Chamada de artigos ANTROPOLOGIA URBANA NA AMAZÔNIA: NEGOCIANDO ESCALAS, EXPERIÊNCIAS DE CIDADE E LIMITES DO URBANO
Chamada de artigos
ANTROPOLOGIA URBANA NA AMAZÔNIA: NEGOCIANDO ESCALAS, EXPERIÊNCIAS DE CIDADE E LIMITES DO URBANO
Vol. 6 N. 1 – 2021
Submissão de artigos de 01/10/2020 a 31/03/2021
Organizadores:
Telma Bemerguy (PPGAS/ UFRJ-MN)
Thiago Oliveira (PPGAS/FFLCH- USP)
A antropologia urbana no Brasil tem se caracterizado pelo esforço de pensar as dinâmicas de sociabilidade, desigualdade e estratificação a partir da relação que as pessoas estabelecem com o espaço da cidade e da configuração de estilos de vida urbanos. Caracterizada como uma produção de longa duração, dentro da antropologia, esse subcampo disciplinar encontra seus antepassados mais distantes nos estudos de comunidade e mudança social iniciados na década de 1930, tendo como um de seus marcos as análises realizadas pela Escola de Manchester sobre as relações políticas e culturais resultantes da mobilidade laboral e da reorganização do mundo colonial em sociedades africanas (GLUCKMAN, 1987; VINCENT, 1987). Em alguma medida, essas tensões encontravam-se também nas sociedades euroamericanas, que experimentavam um intenso processo de expansão e urbanização como efeito de processos de industrialização. Nesse caso, a partir das contribuições da Escola de Chicago, autores como Park (1979) apresentaram um modelo de estudo das configurações da sociedade urbana centrado em um diálogo com disciplinas próximas, como a psicologia social e a história e propuseram o urbanismo como elemento central de análise social, em estreito diálogo com a produção de língua alemã de autores como Weber e Simmel. Nessa proposição havia a ideia de que a cidade era um elemento de libertação da vida humana a partir da conflagração de novas possibilidades, ainda que essas possibilidades coocorressem em um ambiente caótico. Esse ambiente era usualmente descrito a partir do modelo de ecologia humana, pautado pelo modo como indivíduos particulares se posicionavam e eram posicionados no espaço da cidade, marcando também o aparecimento de certos “desvios”, “problemas” ou “patologias sociais”.
Se por um lado os métodos empregados pelos estudiosos de Chicago provocaram uma discussão sobre os limites disciplinares entre antropologia e sociologia para o estudo urbano e sobre as dificuldades dessa aproximação, por outro, os conceitos pouco objetivos das pesquisas de Manchester trouxeram dificuldades à apropriação dos trabalhos pelo debate antropológico sobre experiências do urbano. No primeiro caso, a ênfase na adoção de métodos quantitativos abstratos da sociologia parecia denunciar a pouca densidade etnográfica de alguns trabalhos. No segundo, a cidade aparecia como um cenário, poucas vezes refletido em suas dimensões conceituais e rendimento analítico.
Ainda que apresentassem problemas, essas tradições repercutiram na conformação de uma tradição de estudos urbanos no Brasil. É ao longo da década de 1970 que os estudos urbanos começam a ganhar espaço no debate antropológico, não tanto pelo interesse em analisar de maneira abstrata os efeitos e significados de se viver na cidade, mas, em grande medida, pelo desejo em refletir sobre sujeitos e populações marginais urbanas que, naquele contexto, assumiram posição de destaque como atores políticos e da visibilização da ação de formas políticas organizadas, como movimentos sociais urbanos (CARDOSO; 1978; DURHAM, 1986). Esse momento também foi marcado por um intenso debate sobre os objetivos e projetos do campo de estudos urbanos, o qual se refletiu em tentativas várias de nomeação do projeto epistemológico do campo e em tentativas de circunscrição de seu objeto de pesquisa: antropologia das sociedades complexas, antropologia da cidade, antropologia na cidade, antropologia urbana. Um campo de disputas por definições que, tal como nos demonstra Low (2014) e Pardo e Prato (2012), permanece sendo atualizado no cenário contemporâneo.
