Edições anteriores
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Dossiê "Ecologias Decoloniais: crises e insurgências para novos horizontes emancipatórios ecológicos"
v. 9 n. 1 (2024)Os eixos reflexivos de raça, gênero e justiça ambiental, formulados nas linhas de uma ecologia decolonial, propiciam um olhar sistemicamente diverso, no exercício de estranhamento das relações estabelecidas através das estruturas coloniais. Assim, a lógica global operante dissemina no mundo moderno-colonial padrões e define as leituras espaciais mediante a maneira hegemônica e homogênea de produção e uso, depauperando outras possibilidades de envolvimento e uso ecossistêmico. Desta maneira, os ajustes das experiências tecidas em diferentes realidades disseminaram sistemas de pensamentos, comportamentos e práticas que produzem efeitos e ressonâncias em nossos contextos socioambientais e que nos atingem até hoje. Nesse sentido, os deslocamentos epistemológicos e ontológicos de uma ecologia decolonial nos orientam para adentrar em outras vias de acesso que permitam captar os sentidos e significados estabelecidos por diferentes comunidades originárias que elaboraram subjetivamente uma outra maneira de se relacionar e de se colocar no mundo a partir de seus repertórios de existir, que proporcionam outros elos de conexão e de envolvimento balizados em seus aspectos políticos, socioeconômicos, culturais e simbólicos, em âmbito local e global. Portanto, a proposta visa reunir pesquisas e reflexões dedicadas a debater os impasses, contradições e emergências de agendas contemporâneas que envolvam o meio ambiente, incluindo temas como crises e catástrofes ambientais, desigualdades raciais e sociais, políticas, conflitos de manejo e territorial, mudanças climáticas, equilíbrio ecossistêmico, biossegurança, poluição, ativismos e resistências que podem ser compreendidos como lócus em que se realiza as transformações históricas, tomando como ponto base os processos ecossistêmicos. Ademais, pretende-se receber textos das/dos pesquisadoras/es: negras (os) e indígenas, principalmente (Quilombolas, Ribeirinhos e Povos Originários) que dialoguem com as pautas das ecologias decoloniais.
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Dossiê "Gênero, raça e sexualidade: mulheres negras, homens negros, populações subalternizadas e LGBTQIA+ nas etnografias contemporâneas"
v. 8 n. 2 (2023)O dossiê reune textos de pesquisadores/as da Antropologia e de áreas afins que articulam em seus trabalhos a interseccionalidade entre raça, gênero e/ou sexualidade em etnografias realizadas desde o Norte e o Nordeste do Brasil. Entendemos que raça e os processos de racialização se configuram como construção social que se intersecciona com gênero, sexualidade e muitos outros marcadores sociais, promovendo sentidos próprios às constituições subjetivas e coletivas de grupos historicamente compreendidos como minorias sociais subalternizadas, constitutivas de socialidades contra hegemônicas.
Desse modo, convidamos ao diálogo com as categorias centrais propostas, tecendo conexões com outras questões, recortes e especificidades geográficas, bem como com categorias empíricas e analíticas diversas que ressoem com a proposta apresentada. Assim, mulheres e homens negras/as, sejam acadêmicas/os ou não, mães, pais, cis, trans, solteiras/os, casadas/os, pessoas com deficiência, periféricas, gordas/os, lésbicas, heterossexuais, bissexuais, idosas/os, jovens, faveladas/os ou não, são o foco de muitos trabalhos acadêmicos que articulam raça, gênero e sexualidade, visando a refletir sobre as mais diversas experiências desses grupos. Assim também, as pesquisas focam em outras formas de racialização e genderificação, podendo pensar nas populações indígenas, quilombolas, ciganas, de terreiro, população LGBTQIA+, etc. e seus processos de subjetivação. -
Etnografias Críticas e História Oral: coteorização, epistemologias das margens e descolonização de narrativas
v. 8 n. 1 (2023)O dossiê busca reunir pesquisas que combinem posturas etnográficas críticas e História Oral na construção de epistemologias compartilhadas/colaborativas entre os saberes de pesquisadoras/pesquisadores e as narrativas e enunciações de sujeitas/sujeitos vindos de movimentos sociais, políticos e culturais contemporâneos de áreas periféricas e marginais urbanas e rurais, particularmente aqueles que questionam a ordem societal hegemônica. Por postura crítica entendemos os debates surgidos em torno de um conjunto heterogêneo de epistemologias que aqui definimos como "divergentes” ou “radicais”. Interessam-nos, portanto, reflexões que partam da crítica ao colonialismo interno, busquem a substituição da “lógica instrumental” das ciências sociais por uma “descolonização” epistemológica e ensaiem possibilidades de estudos colaborativos, coteorização e/ou "encontros epistêmicos” e suas respectivas in(ter)ferências no entendimento da realidade histórico-social dos/das sujeitos/sujeitas e seus lugares.
