MEMÓRIA TRAUMÁTICA DO RACISMO EM “REVELAÇÕES DE CENAS DO COTIDIANO”
TRAUMATIC MEMORY OF RACISM IN “REVELATIONS OF EVERYDAY SCENES”
DOI:
https://doi.org/10.29281/rd.v11i22.12848Keywords:
Memória traumática; mulher negra; literatura afrofeminista; racismo; crônicas negras.Abstract
Averiguamos a representação da memória traumática na literatura afro-brasileira e afrofeminista contemporânea, tomando-se por exemplar a narrativa “Revelações de cenas do cotidiano”, que integra a coletânea Negras Crônicas: escurecendo os fatos (2019), autoria de vinte e quatro escritoras negras. A crônica escolhida evidencia a constituição do sujeito a partir da percepção interna das experiências do cotidiano, especificamente, no contexto de uma protagonista mulher e negra, que desde a infância lida com a opressão do racismo. Para alicerçar esta análise, recorremos aos entrelaçamentos da ficção literária com a história e a memória (LE GOFF, 1924; SELIGMANN-SILVA, 2008 e PEREIRA, 2014); às especificidades do gênero crônica (CANDIDO, 2003) e aos pressupostos teórico-críticos pós-coloniais, decoloniais e feministas, em exposições de: Mbembe (2001); Maldonado-Torres (2018); Almeida (2018) e Grada Kilomba (2019). Como resultado, identificamos que a crônica denuncia o racismo como cotidiano e gerador da memória traumática, enclave na vida da protagonista, e desvelada em efeitos-sintomas de violência (os estigmas pejorativos e a auto aversão). A narrativa analisada evoca o direito de narrar ao outro e a si mesmo o trauma, dando testemunho do infortúnio vivido. Portanto, abre espaço para o protagonismo negro, ressalta a resistência das memórias subalternizadas, e a relevância da produção literária afro-brasileira e afrofeminista em seu lugar de memória (PEREIRA, 2014). Trata-se, assim, de reconhecer algumas das principais questões refratadas na escrita de autoria feminina negra.
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