No contexto brasileiro, os debates deste momento inicial levaram ao surgimento de duas grandes linhagens, as quais caracterizaram a formação da subdisciplina ao longo das décadas seguintes. As abordagens centradas em camadas médias, indivíduo e sociabilidade no contexto carioca (VELHO, 1973; 1974; 1981), e aquelas centradas em grupos populares a partir do estudo de experiências de sociabilidade e lazer na metrópole paulistana (MAGNANI, 1984; 1996). Não se pode dizer que haja uma unidade temática na constituição de ambos os trabalhos e aqueles que partiram deles. Ao contrário, melhor seria dizer que, apesar das diferenças, existe algo de similar na forma como ambas linhagens têm chegado às cidades, ao urbano e aos seus enquadramentos, os quais refletem, em grande medida, os grandes cenários urbanos onde a maior parte dos pesquisadores do campo têm atuado para a construção de suas análises. Nesse cenário, a noção de escala tem sido produzida em função da grandeza das metrópoles, produzindo uma espécie de consenso não dito que marca profundamente as análises de relações, processos, redes e dinâmicas cotidianas etnografadas, os quais não raras vezes parecem ser apresentados como elementos micro sociológicos de uma unidade de análise maior.
A questão que se coloca, no entanto, é: dada a centralidade que ambas as correntes dão para o estudo de grandes centros urbanos, o que acontece com outras realidades empíricas que não se adequam ao modelo interpretativo produzido? Quais os limites e possibilidades do instrumental produzido para lidar com experiências de cidade de pequena escala? Em última instância, quais contextos têm sua configuração de urbano e experiência de cidade analiticamente ocultados em favor de tais recursos? Que cidades é possível fazer aparecer quando atendemos à sugestão metodológica básica de abdicar das noções pré-estabelecidas do que seja a cidade e o urbano, tal como preconizada por Agier (2011)? E mais que isso, que instrumentos temos a disposição para descrevê-las e interpretá-las etnograficamente?
Em última instância, é preciso restabelecer a prerrogativa óbvia que um tema não é mais ou menos complexo a despeito da dimensão da escala em que se apresenta. Sendo assim, cidades pequenas podem apresentar experiências sociais sofisticadas e complexas que devem ser interpretadas à luz de instrumentos adequados a suas particularidades, através de um diálogo crítico com aspectos teóricos e metodológicos que consagram a disciplina e o campo da Antropologia urbana em particular. É importante lembrar que investigações realizadas em cidades de menor escala fora do eixo centro-sul não necessariamente promovem uma ruptura com as tradições hegemônicas disponíveis, seja sobre a cidade, seja sobre os conteúdos que se vislumbra a partir dela (BEMERGUY, 2019). De todo modo, só passaremos a avançar sobre as obliterações destacadas quando nos movimentarmos a tentar e a experimentar novos enquadramentos e essa proposta de dossiê é um convite a uma reflexão nessa direção.
Ao considerarmos tais questões é possível reconstituir uma extensa trajetória disciplinar que tem apresentado as cidades pequenas e aquelas fora dos grandes eixos urbanos como elemento de discussão e análise. É digno de nota a etnografia de Charles Wagley (1957) sobre comunidades urbanizadas na Amazônia e as correlações entre a presença de homens e mulheres em sua relação com o ambiente e produção de mecanismos de hierarquização social. A dinamização dessa produção, contudo, só foi possível a partir dos projetos de expansão do ensino universitário e descentralização dos centros acadêmicos, tendo como efeito também uma distribuição mais ampla de recursos para realização de pesquisas e de formação de pesquisadoras e pesquisadores (COSTA, 2009a; BEMERGUY, 2019).
