Análise do padrão de herança em casos de adoecimento decorrentes de Assédio Moral

Autores

DOI:

https://doi.org/10.60104/revhugv10990

Palavras-chave:

assédio moral, adoecimento, predisposição genética

Resumo

O assédio moral destaca-se por sua “invisibilidade”, por ser um tipo de violência sem sangue, que não deixa mãos sujas, dificultando sua caracterização. Em decorrência dessa violência as vítimas podem apresentar sintomas de adoecimento relacionados ao estresse, cansaço, nervosismo, distúrbios do sono, enxaquecas, distúrbios digestivos, dores na coluna, transtornos de humor e ansiosos, estresse pós-traumático, Síndrome de Burnout e em casos mais graves pode levar ao suicídio. Inexiste na literatura estudos que se propuseram a demonstrar a etiologia das psicopatologias desencadeadas pelo assédio moral, principalmente do ponto de vista genético dos transtornos mentais. Este projeto teve como objetivo criar um protocolo de investigação que permita identificar predisposição genética (ou não) dos transtornos mentais entre quatro trabalhadores que tiveram o reconhecimento do assédio moral em uma universidade pública. Foram analisadas as patologias diagnosticadas e a etiologia dos transtornos mentais destes servidores, através da aplicação de questionário de eventos de vida estressores (EVE) e o estudo de heredograma. Os resultados demonstram em todos os casos que os transtornos de humor e ansiedade, são as mais frequentes, seguidas de Síndrome de Burnout e tentativa de suicídio. A análise dos Eventos de Vida Estressores – EVEs identificou cinco eventos mais frequentes (“sérios problemas de saúde ou algum dano”, “perda de emprego”, “sérios problemas no trabalho” e “problemas legais”, “Problemas com um indivíduo na rede de relacionamentos” e “crise pessoal séria”). A análise de heredogramas revelou agregação familiar negativa em todos os casos, o que comprova que o fator genético necessário para desenvolver os transtornos mentais não foi suficiente. Noutro sentido, a análise sob os aspectos de interações gene-ambiente, incluindo as exposições sistemáticas ou a identificação de fatores de riscos ambientais que as cercam no ambiente familiar também não foi constatado no ambiente familiar, entretanto, os eventos estressores no ambiente laboral responde à gênese das patologias. A análise de todos os resultados e da literatura atualizada indica o nexo causal, entre os fatores de riscos ambientais (assédio moral) e os transtornos mentais, como o principal causador do adoecimento entre os sujeitos da amostra. Diante dos resultados obtidos a combinação dos dois protocolos, por meio do estudo de heredogramas e a análise de fatores ambientais inerentes a violência laboral - assédio moral permitiu a criação de um novo protocolo de investigação que permita identificar a predisposição genética (ou não) dos transtornos mentais.

Referências

- Heloani R, Barreto M. Assédio moral: gestão por humilhação. Curitiba: Juruá, 2018.

- Soboll LAP. Assédio moral/organizacional: uma análise da organização do Trabalho - São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008.

- Hirigoye MF. Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. Tradução de Rejane Janowitzer. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2015.

- Barreto. M. Violência, trabalho: uma jornada de humilhações. São paulo: educ; 2003.

- Leymann H, Gustafsson A. Mobbing at work and the development of post- traumatic stress disorders. European journal of work and organizational psychology. 5(2). 251-275. 1996. https://doi.org/10.1080/13594329608414858

- Freitas-Silva, LR, Ortega F. A determinação biológica dos transtornos mentais: uma discussão a partir de teses neurocientíficas recentes. Cadernos de saúde pública, 32, 2016. https://doi.org/10.1590/0102-311X00168115

- Heloani JR. Assédio moral nas universidades. Boletim Especial Adunicamp. 2-8. 2014. Disponível em https://www.adunicamp.org.br/wp-content/uploads/2015/03/Boletim_Assedio_Moral_Finalizado.pdf

- OMS. Organização Mundial de Saúde. OMS registra aumento de casos de depressão em todo o mundo; no brasil são 11,5 milhões de pessoas Disponível em http://encurtador.com.br/ixDV7

- OIT. Organização internacional do trabalho. Convenção da OIT sobre violência e assédio: cinco perguntas-chave. 2019 Disponível em http://encurtador.com.br/gsuLT

- Nunes TS, Tolfo SR. A dinâmica e os fatores organizacionais propiciadores à ocorrência do assédio moral no trabalho. Revista de gestão e secretariado, são paulo. 4(2). 90-113, 2013. https://doi.org/10.7769/gesec.v4i2.161

- Olivier M, Perez CS, Behr SCF. Trabalhadores afastados por transtornos mentais e de comportamento: o retorno ao ambiente de trabalho e suas consequências na vida laboral e pessoal de alguns bancários. Revista de administração contemporânea, curitiba. 15(6).993-1015.dez.2011. https://doi.org/10.1590/S1415-65552011000600003

- DPU consegue acordo com Ufam para combate ao assédio moral. 2017. Disponível em https://www.jusbrasil.com.br/noticias/dpu-consegue-acordo-com-ufam-para-combate-ao-assedio-moral/491196928.

