As narrativas míticas e a ética do cuidado na constituição de outros mundos possíveis
Uma contribuição para o campo educaional
DOI:
https://doi.org/10.69696/somanlu.v24i1.15005Palavras-chave:
Narrativas Míticas, Xamanismo, Experiência de CuidadoResumo
O objetivo deste artigo consiste em problematizar o vínculo entre as narrativas míticas e as experiências de cuidado, pertencentes a cosmovisão xamânica, promovendo uma provável alteração na existência acerca dos processos de colonização no mundo, atribuindo importância ao mito como lugar privilegiado para reativar técnicas de cuidado consigo, com o outro e com o mundo. Assim, propiciando à criação de outras perspectivas ontológicas e epistêmicas distintas das ocidentais, a fim de uma interlocução alterante, enquanto forma de descolonizar os processos de esquematização da realidade produzidos pelo capitalismo neoliberal e pelos governamentos políticos que atravessam a atualidade. Portanto, os processos de criação de outros mundos, por meio da relação entre experiências de cuidado e narrativas míticas na Tradição Xamânica, possibilitam uma possível abertura no campo educacional, provocando experiências transformadoras e trangressivas, as quais oferecem uma percepção radical à alteridade, em diálogo com as formas de sentir e pensar dos povos originários, importantíssimas em tempos de antropoceno. De acordo com o método foucaultiano (2009), uma tentativa de pensar outramente, ou seja, pensar diferentemente o que se pensa, enquanto caminho para que possamos acolher a diferença, perfazendo uma experiência de transformação dos nossos esquemas de pensamento. Não apenas produzirmos conhecimentos, mas sermos capazes de experienciar a realidade com mais liberdade, alteridade, equidade e abertura, conectando razão, coração e corpo como prática insurgente. Por conseguinte, inspirados pela problematização genealógica foucaultiana, o artigo não pretende consolidar uma forma anterior de pensamento sobre determinada experiência, mas tomá-la como problema que se tornou naturalizado, problematizando os usos que fazemos de palavras e coisas que constituem e modificam as relações sociais que estabelecemos com o mundo.
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