A partir desse tensionamento - que é tanto epistemológico quanto político - nos espaços institucionais de produção de conhecimento, ao longo das décadas recentes tem se identificado um aumento na produção de reflexões no campo da antropologia urbana que se centram sobre experiências de cidades interioranas ou longe dos grandes centros urbanos nacionais. Na Amazônia, essa produção tem dialogado com aspectos mais amplos da experiência urbana e das dinâmicas culturais, com etnografias que tematizam gênero e sexualidade (NASCIMENTO, 2019; OLIVEIRA e NASCIMENTO, 2017; GONTIJO e ERICK, 2017; REIS, 2018), experiências transfronteiriças (CUNHA, 2019; OLIVAR, 2019), festas (COSTA, 2009b; NOLETO, 2018), religião (MAUÉS e VILLACORTA, 2008; FIGUEIREDO, 2008; PEREIRA, 2017; MOURA, 2017), etnicidade (LASMAR, 2008; ANDRELLO, 2006; ANDRADE e MAGNANI, 2013), Estado, política e mobilizações sociais (LACERDA, 2014; LACERDA, 2015); entre outros trabalhos da grande área das ciências sociais que têm tratado das particularidades das cidades amazônicas, abordando a relação rural/urbano, cidade/floresta, cidade/rio, estrada/rio (CASTRO, 2009; TRINDADE JÚNIOR e TAVARES 2008; SCHMINK e WOOD, 2012; PEREIRAb, 2012) para refletir - muitas vezes indiretamente - sobre a constituição da malha urbana da região.
A partir de tais questões, o presente dossiê tem como proposta reunir reflexões de natureza etnográfica ou teórica que se dediquem a pensar as configurações do urbano e experiências de cidade na Amazônia, seja em perspectiva histórica ou contemporânea. Interessa-nos trabalhos que tematizem (a) processos de urbanização da Amazônia, (b) a avaliação do instrumental metodológico clássico para análises em tais contextos, (c) a relação entre Estado e produção de cidade, d) o lugar dos processos coloniais e dos grandes projetos contemporâneos de infraestrutura na conformação das cidades amazônicas, e) o impacto desses processos na conformação da vida em pequenas e médias cidades da região (d) a correlação entre marcadores sociais da diferença e segregação urbana na Amazônia contemporânea, (e) os dispositivos políticos de produção de territórios (região, comunidade, territórios da cidadania, distritos, etc.) no contexto das cidades amazônicas f) experiências de sociabilidade, lazer, trabalho e religiosidade em pequenas e médias cidades da região.
CONVOCATÓRIA DE ARTICULOS
ANTROPOLOGÍA URBANA EN LA AMAZONÍA: ESCALAS, EXPERIENCIAS DE LA CIUDAD Y LÍMITES DEL URBANO
Vol. 6 N. 1 – 2021
Submissão de artigos de 01/10/2020 a 31/03/2021
Organizadores:
Telma Bemerguy (PPGAS/ UFRJ-MN)
Thiago Oliveira (PPGAS/FFLCH- USP)
La antropología urbana en Brasil se ha definido por el empeño en pensar las dinámicas de la sociabilidad, la desigualdad y la estratificación en el país basándose en estudios sobre la configuración de los estilos de vida urbanos y sobre la relación que las personas establecen con el espacio de la ciudad. Con reflexiones de pasado longevo, el subcampo de la antropología urbana tiene antepasados lejanos, manteniendo como uno de sus puntos de referencia los estudios sobre comunidades y cambio social realizados por los antropólogos de la Escuela de Manchester en la década de 1930, en la ocasión en que realizaron investigaciones acerca de las relaciones políticas y de los factores culturales resultantes de la movilidad laboral y la reorganización del mundo colonial en las sociedades africanas (GLUCKMAN, 1987; VINCENT, 1987). Hasta cierto punto, las tensiones tratadas en este contexto también se presentaron en las sociedades euroamericanas, que estaban experimentando un intenso proceso de expansión y urbanización como efecto de los procesos de industrialización. En ese entonces, autores como Park (1979), de la Escuela de Chicago, apuntaron un modelo para el estudio de las configuraciones de la sociedad urbana basado en un diálogo con disciplinas cercanas, como la psicología y la historia, por lo cual presentaron el urbanismo como un concepto central del análisis social, acercándose de las reflexiones de investigadores alemanes, como Weber y Simmel. En la formulación propuesta, se planteó la idea de que la ciudad sería un elemento de la emancipación de la vida humana puesto que se la entendía como un espacio que permitía la conflagración de nuevas posibilidades de experiencia para los individuos. Esta representación de la ciudad se sustentaba, aunque se considerase que estas nuevas posibilidades suelen se sucederían en un ambiente caótico. Así que a los investigadores de la Escuela de Chicago, les atañía describir el ambiente urbano según el modelo de la ecología humana, tratando sobre el modo como los sujetos se posicionan y eran localizados en el espacio de la ciudad de modo a también reflexionar sobre el proceso de surgimiento de ciertas "desviaciones", "problemas" o "patologías sociales".
