CRÔNICA: UM DEDO DE PROSA COM SIMONE DE BEAUVOIR.
Resumo
UM DEDO DE PROSA COM SIMONE DE BEAUVOIR
De repente cinquenta, falar de mãe é coisa difícil, e quando você passa pela idade dela e reflete que aos 52 de sua mãe, você tinha 20. Não, não é o mesmo que sua filha que tinha 20 quando você tinha 44. A diferença é que sua mãe já tinha tido cinco antes de você, e você foi a última gravidez de sua mãe aos 32. A sua última gravidez foi aos 35, sua caçula aos 20 teve que lidar com você aos 55.
A filha de 33 anos, fala de velhice de um prisma distante, a noção puramente abstrata que você constatou.
De novo divagando sobre a irmã que morreu aos 49 anos, sempre que pensa nisso fica imaginando que está ultrapassando uma matemática familiar, que bizarro.
A visão envelhecida do pai falecido aos 54 anos não dava a perspectiva do que era envelhecer de fato, na sua memória ele parecia tão velho, a trombose abreviou sua vida.
Envelhecer é tão socialmente definido. Numa publicação de um restaurante popular, uma mulher de 24 anos, sem os dentes da frente, dizia que comer num prato popular por 1 real é muito bom para os filhos, pois, não compra mais ovos por esse preço para dividir com eles. A imagem envelhecida da mulher de 24 anos em pleno século XXI, uma mulher desdentada abatida pela luta de classes, realmente Simone, existe um abismo entre o velho operário e um Onassis.
A mãe se estivesse viva faria 88 esse ano, e o pai 91. Quem verá seus filhos envelhecerem, tal qual o pai de 80 cuidando do filho de 60 anos com comorbidades, que linda essa notícia no jornal. Que lindo, tá louca?
Na frente da tv aos 55, a mãe sabia tudo das telenovelas. Sobre cigarros, a mãe desde criança às voltas com as porroncas do avô, o bisa. Interessante que uns cinco anos antes de falecer, por entupimento das artérias do coração, havia deixado de fumar por medo de câncer, se foi aos 79. Instintivamente ajusto a rota, a nova meta é passar dos 79, e não ser tão teimosa.
Em 1990 quando a mãe tinha os 55 que tenho hoje, ela era a adulta que sempre vigorosamente demonstrou ser, uma pessoa contrária ao fato de cuidar de netos, com exceção ao neto homem vindo do filho homem. Não lhe cabia o adjetivo da doce mãezinha ou vózinha, por isso, obtive a certeza de que sendo doce ou não, sempre falharemos na missão de ser mãe, a não ser que criemos seres reflexivos. Por isso, a velha mãe não falhou de fato.
Afinal, Simone o que é a velhice?
- “Dentro de mim, está a Outra - isto é, a pessoa que sou vista de fora - que é velha: e essa Outra sou eu.”
Zina 22.04.2022.