Entre Atividade e Temporalidade:
vivências de professoras do ensino superior no retorno ao trabalho presencial durante a pandemia de COVID-19
Palavras-chave:
Gênero, Trabalho docente, Tempo, AtividadeResumo
O tempo é gerido de maneira diferente por mulheres e homens, decorrência da divisão sexual do trabalho que hierarquiza o trabalho produtivo e o reprodutivo. A pandemia de COVID-19, ao impor isolamento social e fechamento de instituições de ensino superior, intensificou tais desigualdades, sobretudo na docência. Este estudo analisou a relação entre atividade e vivência de temporalidade de professoras universitárias no retorno ao trabalho presencial. A partir da Clínica da Atividade e da Teoria Histórico-Cultural, considera-se a atividade não apenas como o conjunto de ações observáveis, mas como intenções e possibilidades não efetivadas. A vivência é entendida como uma experiência de padecimento, atravessada por afetos, emoções e contexto social. Foram realizadas entrevistas com oito professoras de uma universidade pública, utilizando-se um calendário como mediador, no qual elas representaram suas atividades diárias e semanais. O retorno às aulas presenciais após o isolamento social gerou estranhamento, insegurança e dificuldade de adaptação. A necessidade de reconstruir a dinâmica docente afetou vínculos, afetos e a percepção de produtividade. A tentativa de manter o ritmo do período remoto intensificou a sobrecarga. A lógica produtivista reforçou a exaustão mental e física. O trabalho reprodutivo permaneceu invisibilizado, recaindo sobre as professoras, que conciliavam tarefas domésticas, cuidados familiares e demandas acadêmicas. Contratações de outras mulheres ou guarda compartilhada aliviaram alguns encargos, possibilitando momentos de autocuidado. O acesso ao ócio seguiu desigual. Estudos futuros podem comparar diferentes contextos institucionais e áreas do conhecimento acerca da gestão do tempo e das dinâmicas de trabalho reprodutivo e produtivo.