Si, por un lado, los métodos utilizados por los académicos de Chicago provocaron una discusión sobre los límites disciplinarios entre la antropología y la sociología en los estudios urbanos y sobre las dificultades de esta aproximación; por otro lado, los conceptos poco objetivos de los estudios de Manchester se los tornan de difícil apropiación para el debate antropológico sobre experiencias urbanas en general. En el primer caso, el énfasis en la adopción de métodos cuantitativos abstractos de la sociología parecía denunciar la poca densidad etnográfica de muchos trabajos. En el segundo, a la ciudad se la presentaba más como un escenario, excusándose de tratarla en sus dimensiones conceptuales o de reflexionar sobre su rendimiento analítico como concepto.
Pese a esas limitaciones, los trabajos de estas dos Escuelas tuvieron gran influencia en la configuración de una tradición de estudios urbanos en Brasil. A lo largo de la década de 1970, los estudios urbanos comenzaron a ganar espacio en la Antropología brasileña. Y esto sucedió no tanto por pretensiones de los antropólogos de ese entonces en reflexionar abstractamente sobre los efectos y los significados de vivir en la ciudad, sino en gran medida por el interés de ellos en pensar sobre sujetos y poblaciones urbanas marginales quienes comenzaron a tomar una posición prominente como actores políticos en ese período, lo que contribuyó a dar visibilidad a la acción en formas políticas organizadas, como a de los movimientos sociales urbanos (CARDOSO; 1978; DURHAM, 1986). Este momento también estuvo marcado por un intenso debate sobre los objetivos y proyectos del campo de los estudios urbanos, por lo que se presentaron diversos intentos de nombrar el proyecto epistemológico del campo y variadas tentativas de circunscribir su objeto de investigación: antropología de las sociedades complejas, antropología de la ciudad, antropología en la ciudad, antropología urbana. Un campo de disputas sobre definiciones que, como lo muestran Low (2014) y Pardo y Prato (2012), sigue siendo actualizado en el escenario contemporáneo.
En el contexto brasileño, los debates de este momento inicial condujeron a la definición de los dos grandes linajes que han caracterizado a la formación de la subdisciplina en las décadas siguientes. Con el antropólogo Gilberto Velho como principal referencia, el primer empezó en la ciudad de Rio de Janeiro, donde este autor se distinguió por análisis acerca del individuo y de la sociabilidad desde etnografías sobre las experiencias de las camadas medias locales (VELHO, 1973; 1974; 1981). El otro empezó orientado a la metrópoli São Paulo con investigaciones dirigidas a las experiencias de diversión y sociabilidad de grupos populares. En este contexto, los trabajos de José Carlos Magnani han sido una grande referencia (MAGNANI, 1984; 1996). No se puede decir que haya una unidad temática en la constitución de ambas obras y de las que partieron de ellas. Por el contrario, sería mejor decir que, a pesar de las diferencias, hay algo similar en la forma en que ambos linajes han inquirido a las ciudades, lo urbano y sus alrededores mientras que esto en gran medida tiene que ver con los grandes entornos urbanos donde la mayoría de los investigadores del campo ha estado trabajando para construir sus análisis. En este escenario, la noción de escala se ha producido según la grandeza de las metrópolis, engendrando una especie de consenso tácito que marca profundamente el análisis de las relaciones, procesos, redes y dinámicas cotidianas que se registra en las etnografías, a los cuales suelen describir cómo se fueran elementos microsociológicos de una unidad de análisis más grande.
Históricamente, la antropología urbana brasileña ha formulado sus conceptos desde los grandes centros urbanos. Así, las preguntas que planteamos son: ¿Qué pasa con otras realidades empíricas que no se ajustan al modelo interpretativo producido desde la metrópoli? ¿Cuáles las limitaciones y las posibilidades para el uso de las formulaciones planteadas desde ahí en investigaciones acerca de las experiencias de la ciudad a pequeña escala? Además, estamos interesados en preguntar, ¿Qué configuraciones urbanas y cuáles experiencias de ciudad son dejadas de lado analíticamente para que se conserven los supuestos de este modelo basado en la metrópoli? ¿Qué ciudades podemos poner a la vista si seguimos la sugerencia metodológica básica de renunciar a las nociones preestablecidas de lo que son la ciudad y lo urbano, como plantea Agier (2011)? Y más que eso, ¿de qué instrumentos disponemos para describir e interpretar etnográficamente las ciudades y urbanos que surgirán de este ejercicio analítico?
