas: Kírion, 2019.

ENKVIST, Inger. La Educación en Peligro. Pamplona: EUNSA, 2010.

ENKVIST, Inger. A Boa e a Má Educação: Exemplos Internacionais. Campinas: Kírion, 2020.

FAZENDA, Ivani. Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro: Efetividade ou ideologia? São Paulo: Loyola, 1992.

FERRETTI, Celso João. A reforma do Ensino Médio e sua questionável concepção de qualidade da educação. Estudos Avançados, São Paulo, v. 32, n. 93, p. 25-42, 2018.

FREITAS, Luiz Carlos de. Os Reformadores Empresariais da Educação: Da Desmoralização do Magistério à Destruição do Sistema Público de Educação. Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 119, 2012, p. 379-404.

FILHO, Édil Carvalho Guedes; OLIVEIRA, Wesley Heleno de. A Distorção Neoliberal do Pensamento Econômico de Adam Smith segundo Noam Chomsky e Amartya Sem. Revista Dialectus, v. 26, n. 26, p. 74-93, 2022.

GATTI, Bernadete Angelina (coord.). Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO, 2009.

GIARETA, Paulo Fioravante; MARTINEZ, Flavia Wegrzyn Magrinelli. Apresentação Dossiê O Reformismo Curricular no Brasil e a Política de Formação de Professores. Revista Ensin@ UFMS, v. 2, n. 6, p. 12-17, 2021.

GIARETA, P. F.; SILVA, Felipe de Lima; GARCIA, Fabiola Xavier Vieira. A Produção de Conhecimento sobre a BNCC como Política Curricular: Caracterização das Publicações em Artigos, Teses e Dissertações. Revista Ensin@ UFMS, v. 2, n. 6, p. 19-33, 2021.

GIROTTO, Eduardo Donizete. Entre o cinismo e a hipocrisia: o novo ciclo de reformas educacionais no Brasil. Educar em Revista, v. 34, n. 71, p. 159-174, 2018.

GONÇALVES, Suzane da Rocha Vieira; MOTA, Maria Renata Alonso; ANADON, Simone Barreto. A Resolução Cne/Cp N. 2/2019 e os Retrocessos na Formação de Professores. Formação em Movimento, v.2, n.4, p. 360-379, 2020.

INSTITUTO ABRAMUNDO. Indicador de Letramento Científico: relatório técnico da edição 2014. São Paulo: Ação Educativa, 2014.

JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

KOSIK, Karel. Dialética do Concreto. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

LIMA, Luis Gomes. Um Modelo de Educação para um Projeto de Nação: A Educação de Qualidade para Redução das Desigualdades Sociais é Possível. São Paulo: Clube dos Autores, 2021.

LIMA, Luís Gomes. Conhecimento Poderoso e Ideias Fundamentais: Uma Proposta de Currículo em Espiral para a Física Escolar. Caderno De Física Da UEFS, v. 20, n. 2, p. 2301.1–28, 2022.

LIMA, Luís Gomes; CASTRO, Luciana Paula Vieira. Ideias Fundamentais para Construção Curricular: por uma pedagogia conteudista e um currículo baseado em saberes essenciais. In: VENTURI, Tiago; BARTELMEBS, Roberta Chiesa. (Org.). Educação, Ensino e Ciências: formação docente e (re)existência na Universidade Pública. 1ed.Curitiba: CRV, 2023, p. 169-192.

MACEDO, Jussara Marques de. Reconhecimento do notório saber e a inclusão excludente do professor na educação básica: qual o lugar da universidade na formação? RPGE – Revista on line de Política e Gestão Educacional, v. 21, n. 2, p. 1239-1259, 2017.

MAGALHÃES, Álcio. Crisóstomo; DA CRUZ, José Adelson. O “pacto pela educação” e o mistério do “todos”: estado social e contrarreforma burguesa no Brasil. Educação em Revista, v.34, n. 1, p. 1-24, 2018.

MARTINS, André Ferrer Pinto. Sem carroça e sem bois: breves reflexões sobre o processo de elaboração de “uma” BNCC. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 35, n. 3, p. 689-701, 2018.

MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política, Tomo I, v.1. São Paulo: Editora Nova Cultura, 1996.

MORTIMER, Eduardo Fleury. Conceptual change or conceptual profile change? Science & Education, v. 4, n. 3, p. 265-287, 1995.

MOZENA, Erika Regina; OSTERMANN, Fernanda. Uma revisão bibliográfica sobre a interdisciplinaridade no ensino das ciências da natureza. Ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências., v. 16, n. 2, p. 185–206, 2014.

