Acesso à Internet nas escolas públicas em tempos de pandemia:
Mensurando a desigualdade regional brasileira
DOI:
https://doi.org/10.29280/rappge.v7i01.10213Resumen
Este artigo objetiva contribuir com o debate acerca da desigualdade da oferta nas escolas públicas. Com o ponto de partida nos teóricos Crahay (2000), Dubet (2008) e Lucas (2001), é possível identificar que a desigualdade no interior da escola pode violar o direito à educação pela falta de acesso e pela falta de oferta de uma educação de qualidade, direito de todos, sobretudo em um contexto de pandemia, em que os sistemas de ensino se obrigaram a ter atividades online. De forma empírica, com referência nos dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), é proposta uma forma de mensurar a desigualdade entre escolas que ofertam os anos iniciais do ensino fundamental que possuem algum tipo de acesso à internet e aquelas escolas que não possuem nenhum tipo de acesso à internet. Nos 5.570 municípios da federação, há 31.855 escolas que não possuem acesso à internet e 39.789 escolas que possuem internet banda larga. Evidencia-se a dificuldade do Estado brasileiro em democratizar o acesso à internet nas escolas, bem como a desigualdade das escolas no momento de pandemia, quando o recurso de acesso à internet nas escolas apresenta-se como um dos itens elementares de qualquer escola.
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