APRESENTAÇÃO: RECONHECIMENTO, IDENTIDADES EM MOVIMENTO, AMBIENTE, CONFLITOS E PERSPECTIVAS EDUCACIONAIS DIFERENCIADAS
Resumo
Desde Durhkeim, Marx e Weber até os dias atuais experienciamos o tempo da crítica social. Com efeito, um sobrevôo por sobre a crítica dos clássicos, assim também como por sobre as análises benjaminianas a respeito da Modernidade, da Teoria do Reconhecimento, demonstra que o discurso filosófico e crítico sobre alguns conceitos clássicos e modernos, conferiu-lhe um ar de liberdade, a expressão de liberdade da subjetividade. Esta expressão passou a determinar de modo amplo as configurações da cultura que emergiram da dissociação do passado. Ao mesmo tempo, a moral ganhava autonomia mediante leis universais, o que permitia aos agentes sociais o reconhecimento de suas liberdades subjetivas.
No entanto, se a ciência a que chamamos Sociologia nasce como uma “narrativa sobre a modernidade” (RITA FELSKI,1995), o mundo contemporâneo observou transformações sociais, culturais e políticas que demandaram novos olhares e novas teorias sociais capazes de dar conta da complexa sociodiversidade humana e das reverberações decorrentes desse fenômeno.
Observa-se que nas últimas décadas a perspectiva de uma transformação radical da sociedade, em termos de emancipação, afastou-se gradativamente do alcance das pessoas. Se é verdade que houve mudanças significativas em direção a uma sociedade mais justa (no que diz respeito, por exemplo, a temas como o reconhecimento das diferenças culturais, de identidades em movimentos, grupos étnicos, direitos LGBTQ+), é do mesmo modo verdadeiro que, paralelamente, verificaram-se retrocessos relativos a questões de justiça distributiva (quer em termos de retração do Estado de bem-estar social e de retirada de direitos sociais garantidos constitucionalmente; quer em termos de distribuição de renda e riqueza, em nível global e em nível local nos diferentes países; quer em termos de mobilidade social).
Cotejando com Habermas, a modernização do mundo da vida não foi determinada apenas pelas estruturas da racionalidade como um fim último. O conceito de modernização se refere a um conjunto de processos cumulativos e de reforço mútuo: à formação de capital e mobilização de recursos; ao desenvolvimento das forças produtivas e ao aumento da produtividade do trabalho; ao estabelecimento do poder político centralizado e à formação de identidades nacionais.
Consoante a isso, Axel Honnerth (2003:200) afirma que o nexo existente entre a experiência de reconhecimento e a relação consigo própria resulta da estrutura intersubjetiva da identidade pessoal: “os indivíduos se constituem como pessoas unicamente porque, da perspectiva dos outros que assentem ou encorajam, aprendem a se referir a si mesmos como seres a que cabem determinadas propriedades e capacidades”.
A lógica dessas experiências se encontra na tessitura de um indivíduo social em reconstrução permanente de sua identidade. Uma identidade móvel articulada em três níveis distintos e interligados, a saber: a esfera emocional que permite ao indivíduo uma confiança em si mesmo para realizar seus projetos pessoais (formação educacional e diferenciada); a esfera da estima social que solidifica as experiências de solidariedade e projeta no sujeito social o autorrespeito por outras vidas ( as campanhas solidarias em defesa da vida de minorias frente ao Coronavírus), por fim, a esfera jurídico moral que permite que a pessoa (o indivíduo social) seja reconhecida como autônoma e moralmente imputável em busca de reconhecimento, de redistribuição social e autorrespeito. Nesse sentido, o grau de autorrealização pessoal e coletiva cresce na medida em que a esfera pública passa por uma transformação radical através das inúmeras experiências de reconhecimento e solidariedade humana.
Nestes termos, a edição 2020-2 (jul-dez) da revista EDUCAmazônia, com temas livres em educação, psicologia, sociedade e ambiente que intitulamos: Reconhecimento, identidades em movimento, conflitos e perspectivas educacionais diferenciadas, nesta ocasião publica trinta (30) artigos ( de autores do Brasil, México, Portugal e Moçambique) debruçados em discussões em movimento respeitantes, Manifestações culturais tradicionais de Povos tradicionais, Conflitos, violências, identidades, questões ambientais, Religiosidade de Matriz Africana e Educação diferenciada.