OCDE. The State of Global Education: 18 months into the Pandemic, OECD Publishing, Paris, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1787/1a23bb23-en. Acesso em 10 fev. 2023.

OLIVEIRA, Sonia Maria Soares de; DA SILVA, Carlos Diogo Mendonça. Formação de Professores em Tempos de Retrocesso: O que dizem os documentos oficiais? Brazilian Journal of Development, , v.7, n.1, p.141-152, 2021.

OSTERMANN, Fernanda.; REZENDE, Flávia. BNCC, Reforma do Ensino Médio e BNC-Formação: um pacote privatista, utilitarista minimalista que precisa ser revogado. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 38, n. 3, p. 1381 – 1387, 2021.

PARO, Vitor Henrique. Administração escolar: introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2010.

PAVIANI, Jayme. Interdisciplinaridade: conceitos e distinções. Caixas do Sul: Educs, 2008.

PAZ, Mercedes Ruiz. La Secta Pedagógica. Madri: Grupo Unisón Producciones, 2003.

POMBO, Olga. Epistemologia da Interdisciplinaridade. Ideação – Revista do Centro de Educação e Letras da Unioeste, v. 10, n. 1, p. 9-40, 2008.

RIBEIRO, Darcy. Sobre o óbvio. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

RICARDO, Elio Carlos. Competências, Interdisciplinaridade e Contextualização: dos Parâmetros Curriculares Nacionais a uma compreensão para o ensino das ciências. Tese (Doutorado). Santa Catarina: UFSC, 2005, 257f.

RICARDO, Elio Carlos. Discussão acerca do Ensino por Competências: Problemas e Alternativas. Cadernos de Pesquisa, v. 40, n. 140, p. 605-628, 2010.

SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum a consciência filosófica. Campinas: Autores Associados, 1996.

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras Aproximações. Campinas: Autores Associados, 2003.

SAVIANI, Dermeval. Marxismo, educação e pedagogia. In: SAVIANI, D. & DUARTE, N. Pedagogia Histórico-Crítica e luta de classes na educação escolar. Campinas: Autores Associados, 2012.

SAVIANI, Dermeval.; DUARTE, Newton. Pedagogia histórico-critica e luta de classes na educação escolar. Campinas: Autores Associados, 2012.

SAVIANI, Dermeval. A defesa da escola pública na perspectiva histórico-crítica em tempos de suicídio democrático. Nuances: Estudos sobre Educação, v. 31, n.1, p. 03-22, 2020.

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva (1987). Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: A Pesquisa Qualitativa em Educação. São Paulo: Editora Atlas, 1987.

YOUNG, Michael. Knowledge and control: new directions for the sociology of education. London: Collier Macmillan, 1971.

YOUNG, Michael. O currículo do futuro: da “nova sociologia da educação” a uma teoria crítica do aprendizado. Campinas: Papirus, 2000.

YOUNG, Michael. Para que servem as escolas? Educ. Soc., v. 28, n. 101, p. 1287-1302, 2007.

YOUNG, Michael. Conhecimento e currículo: do socioconstrutivismo ao realismo social na sociologia da educação. Porto: Porto Editora, 2010.

YOUNG, Michael. O futuro da educação em uma sociedade do conhecimento: o argumento radical em defesa de um currículo centrado em disciplinas. Revista Brasileira de Educação, v. 16, n. 48, p. 609-810, 2011.

YOUNG, Michael. Superando a crise na teoria do currículo: uma abordagem baseada no conhecimento. Tradução: Leda Beck. Cadernos CENPEC, v. 3, n. 2, p. 225-250, 2013.

YOUNG, Michael. Teoria do currículo: o que é e porque é importante. Tradução: Leda Beck. Cadernos de Pesquisa, v. 44, n. 51, p. 190-202, 2014.

YOUNG, Michael. Por que o conhecimento é importante para as escolas do século XXI? Tradução: Tessa Bueno. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 46, n. 159, p. 18-37, 2016.

Publicado

09-10-2023

Como Citar

DE LIMA, . L. G. O extermínio epistemológico e os perigos do conceito de mínimo curricular no esvaziamento de conteúdos da Base Nacional Comum Curricular: uma proposta de superação. Revista Amazônida: Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Amazonas, [S. l.], v. 8, n. 1, p. 1–25, 2023. DOI: 10.29280/rappge.v8i1.11894. Disponível em: //periodicos.ufam.edu.br/index.php/amazonida/article/view/11894. Acesso em: 22 dez. 2024.