En última instancia, es necesario restablecer la prerrogativa obvia de que un tema no es más o menos complejo según la amplitud de la escala en la que se presenta. Así, las ciudades pequeñas pueden presentar experiencias sociales complejas y sofisticadas que deben interpretarse a la luz de instrumentos conceptuales apropiados para sus particularidades, a través de un diálogo crítico con aspectos teóricos y metodológicos que consagran la Antropología y el campo de la antropología urbana en particular. Es importante recordar que las investigaciones realizadas en ciudades de menor escala, allá de los centros hegemónicos de la antropología brasileña ubicados en las regiones más ricas del país, no necesariamente promueven una ruptura con las tradiciones de investigación forjadas por ellos, ya sea sobre los debates acerca de la ciudad o sobre los contenidos que se pueden ver desde ella (BEMERGUY, 2019). No obstante, nuevos planteamientos acerca del urbano solo podrán surgir por el intento de producirlos de modo que esta propuesta de dossier es una invitación a un experimento en esa dirección.
Con estas preguntas en mente, es importante retomar la forma como la antropología ha analizado y discutido el caso de las ciudades de menor escala. Es de destacar, por ejemplo, la etnografía de Charles Wagley (1957) sobre las comunidades urbanizadas en la Amazonía brasileña y las formulaciones del autor sobre la correlación entre las relaciones establecidas por hombres y mujeres con el medio ambiente y la producción de mecanismos para la jerarquía social. Sin embargo, hay que mencionar que la dinamización de esta producción sólo fue posible sobre la base de los proyectos de expansión de la enseñanza universitaria y de descentralización geográfica de los centros académicos en Brasil conducidos a partir de la década de 2000, los cuales permitieron una distribución más amplia de recursos para realizar investigaciones e impulsaron la capacitación de investigadores por todo el país (COSTA, 2009a; BEMERGUY, 2019).
A partir de las tensiones forjadas desde ahí - que son tanto epistemológicas como políticas -, si tenemos en cuenta la producción de la antropología urbana brasileña de las últimas décadas, podemos notar un aumento de investigaciones basadas en ciudades periféricas o alejadas de grandes centros urbanos nacionales. En la Amazonía, esta producción dialoga con aspectos más amplios de la experiencia urbana y la dinámica cultural, mediante etnografías dirigidas a los temas del género y la sexualidad (NASCIMENTO, 2019; OLIVEIRA y NASCIMENTO, 2017; GONTIJO y ERICK, 2017; REIS, 2018), experiencias transfronterizas (CUNHA, 2019; NIETO OLIVAR, 2017), fiestas (COSTA, 2009b; NOLETO, 2018), religión (MAUÉS y VILLACORTA, 2008; FIGUEIREDO, 2008; PEREIRA, 2017; MOURA, 2017), etnia (LASMAR, 2008; ANDRELLO, 2006; ANDRADE y MAGNANI, 2013), Estado, política y movilizaciones sociales (LACERDA, 2014; LACERDA, 2015); entre otros trabajos de la gran área de las ciencias sociales que se ocuparon de las particularidades de las ciudades amazónicas, abordando la relación rural/urbano, ciudad/selva, ciudad/río, carretera/río (CASTRO, 2009; TRINDADE JÚNIOR y TAVARES 2008; SCHMINK y WOOD , 2012; PEREIRAb, 2012) para reflexionar, a menudo indirectamente, sobre la constitución del tejido urbano de la región.
En base a estos argumentos, el presente dossier propone reunir reflexiones de naturaleza etnográfica o teórica que se dediquen a pensar en las configuraciones de las experiencias urbanas y de ciudades en la Amazonía, ya sea en una perspectiva histórica o contemporánea. Estamos interesados en estudios que aborden (a) los procesos de urbanización en la Amazonía, (b) la evaluación de las herramientas metodológicas clásicas para el análisis en/de tales contextos, (c) la relación entre la producción del Estado y la ciudad, d) el lugar de los procesos coloniales y de grandes proyectos de infraestructura contemporáneos en la configuración de ciudades amazónicas, e) el impacto de estos procesos en la configuración de la vida en ciudades pequeñas y medianas de la región (d) la correlación entre los marcadores sociales de la diferencia y la segregación urbana en la Amazonía contemporánea, (e) los dispositivos políticos accionados para producir territorios (región, comunidad, territorios de ciudadanía, distritos, etc.) en el contexto de ciudades amazónicas f) experiencias de sociabilidad, diversión, trabajo y religiosidad en ciudades pequeñas y medianas de la región.