- Lima CQB, Mendes RWB, Patta CA. Assédio moral e violências no trabalho: caracterização em perícia judicial. Relato de experiência no setor bancário. Revista brasileira de saúde ocupacional. 39. 101-110. 2014. https://doi.org/10.1590/0303-7657000050313

- Vieira T, Giugliani R. Manual de genética médica para atenção à saúde. Porto alegre. Artmed, 2013.

- Glina DMR, Rocha LE. Protocolo de assédio moral no trabalho para pesquisas, diagnósticos e elaboração de laudos. Gosdal tc, soboll lap. Assédio moral interpessoal e organizacional. São paulo. 139-51, 2009. https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v96i1p1-13

- Kendler KS, Karkowski LM, Prescott CA. causal relationship between stressful life events and the onset of major depression. American journal of psychiatry, 156 (6). 837-841, 1999. https://doi.org/10.1176/ajp.156.6.837.

- Nussbaum RL, Mcinnes RR, Willard HF, Thompson e thompson – genética médica. ed. 8ª. Rio de janeiro, rj. Editora guanabara koogan. 2016.

- Belangero SL. Genética aplicada às doenças mentais e os principais resultados observados em suas pesquisas. Unifesp. 2020 Disponível em https://www.unifesp.br/reitoria/dci/releases/item/4708-opiniao-genetica-aplicada-as-doencas-mentais-e-os-principais-resultados-observados-em-suas-pesquisas.

- Ege, H. Mobbing — new perspectives and results from an italian investigation. Bolonha: Pitagora Group, 2002. IBSN: 88-371-1342-0

- Ferreira, HDB. Assédio moral nas relações de trabalho. 1ª ed. Campinas: Russel editores, 2004.

- Barreto M, Heloani R. Violência, saúde e trabalho: a intolerância e o assédio moral nas relações laborais. Serviço social & sociedade. 123. 544-561, 2015. https://doi.org/10.1590/0101-6628.036

- Bobroff MCC, Martins JT. Assédio moral, ética e sofrimento no trabalho. Rev. Bioét. brasília. 21(2). 251-258. 2013. Disponível em https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-690183

- Soares A, Oliveira JA. assédio moral no trabalho. Rev. Bras. Saúde ocup. São paulo. 37(126). 195-202. 2012. Disponível em https://www.scielo.br/j/rbso/a/WCNjbkdKHrvHsKKYNv4DhQM/?format=pdf&lang=pt

- Kivimaki M, Virtanen M, Vartia M, Elovainio M, Vahtera J, Keltikangas-Jarvinen L. Workplace bullying and the risk of cardiovascular disease and depression. Occupational and environmental medicine. 60(10). 779-783. 2003. https://doi.org/10.1136/oem.60.10.779.

- Vartia-vaananen M. Workplace bullying: a study on the work environment, well-being and health. 7(3). 618-627. Masters dissertation. 2003. https://www.researchgate.net/publication/35947078_Workplace_bullying_A_study_on_the_work_environment_well-being_and_health

- Quine L. Workplace bullying in nurses. Journal of health psychology. 6(1). 73-84, 2001. https://doi.org/10.1177/135910530100600106

- Niedhammer I, David S, Stephanie D. Association between workplace bullying and depressive symptoms in the french working population. Journal of psychosomatic research. 61(2). 251-259. 2006. https://doi.org/10.1016/j.jpsychores.2006.03.051

- Goodwin FK, Jamison K. Manic-depressive illness: bipolar disorders and recurrent depression. Ed. 2ª. Oxford university press. 2007.

