O PROBLEMA DO ATEÍSMO EM LUC FERRY E COMTE-SPONVILLE: CONSIDERAÇÕES SOBRE UMA ESPIRITUALIDADE SEM DEUS
Resumo
O presente artigo buscará expor como Luc Ferry e Comte-Sponville elaboram suas concepções sobre uma espiritualidade sem Deus. Apesar da morte de Deus, se vislumbra alguma espiritualidade como membrana de contato com as coisas mais profundas que movem o homem: a morte, a vida, o inefável, a totalidade, o nada. Mas como estruturar uma espiritualidade nesta terra devastada após Nietzsche, Freud, Feuerbach, Schopenhauer e Dostoiévski? A saída encontrada por Ferry e Sponville desemboca numa ética desconectada de Deus, endossada no amor. É na Revolução do Amor, livre de todo fanatismo e dogma, que Ferry apresenta sua metodologia. Não é um amor abstrato, a Deus, a pátria, ao progresso, mas um amor prático, um exercício: o amor aos filhos, a esposa. Algo menor, mais factível, real, palpável. Para isto ele traça uma história da desconstrução, desde os Boêmios franceses (século XIX) e Nietzsche na Alemanha, para demonstrar o abstracionismo em que se enfiaram crentes, teóricos e filósofos. Sponville, utilizando-se das premissas desconstrutoras de Nietzsche, em sintonia com Luc Ferry, avança para uma crítica aos elevados valores morais, questionando os seus atributos dogmáticos, tanto em crentes e ateus, quanto em cientistas e filósofos. Apregoando ao mundo uma instabilidade que impossibilita a tomada de posições muito rígidas, exigindo-se uma autonomia capaz de criar seus próprios valores. Inclusive o valor de um panteísmo como aquisição da experiência de contato com a totalidade das coisas. Em ambos, a defesa do amor como práxis corresponde a um chamado à tolerância.
Palavras-chave: tolerância; ateísmo; amor; espiritualidade; panteísmo.