A LITERATURA COMO COAUTORA NO PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DE SUBJETIVDADE
UMA INTERSEÇÃO ENTRE PSICANÁLISE E LITERATURA NA OBRA TERCEIRA SEDE DE FABRÍCIO CARPINEJAR
Palavras-chave:
Duplo, estranho, fratria, teoria psicanalítica, Terceira sedeResumo
Por meio de estudo interdisciplinar entre literatura e psicanálise, este artigo pretende analisar a possibilidade da literatura como coautora no processo de constituição de subjetividade. Partindo de Terceira sede, obra de Fabrício Carpinejar (2001), o presente trabalho tem como foco analítico-conceitual o termo fratria, proposto por Maria Rita Kehl e o tema do duplo visto pelo viés da teoria psicanalítica. O duplo verificável a partir do desdobramento do “eu- lírico”. Fratria a partir dos laços de identificação do leitor. Desta forma, o outro, no caso de Terceira sede, aquele que vive em 2045, é quem servirá de substância para que o eu, o que vive em 2001, tome conhecimento de si, e, assim, possa constituir sua subjetividade. É importante observar que não se chega a esse outro, e sim a si mesmo, porque o outro é o eu, assim como o eu é o outro, diferentes e ao mesmo tempo iguais: “A vida relatada não sendo minha, é mais minha sendo do outro” (CARPINEJAR, 2001, p. 9). Por isso, não se pode matar o outro, porque ao matar o outro, mata-se a si próprio. O eu-lírico, através de projeções imaginárias, vai em busca de (re)construir peças que faltam para que se constitua como sujeito. Desta forma, precisa apropriar-se de um outro que está no seu passado, esse ser estranho e familiar, nos termos de Freud. A duplicação, segundo Freud (1919), é uma forma de se defender contra a extinção do eu e fugir do medo da morte. O “duplo converteu-se num objeto de terror, tal como, após o colapso da religião, os deuses se transformaram em demônios” (1919, p. 285). Objetivar, portanto, a partir dessas duas noções, verificar o processo da constituição da subjetividade do sujeito, tomando como corpus analítico a obra de Terceira Sede.