Chamada de submissões para dossiê (Edição 2025.1) - A Amazônia Brasileira em análise
Está aberto o período de submissão de contribuições para o dossiê A Amazônia Brasileira em análise: poder, atores e dinâmicas políticas em trajetória recente da Somanlu: Revista de Estudos Amazônicos, a ser publicado no 1º semestre de 2025. As submissões deverão ser realizadas até o dia 15/05/2025.
Organizadores:
Profa. Dra. Arleth Santos Borges / Universidade Federal do Maranhão
Prof. Dr. Ivan Henrique Mattos e Silva / Universidade Federal do Amapá
A Amazônia Legal é uma região complexa e plural que compreende nove unidades federadas brasileiras, localizadas na região do bioma amazônico, a maior bacia hidrográfica do mundo. A totalidade de sua área corresponde a aproximadamente 60% do território nacional, representando quase 70% das florestas tropicais do planeta, formada pelos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, na Amazônia Ocidental, e Pará, Amapá, Tocantins, além do Mato Grosso e grande parte do Maranhão, na chamada Amazônia Oriental. Não obstante, é fundamental que sejam consideradas as várias “Amazônias”, tendo em vista a pluralidade e a diversidade da região nos planos econômico, cultural, político e social.
Nos últimos anos, os conflitos políticos e sociais agravaram-se na Amazônia brasileira. A mineração, a construção de hidrelétricas, o avanço da fronteira agrícola, o aumento do cultivo da soja e da pecuária e os conflitos agrários evidenciam um complexo cenário que ameaça diretamente os povos e comunidades tradicionais da região. Esse cenário foi agravado sobremaneira durante o governo Bolsonaro (2019-2022), quando medidas adotadas por meio de seus ministérios e equipes técnicas esvaziaram as instituições de controle e fiscalização, deslocaram os indígenas de suas terras, impediram a continuidade dos processos demarcatórios e sustentaram, explicitamente, as atividades de madeireiros e garimpeiros nessas áreas.
Embora a Amazônia Legal seja uma região constituída por uma pluralidade de trajetórias políticas e institucionais, além de distintos padrões de competição eleitoral e estruturação partidária, desde 2002 (e, de modo mais evidente, a partir de 2014) há um traço aglutinador importante: a despeito das suas especificidades, todos os nove estados da região observaram um robusto realinhamento eleitoral, com os seus padrões de voto caminhando rumo à direita do espectro ideológico para todos os cargos e em todos os pleitos.
Essa trajetória encontra seu ápice em 2018, na esteira da eleição de Jair Bolsonaro (então no PSL) para a Presidência da República. Dos nove governadores eleitos naquele momento, sete se vincularam abertamente ao campo bolsonarista, inclusive governadores de partidos de centro-esquerda e com tradição de alinhamento ao campo nacional petista, como foi o caso do governador Waldez Góes (PDT) no Amapá. Em paralelo, doze dos(as) dezoito senadores(as) que conquistaram um mandato estavam alinhados ao candidato então pertencente ao PSL.
Ainda que as eleições de 2022 tenham representado um pequeno recuo na trajetória de conversão conservadora do padrão de voto na Amazônia, a robustez do voto bolsonarista novamente ficou evidente. Desta vez, seis dos nove governadores eleitos cerraram fileiras com Bolsonaro, contra dois lulistas. Além disso, quatro dos(as) nove senadores(as) o apoiaram abertamente, contra três lulistas e dois neutros. Vale ressaltar que até mesmo o governador Wilson Lima (PSC), do Amazonas, conseguiu ser reeleito com forte apelo bolsonarista, apesar do trauma vivido por Manaus no ápice da pandemia de Covid-19.
Nesse sentido, este dossiê tem como objetivo discutir as dinâmicas políticas recentes na Amazônia Legal brasileira em sentido amplo, considerando desde os aspectos históricos e interpretativos, até os processos eleitorais e atuação dos movimentos sociais na região, com um enfoque especial para o enraizamento social do bolsonarismo – em suas distintas facetas –, bem como das mobilizações e tradições de luta dos povos e comunidades tradicionais.