- Lima IVM, Sougey EP, Filho HPV. Genética dos transtornos afetivos. Arch. Clin. Psychiatry. São paulo, 31(1). 2004 https://doi.org/10.1590/s0101-60832004000100006

- Tucci AM, Kerr-corrêa F, Dalben I. Ajuste social em pacientes com transtorno afetivo bipolar, unipolar, distimia e depressão dupla. Brazilian journal of psychiatry. 23. 79-87. 2001. https://doi.org/10.1590/S1516-44462001000200006

- Cardozo L, Crawford CG, Eriksson C, Zhu J, Sabin M, Ager A et al. Psychological distress, depression, anxiety, and burnout among international humanitarian aid workers: a longitudinal study. 7(9). 2012. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0044948

- Dikmetas E, Top M, Ergin G. An examination of mobbing and burnout of residents. Turk psikiyatri derg. 22(3). 137-49. 2011. Disponível em https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21870303/

- Freitas ME. Quem paga a conta do assédio moral no trabalho? Rae eletrônica. 6(1). 2007. https://doi.org/10.1590/S1676-56482007000100011

- Jardim S. Depressão e trabalho: ruptura de laço social. Revista brasileira de saúde ocupacional. 36. 84-92, 2011. https://doi.org/10.1590/S0303-76572011000100008

- Hansen AM, Hogh A, Persson R, Karlson B, Garde AH, Orbaek P. et al. Bullying at work, health outcomes, and physiological stress response. Journal of psychosomatic research. 60(1). 63-72. 2006. https://doi.org/10.1016/j.jpsychores.2005.06.078.

- Stephan F, Gonçalvez AS, Cunha GF, Silveira IC, Miranda MB, Carolino TS, et al. Assédio moral/mobbing e saúde mental: revisão sistemática de literatura. Gerais: revista interinstitucional de psicologia. 11(2). 236-257. 2018. https://doi.org/10.36298/gerais2019110205

- Caniato AMP, Lima EC. Assédio moral nas organizações de trabalho: perversão e sofrimento. Cadernos de psicologia social do trabalho, 11(2), 177-192, 2008. https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v11i2p177-192

- Matthiesen SB, Einarsen S. Psychiatric distress and symptoms of ptsd among victims of bullying at work. British journal of guidance & counselling. 32(3).335-356, 2004. https://doi.org/10.1080/03069880410001723558

- Quevedo J, Nardi AE, Silva AG. Depressão: teoria e clínica. Artmed. Ed 2ª. 2013.

- Trigo TR, Teng CT, Hallak JEC. síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos. Archives of clinical psychiatry. São Paulo. 34(5). 223-233. 2007. https://doi.org/10.1590/S0101-60832007000500004

- Leymann H. Mobbing and psychological terror at workplaces. Violence and victims. 5(2). 119-126, 1990. Disponível em https://www.mobbingportal.com/LeymannV&V1990(3).pdf

- Pompili M, Lester D, Innamorati M, Pisa E, Iliceto P, Puccino M, et al. Suicide risk and exposure to mobbing. Work. 31(2). 237-243, 2008. Disponível em https://www.researchgate.net/profile/Maurizio-Pompili-2/publication/23425431_Suicide_risk_and_exposure_to_mobbing/links/56000c9108aeba1d9f848d2a/Suicide-risk-and-exposure-to-mobbing.pdf

- Dejours C. Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal. 2010 Disponível em: http://www.publico.pt/Sociedade/um-suicidio-no-trabalho-e-uma-mensagem-brutal_1420732

- Balducci. C, Alfano V, Fraccaroli F.BRelationships between mobbing at work and mmpi-2 personality profile, posttraumatic stress symptoms, and suicidal ideation and behavior. Violence and victims, 24(1),52-67. 2009. https://doi.org/10.1891/0886-6708.24.1.52.

- Silva GGJ, Souza MLP, Júnior EG, Canêo LC, Lunardelli MCF. Considerações sobre o transtorno depressivo no trabalho. Revista brasileira de saúde ocupacional. São Paulo. 34(119). 79-87.2009. https://doi.org/10.1590/s0303-76572009000100009

- Lopes CS, Faerstein E, Chor D. Eventos de vida produtores de estresse e transtornos mentais comuns: resultados do estudo pró-saúde. Cadernos de saúde pública. 9. 1713-1720, 2003. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2003000600015

- Glina DMR, Soboll LA. Intervenções em assédio moral no trabalho: uma revisão da literatura. Revista brasileira de saúde ocupacional. 37(126). 269-283, 2012. https://doi.org/10.1590/S0303-76572012000200008

- Paschoal T, Tamayo A. Validação da escala de estresse no trabalho. Estudos de psicologia (natal), 9(1). 45-52, 2004. https://doi.org/10.1590/S1413-294X2004000100006

- Beehr TA, Newman JE. Research on occupational stress: an unfinished enterprise. Personnel psychology. 51(4). 835-844, 1998. https://doi.org/10.1111/j.1744-6570.1998.tb00741.x

- Jacoby A, Falcke D, Lahm CR, Nunes GJ. Assédio moral: uma guerra invisível no contexto empresarial. Rev. Mal-estar subj. 9(2). 2009. ISSN 2175-3644 Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1518-61482009000200011&script=sci_abstract

- Hermenegildo ACP, Louzada RCR. assédio moral e saúde mental: uma revisão bibliográfica. Revista ensaios. 1. 49-66, 2012. Disponível em https://periodicos.uff.br/ensaios/article/view/37151/21627

- Jorde LB, Carey JC, Bamshad MJ, White R. Genética médica. 5a ed. Rio de janeiro: gen guanabara koogan. 263. 2017.

