CRÔNICA: APARÊNCIAS NADA MAIS!

Autores

  • Zina Grangeiro Pinheiro Bibliotecária (UFAM) Licenciada em Letras (UFAM) e Pedagogia (UniFatecie) Pós-graduada em Gerontologia (UEA)

Resumo

APARÊNCIAS NADA MAIS!

 

Todos os dias tento abraçá-la, mas ela não quer nem me ver.

Seu olhar entristecido não esconde a decepção, ela nunca imaginou ser traída por aquela pessoa. Por que é tão fácil trair alguém? Pelo que percebi, quem trai não tem a noção do estrago que faz.

- Oi, a fila para o yakisoba é aqui?

- É sim!

- Nossa!

- Estávamos bem atrás há meia hora (risos).

- Nossa e você ainda ri...

- Fazer o quê né (risos). Você nunca veio na Liberdade?

- Já sim, mas vou mais nos cafés.

Quem diria que numa longa fila na feirinha da Liberdade, Jessica encontraria o amor.

Quantas vezes a vi entrar em casa cheia de sorrisos e sempre se arrumando para encontrá-lo novamente. Os dias iam passando, alguns em que Shin fora extremamente atencioso e amoroso e em outros, distante, como se escondesse algo, mas o que seria?

Não demorou muito e os telefonemas ficaram escassos, mensagens vazias, justo naquele momento em que os seus sogros viriam do Japão. É bem verdade que ela sempre sentiu Shin um pouco distante em alguns momentos, mas entendia que era algo do comportamento oriental introvertido.

Jessica se punha à minha frente se questionando, mesmo sem esperar respostas.

- O que acontece com ele, entrei de cabeça nesse relacionamento improvável, uma preta e um japonês, penso que ele tem receio dos pais, do preconceito, será que ele é preconceituoso lá no fundo?

Eles se propuseram a não conversar sobre o assunto “preconceito”. Shin dizia que em pleno 2030 não cabia mais esse tipo debate, mesmo que seus pais fossem, ele não se importava. Shin negava que houvesse algo a preocupá-lo. Se bem que, relações genuínas eram algo raro nesse tempo de tantas coisas impensáveis.

Em 2030 nada é óbvio, não vemos mais verdade em nada, tudo é muito ambíguo, os sentimentos, as relações de amizade, a aparência das pessoas, é acentuada a brevidade da vida e tudo é vaidade.

Talvez a Jessica tenha parado no tempo, pensando que Shin seria honesto nos seus sentimentos. Mas, ele era tão amável, atencioso, algumas vezes...em outras, tão calado. Essa bipolaridade não era novidade, Jessica conviveu com gente assim em relacionamentos anteriores.

- Será que o problema sou eu?

Eu a vi perguntar algumas vezes, queria que ela pudesse me ouvir. Não, não é você o problema Jessica. Relacionamentos são cheios de superficialidades, isso parece ser tão normal, nada parece refletir a verdade, cada um tem sua própria razão e necessidade e ninguém é capaz de ceder.

Depois de algumas semanas Jessica soube que Shin tinha uma noiva no Japão e que veio com seus pais para marcar o casamento.

Jéssica olha fixamente para mim sem imaginar minhas camadas de silício, carbonato de sódio, carbonato de cálcio, cloreto de estanho, paládio e prata, toda minha intimidade reunida para mostrar fielmente seu rosto.

Enfim, essa história não foi feita para falar de bons momentos, e sim, o porquê dessas olheiras na Jessica.

Zina 22.03.22.

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Biografia do Autor

Zina Grangeiro Pinheiro, Bibliotecária (UFAM) Licenciada em Letras (UFAM) e Pedagogia (UniFatecie) Pós-graduada em Gerontologia (UEA)

Bibliotecária (UFAM) Licenciada em Letras (UFAM) e Pedagogia (UniFatecie) Pós-graduada em Gerontologia (UEA) e Educação Inclusiva (UniFatecie).

Fonte: Zina Grangeiro Pinheiro (2024).

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Publicado

2024-10-28