O DIABO (QUASE) DESMASCARADO DE VILÉM FLUSSER
Resumo
Proponho uma inserção crítica do conceito de Diabo de Vilém Flusser. Para tanto, investigo suas concepções de ironia, autoironia, dúvida, exílio e, claro, o próprio Diabo ― sujeito polivalente, ambíguo e mascarado. Nacionalismo, por exemplo, é a máscara diabólica romântica da luxúria, dirá Flusser, enquanto progresso é o Diabo por detrás da máscara dialética entre inveja e avareza. Meu objetivo é revelar o Diabo de Flusser quase sem máscaras. Partindo de uma investigação dos conceitos já mencionados, tento trazer à tona as relações entre língua, realidade, ceticismo e ética no pensamento do autor. Sobretudo, tento entender a visão flusseriana de que a função da Filosofia (com ‘F’) é reviver a reverência do mistério e a sacralização do cotidiano, por meio da qual o Diabo cumpre a sua travessia: a resposta que Flusser encontrou para o Diabo inexistente de Grande Sertão: Veredas, do amigo Guimarães Rosa. Não é difícil aventar a hipótese de que, por detrás de suas máscaras, o Diabo flusseriano revela um espectro filosófico intrigante: a possibilidade da erradicação das fronteiras entre o ontológico e o ético. E a isso chamo de monismo imanente e radical de Flusser, ou, já em termos flusserianos: uma tentativa de ética do ser sem chão e sem raízes. O que ofereço aqui é apenas um vislumbre do monismo imanente e radical que paira sobre o pensamento de Flusser, e isso justifica o quase desmascarado no título do artigo.
Palavras-chave: autoironia; ceticismo; diabo; ironia; língua.