- Kapczinski F, Quevedo J, Izquierdo I. Bases biológicas dos. Transtornos psiquiátricos: uma abordagem translacional. 3ª. Ed. Porto alegre: artmed, 2011

- Haig D. The (dual) origin of epigenetics. Cold spring harbor symposia on quantitative biology, v. 69, 2004. https://doi.org/10.1101/sqb.2004.69.67.

- Gottesman I, Hanson D. Human development: biological and genetic processes. Annual review psychology, 56. 263-286, 2005. https://doi.org/10.1146/annurev.psych.56.091103.070208

- Holliday R. Epigenetics. A historical overview. Epigenetics. 1(2). 76-80, 2006. https://doi.org/10.4161/epi.1.2.2762

- Rutter M, Moffit TE; Caspi A. Gene-environment interplay and psychopathology: multiple varieties but real effects. Journal of child psychology and psychiatry. 43(3-4). 226-61, 2006. https://doi.org/10.1111/j.1469-7610.2005.01557.x.

- Jirtle R, Skinner M. Environmental epigenomics and disease susceptibility. Nature reviews: genetics, 8(4). 253-262, 2007. https://doi.org/10.1038/nrg2045

- Tsankova N, Renthal W, Kumar A, Nestler EJ. Epigenetic regulation in psychiatric disorders. Nature reviews: neuroscience, 8(5). 355-367, 2007. https://doi.org/10.1038/nrn2132

- Gwas PC. Genomewide association studies: history, rationale, and prospects for psychiatric disorders. American journal of psychiatry. 166 (5). 540-556, 2009. https://doi.org/10.1176/appi.ajp.2008.08091354

- Nestler EJ. Epigenetic mechanisms in psychiatry. Biological psychiatry, 65(3). 189-190, 2009. https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2008.10.030

- Sweatt J. Experience-dependent epigenetic modifications in the central nervous system. Biological psychiatry, 65(3). 191-197, 2009. https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2008.10.030.

- Dick DM, Riley B, Kendler KS. nature and nurture in neuropsychiatric genetics: where do we stand? Dialogues in clinical neuroscience, 12(1). 7-23, 2010. https://doi.org/10.31887/DCNS.2010.12.1/ddick.

- Dudley K, Li X, Kobpr MS, Bredy TW. Epigenetics mechanisms mediating vulnerability and resilience to psychiatric disorders. Neuroscience and biobehavioral reviews, 35(7). 1.544-51, 2011. https://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2010.12.016

- Murgatroyd C, Spengler D. Epigenetics of early child development. Frontiers in psychiatry: child and neurodevelopmental psychiatry, v. 2, p. 1-15, 2011. https://doi.org/10.3389/fpsyt.2011.00016

- Roth TL, Sweatt D. Annual research review: epigenetic mechanisms and environmental shaping of the brain during sensitive periods of development. Journal of child psychology and psychiatry, 52(4). 398-408, 2011. https://doi.org/10.1111/j.1469-7610.2010.02282.x

- OMS - organización mundial de la salud. Sensibilizando sobre el coso psicológico en el trabajo: orientación para los profesionales de la salud, tomadores de decisiones, gerentes, directores de recursos humanos, comunidad jurídica, sindicatos y trabajador [Internet]. Genebra, 2004. Disponível em https://apps.who.int/iris/handle/10665/42660

- Schilling RSF. More effective prevention in occupational health practice? Journal of society of occupational medicine. 1984;34(3):71-9. https://doi.org/10.1093/occmed/34.3.71

- Souza LC. acidente do trabalho: nexo de causalidade, concausa e doenças ocupacionais. Revista do tribunal regional do trabalho da 2ª região, São Paulo. 14. 95- 106, 2013. dISPONÍVEL EM https://hdl.handle.net/20.500.12178/77918

- BRASIL. Portaria nº 2.309, de 28 de agosto de 2020. Altera a portaria de consolidação nº 5/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, e atualiza a lista de doenças relacionadas ao trabalho (LDRT). 2020

Downloads

Publicado

2023-06-07

Edição

Seção

Artigo Original