Apresentação
Resumo
EDUCAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DA DEMOCRACIA
Atualmente a educação atravessa um momento que nos remete a uma memória recente de lutas que outrora achávamos superado, uma vez que a luta agora é pela democratização da educação e do conhecimento e não mais para estabelecê-la como um direito. No entanto, o momento traz à tona um projeto de sociedade que tem no desmonte da educação um dos seus principais objetivos, seja por meio de reformas e programas, ou por meio de discursos que revelam crenças equivocadas e mentiras proclamadas que devido à ampla divulgação de boa parcela da mídia, corroboram para percepções negativas da sociedade civil sobre o nosso sistema público educacional e sobre os profissionais da educação.
Diante da ofensiva, recorre-se ao diálogo, a melhor forma de compartilhar o conhecimento e de articular e construir resistência. E é com esse espírito de compartilhamento e de construção de diálogos que a Revista Amazônida apresenta mais uma edição, trazendo como novidade a adoção do fluxo contínuo de publicação, que consiste na disponibilização dos artigos tão logo estejam prontos para a publicação, sem que haja a necessidade de esperar os outros artigos.
Esta edição traz para a apreciação dos leitores o movimento da Ciência Aberta, cuja proposta “vai além do compartilhamento e acesso a publicações e dados oriundos de pesquisas com financiamento público, na medida em que promove a abertura de todo o processo científico e a translação do conhecimento, amplia os impactos sociais e econômicos da ciência, reforçando o conceito de responsabilidade social científica” (SANTOS; ALMEIDA; HENNING, 2017, p.12).
E no que tange à responsabilidade social, a revista Amazônida tem na acessibilidade um preceito fundamental, por isso se compromete em promover práticas de publicações inclusivas, como o uso da fonte e o nome dos artigos nos arquivos em PDF, em consonância com as leis, com os decretos e com as diretrizes presentes na Cartilha de Acessibilidade na Web (2016). Também oferecemos acesso livre e imediato aos nossos conteúdos, seguindo o princípio de que disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona maior democratização do acesso ao mesmo.
Os dez artigos que incorporam esse volume trazem diversas temáticas bastante importantes para os debates educacionais contemporâneos, como é o caso da discussão sobre o projeto Escola sem partido, que teve grandes repercussões na mídia, o qual Frigotto (2017) chegou a se referir como “A esfinge que ameaça a escola e a sociedade brasileira”. Sobre esse assunto, Alexandre Polizel, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), que realizou um ensaio intitulado “Percepções do Movimento Escola sem Partido: currículos pastorais e o professor como catequista”, procura responder à seguinte indagação: “que percepções o (anti) Movimento Escola sem Partido (EsP) difunde sobre os currículos e como essa percepção atravessa a formação dos professores?
Seguindo a linha das atualidades, temos a abordagem do feminismo, bandeira de luta nacional e internacional, cuja discussão fomentada por Adriana Moura, da Universidade Estadual do Pará (UEPA), Isabell Neri e Vera Lúcia Lobato, da Universidade Federal do Pará (UFPA), tem como principal objetivo dialogar sobre as práticas educativas que atentam para a trama de opressões vivenciadas pelas mulheres no território amazônico, e se embasam no pensamento da ativista norte-americana Bell Hooks e do pedagogo brasileiro Paulo Freire, fato evidenciado no próprio título do artigo: “Por uma educação feminista na Amazônia: Diálogos entre Paulo Freire e Bell Hooks”.
Ainda sobre o contexto amazônico, as discussões ganham mais contornos e enfoques através do trabalho de Raidrine Viana e Helenice Aparecido, ambas da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). As autoras trazem uma temática evidenciada no próprio título do artigo: “A pedagogia de projetos desenvolvida em Manaus: um estudo de caso na escola indígena Kanata T-Ykua”. Ele apresenta resultados do projeto de pesquisa, desenvolvido no Programa institucional de bolsas de iniciação científica (Pibic), da Faculdade de Educação da UFAM, e objetiva analisar a relevância e o alcance da Pedagogia de Projetos (PP) na escola indígena Kanata T-ykua, seus conteúdos teóricos- -metodológicos, bem como a sua relação com a proposta pedagógica emanada da Secretaria Municipal de Educação de Manaus (SEMED).
Outro aspecto da educação no contexto amazônico abordado nesta edição são as estruturas dos prédios escolares. Ana Patrícia Sampaio e Jussara Maciel, ambas autoras do Instituto Federal do Amazonas (IFAM), construíram uma análise sobre a temática mencionada no artigo intitulado: “Patologias de prédio escolar na cidade de Manaus/ Amazonas”, cujo objetivo foi fazer uma análise técnico-formal de prédios que sediaram Grupos Escolares na cidade de Manaus no início do século XX, onde destacam a escassez de literatura relacionada ao campo escolar manauense e o movimento existente entre a instituição investigada (Grupo Escolar Barão do Rio Branco) e o urbanismo de Manaus, voltado especificamente para a arquitetura de prédios escolares.
Saindo do contexto amazônico, a revista dialoga com realidades educacionais de outras regiões do país, como as abordadas nos artigo intitulado: “Lugares políticos: Y si el outro no estuviera ali?”, de autoria da pesquisadora Jorgelina Tallei, da Universidade Federal de Integração-Latina Americana (UNILA), que traz uma experiência transfronteiriça e discute a temática da in/visibilidade de questões interculturais no campo de políticas públicas.
Temos, no artigo intitulado: “Processo de constituição do seu quadro de professores na Escola Industrial de Natal (1942-1968)”, desenvolvido por Nina Maria Silva, do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e Olivia Neta, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), uma análise de como, no período entre 1942 e 1968, a Escola Industrial de Natal (EIN) organizou o seu quadro de professores em vista ao atendimento e às demandas provenientes de um currículo voltado para a formação de alunos cumpridores das normas estabelecidas e, sobretudo, aptos ao exercício de uma atividade profissional.
Além de dialogar com o contexto nacional, a revista compartilha experiências de pesquisas de outros países, como podemos ler nos ensaios “En mundo com otros: uma experiencia de Hospital de Día Buenos Aires”, escrito por Gisela Súcari em parceria com outros pesquisadores, todos da Universidad de Buenos Aires, e também no artigo intitulado: “Fomentando el respeto en niños de educación básica: una estrategia vivencial”, de autoria de María Antonieta Terán, Paulina Perez e Sandra Sánches, todos pesquisadores da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). Também temos um terceiro artigo que analisa a realidade educacional em outro país, de autoria de pesquisadores peruanos, intitulado:“La memoria organizacional como factor de competitividad en las organizaciones”, escrito por Teresa Jesús Ríos Delgado, Sara Delfina Rosa Perrend Hernandez e Edelmira Del Rosario Mendonza Pua, todos da Universidade Maior de São Marcos (UNMSM).
Esse movimento de intercâmbio de conhecimento é revelador da importância de dialogar com outras realidades, pois isto possibilita a ampliação do acesso ao conhecimento científico produzido nos diversos contextos, contribuindo para um maior impacto da ciência, tanto socialmente quanto economicamente, reverberando em um maior comprometimento com a atividade de pesquisa e o compromisso da educação socialmente referenciada.