O DUPLO EM CORTÁZAR: O CASO DO CONTO “DESPUÉS DEL ALMUERZO”
DOI:
https://doi.org/10.29281/rd.v6i12.4925Resumo
Em 1846, antes do surgimento da psicanálise, o jovem romancista russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), escreveu uma pequena novela, O Duplo (Двойник. Петербургская поэма, 1846), que abordava o conflito da personalidade de Goliadkin, funcionário público, que tenta se destacar dos demais, desempenhando com perfeições suas tarefas, mas é derrotado por ele mesmo, ou melhor, pelo seu duplo. Neste sentido, em 1964, o escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984), no conto Después del Almuerzo, aborda a mesma temática, mas narrado por um jovem pré-adolescente. Numa primeira leitura, não sabemos ao certo de quem ou de que se trata; o que leva o leitor a imaginar que possa ser: um cachorro, um irmão com debilidades ou, até mesmo, um espírito. Neste conto se colocam noções de responsabilidade e culpa existentes da pré-adolescecia, que tenta contrapor essa fase, sua vontade de se livrar deste ser a quem tem que acompanhar em seu passeio por ruas de Buenos Aires. Esta fase narrada coloca o duelo entre o jovem e este ser que tem suas vontades próprias de livramento em forma de culpa, querendo ser natural e humano, hora criança e hora querendo se tornar adulto, deixa claro que o duplo existe a todo instante, dentro e fora de si. O corpo exterior deste pré-adolescente pode aparentar maturidade, porém o ser interior reluta com a consciência da infância; este ser não acompanha o exterior e vise versa. Neste trabalho analisaremos este duelo interior do protagonista, do ponto de vista da estética literária (herdeira da obra de Dostoiévski).
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