Organizadores/a: Tony Leão da Costa, Amarildo Ferreira Júnior e Larissa Maria de Almeida Guimarães.
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Dossiê "Os conflitos ambientais nas lógicas das alteridades"
v. 7 n. 2 (2022)Os chamados conflitos socioambientais são um importante objeto de estudo para o pensamento crítico e a ação social latinoamericanos. De modo geral, e apesar de seus distintos matizes, os esforços de esquadrinhamento desses conflitos partem de uma linguagem analítica determinada por tradições euroamericanas. Ainda que sem discordar dessas análises, existem elementos sobre os conflitos socioambientais que excedem a tradição acadêmica e sua forma de produzir e analisar conceitos. Assim, interessa deslocar parcialmente o olhar analítico da matriz euroamericana para pensar sobre os conceitos e as ênfases reflexivas a partir das quais as organizações, pessoas e povos tradicionais (indígenas, afroamericanos e camponeses, entre outros) pensam e atuam nesses contextos.
Evocamos a memória de Berta Cárceres, coordenadora do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras, assassinada por liderar a oposição à construção do projeto hidroelétrico de Agua Zarca. Falando sobre o tema, Berta dizia saber, desde sempre, as dificuldades da luta, mas também sabia que venceriam, "o rio me disse", ela contava. Como entender o conflito da perspectiva daqueles que, como Berta, escutam o rio? A própria noção daquilo que faz um rio, ao menos a partir de certa perspectiva moderna, se vê transformada.
O esforço deste dossiê consiste em repercutir reflexões e mediações outras para conceitos como extrativismo, desenvolvimento, terra, território e conflito. Multiplicar e complexificar o que se entende por conflitos, seus contornos, e as formas particulares de composição de mundos - mundos que se organizam para evitar a sua destruição ou que se recriam em meio à ruínas.
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Dossiê "Povos Originários, Capitalismo e Relações de Poder na América Latina"
v. 7 n. 1 (2022)As relações sociais na América Latina estão alicerçadas em assimetrias de poder oriundas do (mal)encontro colonial. A conquista do “novo mundo” tem marcado o surgimento de uma matriz de dominação estruturada pelo racismo e alimentada pelo capitalismo. O racismo surge assim como condição para a exploração dos territórios e das populações que o habitam (Quijano, 2000), dessa maneira, constitui-se como o eixo transversal da reprodução das práticas coloniais que se perpetuam nas sociedades latino-americanas atuais.
Os povos indígenas ao longo dos 520 anos de espoliação, viram suas terras e territórios transformando-se em mercadoria, seus rios virarem em esgotos (Krenak, 2015) e seus corpos subjugados aos interesses do capitalismo colonial. O Estado brasileiro, desde seus primeiros anos republicanos, caracteriza-se por fomentar e patrocinar frentes de expansão econômica sob a bandeira do desenvolvimento (Velho, 2013). No caminho dessas frentes estavam e estão as populações indígenas que vêm sendo exterminadas, deslocadas e constrangidas a trabalhar sob condições degradantes, inclusive com respaldo das instituições governamentais. Essas populações também elaboraram estratégias para se apropriarem da “arquitetura da dependência” (Turner, 1991) no intuito de afirmar certa autonomia econômica e política.
