O PROBLEMA DO GÊNERO SEGUNDO O FEMINISMO DE RAIZ
Resumo
Neste artigo buscamos tornar evidente a importância fundamental do conceito de gênero para nortear uma análise da opressão das mulheres, sob uma perspectiva materialista do feminismo de raiz. Quando o gênero é entendido meramente como uma escolha pessoal ou identidade, em vez de uma ferramenta de poder que hierarquiza os sexos, isso obscurece a luta feminista. A negação de uma realidade objetiva, muitas vezes promovida pelo pensamento pós-moderno, representa um perigo para os movimentos políticos, incluindo o feminismo, ao esvaziar alguns conceitos essenciais. Salientamos que a definição clara de conceitos é crucial para promover discussões significativas e identificar grupos sociais oprimidos. Argumentamos que o movimento feminista, em sua essência, deve organizar-se em torno das semelhanças entre as mulheres, reconhecendo sua condição como uma classe sexual distinta da dos homens. Isso não significa afirmar, tal como Heuchan (2018) adverte em Womanhood: On sex, gender roles, and self-identification, que “todas as experiências de mulheres se adequam aos mesmos padrões universais, ou que todas as mulheres têm relativamente a mesma posição nas estruturas de poder mundiais”. Pelo contrário, compreendemos que fatores como raça e classe social, por exemplo, determinam o lugar da mulher no que se refere às estruturas de poder. No entanto, uma vez que a luta das mulheres contra o patriarcado é coletiva, entendemos que a emancipação de opressões sistêmicas não se dará por meio da individualização de questões estruturais. Assim, o que nos une como classe é resultado direto da nossa realidade material, que nos torna alvo do controle patriarcal devido à nossa capacidade reprodutiva e sexual. Para compreender essa ideia, é necessário entender o papel histórico do gênero na opressão das mulheres que, por sua vez, remonta à naturalização dos papéis sociais de gênero ao longo da história. Desse modo, realizamos uma análise terminológica de alguns conceitos essenciais, tais como opressão, subordinação, privação, sexo e gênero para descrever a conjuntura do problema do gênero no contexto da história da opressão das mulheres.
Palavras-chave: gênero; feminismo; opressão; sexo; materialismo.
Abstract
In this article we highlight the fundamental importance of the concept of gender for analyzing women's oppression from the materialist perspective of radical feminism. When gender is understood merely as a personal choice or identity, rather than a tool of power that hierarchizes the sexes, this obscures the feminist movement. The denial of an objective reality, often promoted by postmodern ideas, represents a danger for political movements, including feminism, by hollowing out some essential concepts. We emphasize that the clear definition of concepts is crucial to promoting meaningful discussions and identifying oppressed social groups. We argue that the feminist movement, at its core, must organize around the similarities between women, recognizing their status as a sexual class distinct from that of men. This is not to say, as Heuchan (2018) warns in Womanhood: On sex, gender roles, and self-identification, that "all women's experiences conform to the same universal standards, or that all women have relatively the same position in global power structures". On the contrary, we realize that factors such as race and social class, for example, determine a woman's place in power structures. However, we understand that since women's struggle against patriarchy is collective, emancipation from systemic oppression will not come about through the individualization of structural issues. Thus, what unites us as a class is a direct result of our material reality, which makes us a target for patriarchal control due to our reproductive and sexual capacity. To understand this idea, it is necessary to understand the historical role of gender in the oppression of women, which goes back to the naturalization of social gender roles throughout history. We therefore carried out a terminological analysis of some essential concepts, such as oppression, subordination, deprivation, sex, and gender, to describe the context of the gender problem in the history of women's oppression.
Key words: gender; feminism; oppression; sex; materialism.