CALL FOR PAPERS
URBAN ANTHROPOLOGY IN THE AMAZON: ON SCALES, CITIES AND URBAN BOUNDARIES
Vol. 6 N. 1 – 2021
Submissão de artigos de 01/10/2020 a 31/03/2021
Organizadores:
Telma Bemerguy (PPGAS/ UFRJ-MN)
Thiago Oliveira (PPGAS/FFLCH- USP)
Urban anthropology in Brazil has been characterized by the effort to think about the dynamics of sociability, inequality, and stratification. Such studies start from the relationship that people establish with the city space and the configuration of urban lifestyles. It is characterized as a long-duration production, and in relation to community studies and studies on social change that which begun in the 1930s. Scholars from Manchester School have analyzed the political and cultural relations resulting from labor mobility and the reorganization of the colonial world in African societies (Gluckman, 1987; Vincent, 1987). These relations were also found in Euro-American societies, which were experiencing an intense process of expansion and urbanization as effects of industrialization processes.
Contributions from the Chicago School, namely authors such as Park (1979) presented a model for the study of the configurations of urban society. The perspective of the Chicago School was related to nearby disciplines, such as social psychology and history. In addition, it proposed the centralization of urbanism as an element of social analysis in close dialogue with the German language production of authors such as Weber and Simmel. In this proposition there was the idea that the city was an element of liberation from human life from the conflagration of new possibilities, even if these possibilities co-occurred in a chaotic environment. The urban experience was described from the model of human ecology, guided by the way particular individuals positioned themselves and were positioned in the city space, also marking the appearance of certain "deviations", "problems" or "social pathologies".
On the one hand, the methods employed by Chicago school resulted in discussion about the disciplinary boundaries between anthropology and sociology for urban study. On the other hand, the lack of objectivity of Manchester's studies set a difficulty when translated to anthropological debate on urban experiences. In the first case, the emphasis on adopting abstract quantitative methods suggested ethnographic emptying. In the second case, the city appeared as a scenario, rarely reflected in its conceptual dimensions and analytical performance.
Although Chicago and Manchester perspectives were problematic, both traditions shaped the urban studies in Brazil. It is during the 1970s that urban studies began to gain space in the anthropological debate. It is because of the way in which marginal urban subjects and populations have assumed a prominent position as political actors and the visibility of the action of organized political forms, such as urban social movements (Cardoso; 1978; Durham, 1986). This moment also marked an intense debate on the objectives and projects in the field of urban studies. As a result, there was various attempts to name the epistemological project of the field and circumscribe its object: anthropology of complex societies, anthropology of the city, anthropology in the city, urban anthropology. As Low (2014) and Pardo & Prato (2012) argue, these disputes remain in the contemporary context.
In Brazil, the debates on urban experiences led to the emergence of two disciplinary traditions. The first tradition is centered on the study of middle-class groups, individual and sociability in the context of Rio de Janeiro (Velho, 1973; 1974; 1981). The second tradition is centered on popular groups and based in the study of the life in the metropolis of São Paulo (Magnani, 1984; 1996). There is no thematic unity in the constitution of both traditions. Despite the differences, there is something similar in the way both lineages have reached the cities, the urban and their frameworks. The urban scenarios where scholars came from used to reflected in both the context the anthropologist have worked and in her/his analyses. In this scenario, the notion of scale has been produced as a function of the greatness of the metropolises. There is a subtle consensus deeply marking the ethnographic analyses of relations, processes, networks, and everyday dynamics.
Then, the questions are: given the centrality that both traditions give to the study of large urban centers, what happens to other empirical realities that do not fit the interpretative model of metropolitan life? What are the limits and possibilities of these tools to deal with small-scale city experiences? Ultimately, what contexts have their urban configuration and city experience analytically hidden? Following Agier (2011), we ask which phenomena can emerge if give up the pre-established notions of what the city and the urban are? And, finally, what tools do we have at our disposal to ethnographically describe and interpret them?
