Entre a norma e a borda: uma análise da constituição da crença na medicina oficial como única prática legítima de cura no Brasil
Abstract
Este artigo propõe uma reflexão sobre o ‘empoderamento’ da medicina dita científica ou oficial e a marginalização das práticas populares de cura, a partir dos conceitos de crença, habitus e campo de Bourdieu (1979, 1980, 1987, 1989, 1996); e das contribuições teóricas de Wolf (1969, 2003), Goldman (1969) e Foucault (1979, 1987) sobre a instituição do poder social. Para tanto, apresenta o resultado de uma arqueologia dos processos de poder que asseguraram à medicina oficial o fim legítimo de diagnosticar e curar doenças no Brasil, e consequentemente desvela os procedimentos históricos que demarcam a gênese e ampliação das práticas de cura na modernidade. A partir dos conceitos de campo e habitus, o trabalho identifica e analisa tanto as estratégias que asseguraram o empoderamento da medicina oficial quanto às estratégias que marginalizaram as demais práticas de cura. Como resultado desse processo analítico, propõe entender as práticas não oficiais de cura como um rizoma (DELEUZE e GUATTARI, 1995) que, por operar nas bordas da norma, se reconfigura permanentemente como uma estratégia de resistência à tentativa de controle do habitus, operado pela medicina oficial. Ao final, o texto pondera que a ressignificação permanente dessas práticas talvez indique uma mudança na crença da ciência canônica como a única e legítima explicação possível para as questões da vida.Downloads
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