A MULHER NA SOCIEDADE PORTUGUESA DURANTE O SALAZARISMO E SEU REFLEXO NOS POEMAS DO LIVRO MINHA SENHORA DE MIM DE MARIA TERESA HORTA

Autores

Resumo

O seguinte artigo propõe-se a analisar os poemas do livro Minha Senhora de Mim de Maria Teresa Horta, lançado em 1971, observando o modo como reflete a ditadura ocorrida em Portugal durante quarenta e um anos. Dá-se especial atenção ao modo como a autora trata em seus poemas da mulher, do corpo e das relações sexuais, instaurando um comportamento adverso ao pregado pelo regime, que visava à adoção de certas condutas que garantiriam a ordem no Estado. 

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Biografia do Autor

Rosiane Eufrazio Machado, Universidade Federal do Amazonas

Graduanda em Letras- Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade Federal do Amazonas; voluntária no Programa Instiucional de Bolsas de Iniciação Científica; integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Literaturas de Língua Portuguesa (GEPELIP).


Rita Barbosa de Oliveira, Universidade Federal do Amazonas

Doutora em letras pela PUC- RIO. Professora do Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa e do Programa de Pos- Graduaçao em Letras- Mestrado da UFAM. Lider do Grupo de Estudos e Pesquisas em literaturas de Língua Portuguesa - GEPELIP.

Referências

Porque acho que as mulheres têm direito aos sonhos, têm direito a serem felizes. Durante séculos e séculos houve mulheres que lutaram pelos sonhos, muitas delas tinham que se disfarçar de homens para concretizar seus sonhos. (In OLIVEIRA, 2000, p. 17).

Apenas o papel de mãe, através da gestação e de ter suas crianças, a mulher consegue se inserir novamente nessa sociedade masculina. A mulher está livre (?) das relações e realizações sexuais; não faz parte delas, porque sua única função é ser a mãe – livre de prazeres. Ela é o útero que satisfaz as necessidades masculinas de existência, de linguagem, e através do seu útero os homens lhe conferem a “feminilidade”. Ela é o receptáculo, o cálice, reservatório que garante a continuação masculina – um espaço do homem, enfim. (SOUZA; PEREIRA, 2014, p. 265).

É através de si mesma, do conhecimento do seu próprio corpo, do autoerotismo e do seu preciso – e precioso – ser que a mulher deve elaborar sua escrita, para que dessa forma ela seja inserida na história por meio do que é e não da forma em que é representada pelos homens. A escrita feminina, como escrita do corpo, torna-se uma ferramenta de empoderamento. (SOUZA; PEREIRA, 2014, p.265).

Na produção poética da autora portuguesa, observamos a ressignificação do ser mulher, como sujeito de seu corpo e seus desejos, perquiridos numa busca de si no seio da poesia. Sua escrita feminina, construída não como negativa do masculino – e sim como afirmação de mulher –, enseja uma série de reflexões teóricas (...). (SOUZA; PEREIRA, 2014, p. 276).

“O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual queremos nos apoderar.” (FOUCAULT, 1999, p. 10).

Minha Senhora de Mim

Comigo me desavim

minha senhora

de mim

sem ser dor ou ser cansaço

nem o corpo que disfarço

Comigo me desavim

minha senhora

de mim

nunca dizendo comigo

o amigo nos meus braços

Comigo me desavim

minha senhora

de mim

recusando o que é desfeito

no interior do meu peito

(HORTA, 1974, p.13)

Interna e externa, a de uma e de todas as mulheres, divididas entre o ser e o parecer pelas imposições da existência divida. O poema “Minha Senhora de Mim” coloca as dissensões à mostra: as internas e pessoais que se exteriorizam e as exteriores e sociais que se internalizam [...] (BRIDI, 2009, p. 41).

Poeta do seu tempo, cidadã que compreende a literatura como um lugar de luta e participação, constrói sua poética, muitas vezes, como voz lírica que se opõe ao estado de coisas que promovem o silêncio e movimentam a máquina da morte física e mental. (ALVES, 2015, p.207).

Violência

Ó secreta violência

dos meus sentidos domados

em mim parto

e em mim esqueço

senhora de meu

silêncio

com tantos quartos fechados

Anoitece e desguarneço

despeço aquilo que

faço

Ó semelhança firmeza

mulher doente de afagos

(HORTA, 1974, p.29)

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Publicado

2017-07-23

Como Citar

MACHADO, R. E.; DE OLIVEIRA, R. B. A MULHER NA SOCIEDADE PORTUGUESA DURANTE O SALAZARISMO E SEU REFLEXO NOS POEMAS DO LIVRO MINHA SENHORA DE MIM DE MARIA TERESA HORTA. Revista Decifrar, Manaus, v. 4, n. 8, p. 135, 2017. Disponível em: //periodicos.ufam.edu.br/index.php/Decifrar/article/view/3441. Acesso em: 20 nov. 2024.

Edição

Seção

ARTIGOS (DOSSIÊ)