An issue is not more or less complex despite the spatial scale in which it is presented. Thus, small cities can present sophisticated and complex social experiences that must be interpreted using tools appropriated to their particularities. We should address this based on critical dialogue with theoretical and methodological aspects of the discipline. It is important to remember that research carried out in smaller cities outside the center-south axis do not necessarily promote a break with the available hegemonic traditions, either about the city or about the contents that are glimpsed from it (BEMERGUY, 2019). In any case, we will not know until try, and this dossier proposal is an invitation to reflect in this direction.
Considering how scale is part of theoretical and methodological construction of urban ethnography is possible to bring back a disciplinary trajectory that has placed small cities and those outside large urban centers as an element of discussion and analysis. Charles Wagley (1957), for example, studied urbanized communities in the Amazon and the correlations between the presence of men and women in their relationship with the environment. However, the growth on scholarly production was only possible through investments on higher education, the decentralization of research centers, and funding for research and training of researchers (COSTA, 2009a; BEMERGUY, 2019).
The increasing production of anthropological knowledge from and in the Amazon throughout the last decade is also in the field of urban anthropology. It is remarkable the focus on experiences of inner cities or far from large national urban centers. In the Amazon, this production is related to a broader aspects of urban experience and cultural dynamics: gender and sexuality (NASCIMENTO, 2019; OLIVEIRA & NASCIMENTO, 2017; GONTIJO & ERICK, 2017; Kings, 2018), cross-border experiences (CUNHA, 2019; NIETO OLIVAR, 2017), celebratory rituals (COSTA, 2009b; NOLETO, 2018), religion (MAUÉS & VILLACORTA, 2008; FIGUEIREDO, 2008; PEREIRA, 2017; MOURA, 2017), ethnicity (LASMAR, 2008; ANDRELLO, 2006; ANDRADE & MAGNANI, 2013), the state, politics and social mobilizations (LACERDA, 2014; LACERDA, 2015). These works deal with the particularities of Amazonian cities. They address the rural/urban, city/forest, city/river, road/river relationship (CASTRO, 2009; TRINDADE JÚNIOR & TAVARES 2008; SCHMINK & WOOD, 2012; PEREIRAb, 2012) to reflect - often indirectly - on the constitution of the urban network of the region.
Based on the questions and aspects previously presented, the dossier aims to gather ethnographic or theoretical reflections dedicated to think about the configurations of the urban and city experiences in the Amazon, whether from a historical or contemporary perspective. We are interested in works on (a) processes of urbanization in the Amazon, (b) the evaluation of classical methodological tools for analysis in such contexts, (c) the relationship between the state and city production, (d) colonial processes and large contemporary infrastructure projects in the formation of Amazonian cities, (e) the impact of urbanization processes on the conformation of life in small and medium size cities (d) the correlation between categories of differentiation and urban segregation in the contemporary Amazon, (e) the political devices for the production of territories (region, community, citizenship territories, districts, etc.), (f) experiences of sociability, leisure, work and religiosity in Amazonian small and medium cities.
REFERÊNCIAS
AGIER, Michel. Antropologia da cidade: lugares, situações, movimentos. São Paulo: Terceiro Nome, 2011.
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ANDRELLO, Geraldo. A cidade do índio: transformações e cotidiano em Iauaretê. Rio de Janeiro/São Paulo: ISA/EdUNESP, 2006.
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CARDOSO, Ruth. “Sociedade e poder: as representações dos favelados em São Paulo”. In: Ensaios de Opinião, vol.2. São Paulo, 1978.
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COSTA, Antonio Maurício. Festa na cidade: o circuito bregueiro em Belém do Pará. Belém: UFPA, 2009b.
CUNHA, Flávia. “Mover-se nas fronteiras: percursos, políticas e saberes fronteiriços”. In: R@U, vol. 11, n.1. São Carlos: UFSCAR, 2019.
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LACERDAb, Renata Barbosa. Fazer movimentos: mobilidade, família e Estado no Sudoeste Paranaense. Dissertação (Mestrado em Sociologia e Antropologia). Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro-PPGSA/UFRJ, 2015.
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