DOSSIÊ PSICOLOGIA SOCIAL E RURALIDADES

Autores

  • Ana Cecília Oliveira Silva Universidade Federal de Mato Grosso
  • Marcelo Augusto Calegare Universidade Federal do Amazonas-PPGPSI

Palavras-chave:

Psicologia, Ruralidades, Diversidade

Resumo

Este dossiê temático é fruto de trabalhos apresentados no GT Psicologia Social e Ruralidades, que aconteceu durante o XIX Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), entre 01 a 04 de novembro de 2017, em Uberlândia/MG. Essa edição do GT foi organizada por Ana Cecília Oliveira Silva (UFTM), Marcelo Gustavo Aguilar Calegare (UFAM) e Rosa Cristina Monteiro (UFRRJ), contando com a apresentação de 14 trabalhos. Destes, seis foram selecionados para compor o dossiê e tiveram aprovação por dois pareceristas ad hoc.
A primeira edição do GT durante um evento da Abrapso aconteceu no XVIII Encontro Nacional, em novembro de 2015, em Fortaleza/CE. Em seguida, parte desses professores, alunos e interessados nessa temática se reuniu novamente durante o II Congresso Latino-Americano de Psicologia Rural, em outubro de 2016, em Seropédica/RJ. Na sequência, em encontro da regional Norte e Nordeste, em novembro de 2016, em Boa Vista/RR, também tivemos a oportunidade de nos reunirmos para discutir temas unindo questões psicossociais e do mundo rural (CALEGARE, 2017) – este último entendido como um lugar de vida (WANDERLEY, 2010). Além desses eventos da Abrapso, outros congressos e simpósios têm recebido GTs, oficinas e workshops direcionados à articulação desses campos, não sendo, portanto, uma exclusividade da Psicologia Social. No Brasil, temos tido a clareza que as temáticas rurais são interdisciplinares, chamando tanto áreas da Psicologia em geral, quanto de diversas outras ciências afins (GONÇALVES et al., 2016).
O interesse pelas temáticas rurais vem crescendo de modo mais expressivo dentro da Psicologia Social há menos de uma década, apesar dos primeiros trabalhos que configuraram a Psicologia Social Comunitária no Brasil terem ocorrido tanto em comunidades urbanas quanto rurais. Um dos motivos que tem feito despertar a importância desse campo de estudos é a recente interiorização dos cursos e da profissão dos psicólogos, que estão tendo que trabalhar em municípios pequenos e, consequentemente, com questões ligadas ao mundo rural (CALEGARE, 2015).
Na nossa especificidade da Psicologia Social, temos entendido que nos diferentes ambientes rurais há processos psicossociais peculiares e também compartilhados, que têm caracterizado as ruralidades no Brasil. Assim, falamos em ruralidades para nos referirmos às relações humanas modeladas pelas vivências e representações de um certo espaço, seja imaginado ou concreto, que são permeados pelo cruzamento de distintos aspectos (geofísicos, psicopolíticos, socioculturais, etc.) e que configuram práticas sociais, identidades e universos simbólicos (CALEGARE, 2017).
A partir dessa compreensão, neste dossiê apresentamos o artigo de Moreira e Ericeira, que analisa a expansão da religião evangélica em uma cidade pequena no interior do Rio de Janeiro, mostrando que à medida que os espaços rurais foram sendo urbanizados, as igrejas católicas perderam fieis para as igrejas evangélicas pentecostais. No artigo de Souza, Bonamigo e Rossini, as autoras analisaram a compreensão de jovens rurais do oeste catarinense a respeito da permanência no campo ou migração à
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Revista AMAzônica, LAPESAM/GMPEPPE/UFAM/CNPq/EDUA
ISSN 1983-3415 (impressa) - ISSN 2318-8774 (digital)-eISSN 2558 1441 – (On line)
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cidade, mostrando que seus projetos de vida e estratégias familiares conduzem à vida fora da agricultura. No artigo de Faria e Curado, abordam-se os sentidos e nomeações de mulheres de assentamento rurais no interior do Mato Grosso do Sul, em que se valorizaram a organização coletiva, as experiências de resistência, a união, a família, a comunidade, o artesanato e a saúde. O artigo de Corrêa, Souza, Passos e Silva se analisou o comportamento antissocial em escola em bairro periférico da região metropolitana do Rio de Janeiro, fruto de representações do rural e urbano, adotando-se a perspectiva teórica de Winnicott. O artigo de Ribeiro, Fernandes e Oliveira faz um estudo a respeito da violência vivida por jovens no agreste alagoano, bem como as formas de resistência, mostrando que as políticas públicas não reconhecem as vivências e modos de vida desses jovens. Por fim, no de Rosa e Svartman se pesquisou os sentidos do trabalho camponês na produção do tabaco com família do interior do Paraná, mostrando que o trabalho se restringe à geração de renda, e não necessariamente a um modo de vida rural.
Consideramos que este dossiê reflete a multiplicidade do que vem sendo construído dentro das análises da Psicologia Social e das ruralidades, uma vez que apresenta trabalhos com uma diversidade em termos de temática - religiosidade, questões de gênero, urbanização, juventudes, produção agrícola; e de contextos de ruralidades - regiões periféricas em processo de urbanização, o agreste, assentamentos rurais, pequenas propriedades rurais. Há ainda uma ampla representação de regiões do país, com suas caracterizações distintas de formas de vida e de produção no campo, além de abordagens sob perspectivas teóricas de análise distintas.
Esperamos, assim, tornar público os trabalhos discutidos no GT Psicologia Social e Ruralidades, de modo que mais pesquisadores, professores, alunos e interessados na articulação de problemáticas rurais e psicossociais possam encontrar produções e subsídios. Nosso desejo é que o mundo rural ganhe seu devido destaque e importância, pois é dele que vivemos e nele há uma riqueza sociocultural inestimável

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Publicado

2018-12-21

Edição

Seção

Apresentação