PARETO E A QUESTÃO SOCIAL: ELEMENTOS PARA UMA DISCUSSÃO ACERCA DOS SISTEMAS DE SOLIDARIEDADE

Autores

  • Marilene Corrêa da Silva Freitas

DOI:

https://doi.org/10.29327/233099.17.1-1

Resumo

A justificativa do pouco conhecimento da sociologia paretiana entre a sociologia francesa pelo fato de na Itália não acharem-se trabalhos propriamente sociológicos, é insustentável. Em primeiro lugar porque Pareto nasceu e estudou em França, trabalhou toda a sua atividade acadêmica na Suíça, conhecia e dialogava com o pensamento social francês, língua na qual difundiu suas obras mais importantes. Em segundo lugar, como precursor do ensino de Sociologia como disciplina em nível universitário na Universidade de Lausanne estava na sediado na Europa e articulado com os acontecimentos políticos, sociais e econômicos. Em terceiro lugar seu pensamento social foi constantemente  utilizado para opor-se às abordagens críticas da ordem social capitalista, tanto pelo pensamento socialista, como pelo pensamento liberal radical. Os argumentos de um certo alinhamento de Pareto ao fascismo de Mussolinni podem, sim, constituir-se em um poderoso instrumento de deslegitimação de seu pensamento, mas não justifica o desconhecimento de sua obra. Mas a sua crítica aguda ao pensamento socialista utópico e à democracia participativa são fortes aliados de seu isolamento teórico, além do fato de que a hegemonia durkheimeana dá à sociologia francesa um estatuto institucional que promove e consolida a sociologia como campo de conhecimento autônomo.

Vilfredo Pareto é testemunho esclarecido de mudanças cruciais das sociedades ocidentais européias; seu ciclo de vida (1848-1923) atravessou a segunda metade do século dezenove e as primeiras décadas do século XX. Pode dizer-se que ele viveu os primeiros experimentos da democracia moderna, acompanhou, como todas as pessoas de seu tempo, a démarche socialista soviética, assistiu a expansão do mercado industrial capitalista, os movimentos de oscilação da economia internacional e da dinâmica das políticas econômicas nacionais.

Seu pensamento social contribuiu para disciplinas fundamentais para a inteligibilidade da sociedade ocidental moderna: a economia e a sociologia, a partir das quais Pareto pôde firmar-se intelectualmente na vida acadêmica e posicionar-se diante dos acontecimentos políticos de onde, parece, advirem as principais discordâncias aos sistemas teóricos por ele examinados.

A economia política e a sociologia são as ferramentas de pesquisa e de discussão da contribuição paretiana. O liberalismo econômico radical em defesa do livre mercado marcou sua obra econômica tanto quanto a curva da desigualdade de rendimento. O liberalismo político marcou a sua compreensão dos acontecimentos conjunturais, sua crítica à democracia e ao socialismo, e ambos marcaram a sua teoria das elites. A teoria da ação social de Pareto é precursora de inúmeros problemas que se inscrevem na ontologia do ser social e da estrutura das sociedades e das ações humanas. A constituição das sociedades segundo leis fixas e determinadas enquanto objeto de análise, e as suas formas de mudança cíclica, presidem os esforços para o desenvolvimento da sociologia. O conjunto destes elementos produz uma abordagem teórica e metodológica de grande força explicativa e de muita originalidade, razão de a sua obra ultrapassar o isolamento ideológico no qual suas ideias estiveram prisioneiras.

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Publicado

2018-02-18

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Artigos