UMA ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA ALTA BACIA DO RIO PERICUMÃ/MA.

Autores

  • Regina Célia de Castro Pereira

Palavras-chave:

Geossistema, geofácie, Pericumã

Resumo

Este trabalho se refere a uma aplicação da abordagem geossistêmica proposta por Bertrand (2004) ao caracterizar a dinâmica das paisagens. O geossistema foi abordado por este autor como uma unidade de paisagem resultante da combinação de fatores naturais geomorfológicos, climáticos e hidrológicos que constituem o potencial ecológico e pelas biocenoses compreendendo flora, solos e fauna, constituindo a exploração biológica. Com base nesses pressupostos, caracterizou-se o geossistema na alta bacia do rio Pericumã, sob a perspectiva da interatividade dos componentes do geossistema e de suas diferentes temporalidades na referida bacia. Esta bacia é de grande importância para o abastecimento de água, navegação e produção de pescado na região da Baixada Maranhense, a mesma, vem passando por processos de desmatamento e queimadas dada a prática agrícola de roças ali desenvolvidas. No que diz respeito ao entendimento do geossistema, se considerou que o estado do Maranhão em função de sua localização geográfica no domínio equatorial, especificamente, em uma faixa de transição de dois domínios climáticos, o super-úmido e o semi-árido, apresenta diversidades paisagísticas que podem ser organizadas em mais de um geossistema, isto porque, o território do Maranhão com mais de 300.000 Km² de extensão, tem diferentes ecossistemas que favoreceram a multiplicação de variadas unidades de paisagem e diferentes dinâmicas. Considerando tal característica do estado e as dinâmicas da alta bacia do Pericumã, questionou-se sobre possibilidade de adaptação dos compartimentos do geossistemas segundo Bertrand (2004) na referida área e como a vegetação vem sendo conservada. Assim, objetivou-se analisar a dinâmica vegetal da alta bacia do Pericumã a partir do levantamento fitossociológico de um geofácie da Baixada Maranhense, para identificação das condições de conservação em que este nível do Geossistema se encontra. Realizou-se levantamento teórico em fontes bibliográficas primárias e secundárias. O conteúdo lido nestas fontes foi organizado em fichas de leitura e posteriormente fundamentaram as demais etapas. Ocorreram também jornadas de campo para levantamento de dados junto à população, registros fotográficos e identificação de espécies vegetais no levantamento fitossociológico. Nesse sentido realizou-se a técnica da pirâmide de vegetação em povoado tipo assentamento rural ocupado por lavradores que se auto-definem quilombolas. Esta técnica tem o objetivo de caracterizar a dinâmica vegetal em dada área, sendo feita delimitando-se inicialmente o sítio a ser investigado, em um local que represente o estado médio da formação vegetal. Em seguida, delimita-se um círculo de 10 m de raio. Com a área já delimitada, efetuam-se as anotações em uma ficha fitossociológica. No levantamento fitossociológico no campo ocorreu a listagem de plantas por estratos (rasteiro ou herbáceo, subarbustivo, arbustivo, arborescente e o arbóreo) e a avaliação da abundância-dominância, da sociabilidade da dinâmica de cada estrato. Os resultados contribuíram para a caracterização do potencial ecológico e da exploração biológica do geossistema Baixada Maranhense. Identificaram-se neste estudo os geofácies da Baixada Maranhense, entre os quais os campos inundáveis ou campos pastejados. Estes geofácies expandem-se ao sul do Golfão Maranhense ao longo da planície flúvio-marinha e flúvio-lacustre, a sua dominância inclui as formações de gramíneas nas áreas de inundação. Na área da alta bacia do Pericumã estas formações são representadas pelas espécies Panicum spp (canarana), Cyperus giganteus (junco), Machaerium lanatus (aturiá), Aronopus barbatus (capim cabeludo), Andropogon minarium (capim-açu) entre outras. Os campos inundáveis junto aos sistemas situados em áreas de terra firme apresentam estruturas e dinâmicas próprias, que expressam os detalhes ecológicos, as pulsações de ordem biológicas e as antropizações. Constatou-se com o estudo, que a abordagem geossistêmica contribui para superação dos estudos setorizados dos componentes da natureza, bem como favorece o entendimento da estrutura funcional e das conexões da mesma. O geossistema enquanto uma unidade taxonômica da classificação das paisagens trás consigo fatores de ordem abiótica, biótica e antrópica. Neste estudo foi possível adaptar as compartimentações do geossistema proposta por Bertrand como o potencial ecológico e a exploração biológica, apresentando, geofácies (campos de várzeas e terras firmes) e geótopos (balsedos). Na caracterização destes compartimentos dos Geossistemas, constatou-se que a vegetação é o elemento mais suscetível a pressões ambientais, como demonstrou a pirâmide fitossociológica das formações vegetais de campos e mata de várzeas. Concluiu-se que tal geofácie tem uma sensível conservação, sobretudo nas comunidades rurais definidas como quilombolas onde o uso da terra ocorre de forma coletiva. Esta forma de manejo da terra tem caráter mais sustentável, constituindo um dos aspectos a serem aprofundados em outras pesquisas no sentido de melhorias para o sistema praticado pelos lavradores do assentamento onde realizou-se o levantamento fitossociológico. Entretanto neste geofácie a suscetibilidade da vegetação às queimadas é alta, devido à intensidade da agricultura de corte e queima. Tal condição tem provocado a perda da biodiversidade dos buritizais, açaizais e dos balsedos. A paisagem tipicamente rural da alta bacia preserva o verde, apesar de ser um espaço antropizado por práticas rurais de caráter coletivo como a pesca e roça, ou ainda privatizado, como pastos e atividade comerciais e de serviços nas cedes municipais.

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Publicado

2012-12-05

Como Citar

Castro Pereira, R. C. de. (2012). UMA ANÁLISE GEOSSISTÊMICA DA ALTA BACIA DO RIO PERICUMÃ/MA. REVISTA GEONORTE, 3(4), 284–296. Recuperado de https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/revista-geonorte/article/view/1826