Entretanto, estudos clássicos das ciências sociais têm recorrentemente omitido as relações de poder que atravessam as organizações sociais, econômicas e espirituais dos povos originários, em prol de uma visão a-histórica e um tanto essencialista dessas sociedades, analisando-as sob o espectro da sua “alteridade radical”. Para além do conceito de alteridade, Fabian (2006) aponta a noção de “outridade” (otherness) como mais adequada para encarar a alteridade não como uma visão espelhada de si, mas historizada, enquanto produto de violências, assimetrias de poder, decorrente do colonialismo. A “outridade” reflete nas representações dessas populações, que são vistas, ora como o ícone sublime da simbiose entre homem e natureza, e ora como aculturadas, absorvidas pelas sociedades nacionais e o sistema capitalista. Essas representações permeiam o pensamento nacional, na qual a história dos processos coloniais e as respostas e estratégias políticas e econômicas dessas populações tendem a ser apagadas.
Dentro dessa perspectiva, este Dossiê recebeu artigos embasados em trabalhos etnográficos ou históricos que considerem os indígenas “de carne e osso” (Ramos, 1994) e que apreendam as relações de poder que atravessam a formação e afirmação dessas populações.; artigos que abordam tanto perspectivas etnográficas quanto históricas: 1) as relações sociais de trabalho; 2) estratégias políticas e de manejo ambiental; 3) resistências e autonomias territoriais, que digam respeito às populações indígenas do continente americano.
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Dossiê "Entre as máscaras: olhares etnográficos sobre o mundo em pandemia"
v. 6 n. 2 (2021)Que reflexões as imagens da pandemia podem trazer, pelo olhar da antropologia, sobre as experiências de viver, estar, coabitar, enclausurar e reintegrar cotidianos reconfigurados pela emergência do coronavírus em diferentes cidades ao redor do mundo? A proposta desse dossiê é uma contribuição sobre o que as subjetividades imagéticas podem revelar sobre as particularidades e modos de enfrentamento dessa crise sanitária em contextos locais. A temática é ampla e dinâmica. Essa mudança acompanha a trajetória das populações na busca de reformulações e adaptações de seus “modos vivendi” atravessado pelo espectro de alcance do vírus. Há um contínuo processo de reconfiguração e ocupação dos espaços, sejam coletivos ou no âmbito dos confinamentos individualizados. A expressividade das máscaras de proteção individual utilizadas durante a pandemia podem sinalizar uma estratégia coletiva de proteção contra a covid 19. Da mesma forma, a simbólica derrubada de monumentos históricos (de heróis colonizadores e protagonistas do tráfico e escravidão africana) por movimentos antirracistas que ascenderam durante a pandemia, devido a morte do norte americano George Floyd, podem incluir reflexões sobre a agência da cultura material. As narrativas imagéticas desse período propiciam análises acerca de rupturas estruturais nos diversos modos de vida e resistências das sociedades em todo planeta, interligando o coletivo ao indivíduo como marca de um processo histórico-social. O formato esperado para contribuições desse dossiê é livre, em uma perspectiva da antropologia visual e urbana em contextos diversos. Grafismos, pinturas, ensaios fotográficos, narrativas de arte-instalações, estudos comparativos de imagens jornalísticas, textos, entre outras abordagens etnográficas fazem parte da proposta dialógica pretendida para esta edição.
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Antropologia Urbana na Amazônia: des-centrando escalas, genealogias e experiências de cidade
v. 6 n. 1 (2021)Organizadores/as:
Telma Bemerguy PPGAS/UFRJ-MN
Thiago Oliveira PPGAS/FFLCH-USP