Reconhecimento de corpos e práticas urbanas na cidade do Kilamba em plena pandemia de covid – 19
DOI:
https://doi.org/10.29327/217579.6.2-12Resumen
Num sábado datado do dia vinte oito de novembro de dois mil e vinte, dia meio acinzentado, sai de casa com uma máquina fotográfica e caminhei por várias artérias da cidade do Kilamba em Luanda; sem compromissos ou ideias pré-concebidas, ao longo do caminho, lancei-me num desafio com o intuito de fazer um percurso que fosse em busca e ao encontro de corpos e práticas urbanas. Na medida que íamos alargando a marcha, na presença de um ar fresco e na suspeição da aproximação de uma chuva, deparamo-nos com corpos em movimento e repouso na paisagem urbana. Embora o flash da máquina fotográfica caminhe sempre na direção de iluminar paisagens, corpos e objetos, os resultados obtidos nesta etnografia na cidade, congelam e ampliam diferentes possibilidades de leituras.
Seguindo a sequência das imagens abaixo é possível contemplar diversos cenários, que vão desde corpos, objetos e práticas, estes corpos respondem disposições ligadas por um lado, a um quadro conceptual hierárquico, carregado do social e por outro lado, há um mapa que nos é familiar por sermos partícipes desta sociedade. A nossa posição ao contemplar estes corpos e às possíveis práticas, não nos coloca num lugar de privilégio, mas sim de incômodo, é o caminho que Gilberto Velho (1980) chama atenção no observando o familiar, o lugar do pesquisador deve estar atrelado na sua zona e nas possibilidades de relativizar ou transcender para colocar-se no lugar do “Outro” (VELHO, 1980, p. 127).
Este ensaio fotográfico pode ajudar-nos a refletir sobre categorias, que muitas vezes e a olho nu, contemplamos pessoas no cotidiano e automaticamente naturalizamos, com identidades fixas. Por detrás destas categorias naturalizadas por nós, quais são as histórias e trajetórias destas pessoas que rotulamos, só com um olhar? Se aplicarmos em frente uma guilhotina no social para poder separar os corpos reconhecidos e não reconhecidos, assim como às práticas urbanas a partir do nosso olhar, permitirá que abandonemos o senso comum e neste contexto o nosso olhar sobre os corpos gera significados e valores. O corpo diretamente ou indiretamente, independentemente da nossa posição social, estará sempre exposto a uma modelagem e a uma forma social, é o que, em quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Judith Butler (2015) fala, em uma ontologia do corpo e uma ontologia social. A captura destes corpos, através de uma etnografia na cidade, pode oferecer um leque de questões para pensarmos como por exemplo se articula o espaço produzido na cidade por estes corpos? Por outro lado, instiga-nos a olhar às fronteiras no espaço urbano que podem se traduzir em categorias relacionadas com a precariedade; a vulnerabilidade e ao pertencimento social, normas e forças articuladas pelo social e pela política.
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Citas
BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
VELHO, Gilberto. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 1980.