Wamon - Revista dos alunos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFAM

Editorial 2023.1

Ozaias da Silva Rodrigues, Vinícius Cosmos Benvegnú — Sat, 30 Sep 2023 00:00:00 +0000

Axé da Capoeira em Roraima

Sat, 30 Sep 2023 00:00:00 +0000

A capoeira é uma das manifestações culturais brasileiras mais representativas no mundo, sendo reconhecida como Patrimônio Imaterial Mundial, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2014). A musicalidade e os movimentos como os golpes, esquivas e acrobacias que caracterizam a capoeira, demonstram sua conotação multifacetada que atrai pessoas à sua prática em mais de 150 países.

Entretanto, por detrás dos toques do berimbau e da ginga, existe um pilar que, segundo os próprios detentores, é a energia que faz tudo acontecer, o axé. O axé emerge efundindo-se nas expressões faciais, nas vozes ao cantar, nos toques dos instrumentos e nos próprios movimentos ao jogar. O axé na capoeira tem variadas traduções e conceitos, e para entendermos é necessário saber como ele se manifesta entre seus praticantes.

Neste sentido, o objetivo principal deste ensaio fotográfico foi trazer pelas imagens a manifestação do axé da capoeira no Estado de Roraima, e estimular a reflexão da importância das questões imateriais no cotidiano e na arte. Além disso, o ensaio busca dar visibilidade aos trabalhos e projetos dos mestres de capoeira de Roraima e registrar e promover a cultura popular como ferramenta de paz.

Das dicotomias ocidentais a "Outras Histórias"

Mateus Rodrigues dos Santos, Marcela Santander — Sat, 30 Sep 2023 00:00:00 +0000

Este trabalho foi pensado, inicialmente, como uma resenha da coletânea Outras Histórias - Ensaios sobre a composição de mundos na América e na África, organizada por Marcio Goldman. No entanto, a complexidade e multiplicidade dos textos que a compõem fez com que nossa escrita se expandisse para uma espécie de ensaio, cuja proposta é apresentar seus artigos em contraste com temas caros à antropologia: 1) clássicos, como os processos que foram chamados de mestiçagem e sincretismo religioso por forte influência do lusotropicalismo, em voga quando da implementação dos estudos raciais no Brasil e a relação destes debates com o binômio natureza/cultura; 2) contemporâneos, fazendo emergir conceitos contemporâneos e suas aplicações: cosmopolíticas e ecologia das práticas. Isso se torna possível graças aos contextos empíricos apresentados em cada um dos textos, ajudando-nos a rever as relações de coletivos afroindígenas a partir de suas próprias narrativas e bases epistêmicas, confrontando as leituras academicistas ocidentais que por vezes, suprimiram, ou interpretaram de maneira uniforme e incipiente os encontros entre africanos, indígenas e europeus. Buscamos, assim, incentivar através deste ensaio, uma antropologia simétrica, que releia, por outras epistemologias, desafios clássicos e contemporâneos, e efetivamente, divida espaço com os saberes e cosmologias não hegemônicos.

A pronúncia dialógica do mundo: coteorizando História Oral e Etnografias Críticas

Tony Leão da Costa, Amarildo Ferreira Júnior, Larissa Maria de Almeida Guimarães — Sat, 30 Sep 2023 00:00:00 +0000

Nas últimas décadas as ciências sociais têm sido questionadas em suas estruturas de saber/poder, na sua ênfase no método e na “neutralidade” como elementos que as constituem e as diferenciam frente às outras formas de conhecimento. De maneira geral, muitos sujeitos até então externos ao que poderia ser visto como campo do saber formal, científico e técnico se levantaram para afirmar que existem dimensões da realidade social — com suas experiências e saberes —, historicamente silenciadas. Isso ocorre não simplesmente por ausência ou deficiência de estudos, mas pela existência de estruturas assimétricas de poder, das quais o pensamento social é parte constitutiva.

Vidas em vulnerabilidade: a História Oral como possibilidade para a narrativa historiográfica

Suzyanne Valeska Maciel de Sousa, Ewerton Wirlley Silva Barros — Sat, 30 Sep 2023 00:00:00 +0000

As desigualdades econômicas e socioculturais chamam a atenção para a diferenciada exposição das vidas às diversas formas de violência. Isso decorre de um reconhecimento desigual, segundo o qual algumas vidas têm importância e devem ser protegidas, enquanto outras não. Ao refletirmos sobre tais questões, defrontamo-nos com a escassez de fontes e pesquisas no campo historiográfico. À vista disso, este artigo tem o intuito de ampliar esses diálogos e pensar os usos da história oral como metodologia para abordar sujeitos em vulnerabilidade. Em um primeiro momento, refletimos as noções de vulnerabilidade e reconhecimento, baseados nas reflexões de Judith Butler e Athena Athanasiou. No segundo, problematizamos os conceitos de testemunho, discurso e memória, balizados nas proposições de Paul Ricoeur, Paul Veyne, Michel Foucault e Henri Bergson. Por fim, discutimos a prática da história oral com vidas em vulnerabilidade em pesquisas historiográficas.

MPB como Música Parcialmente Brasileira: o colonialismo cultural interno na perspectiva de artistas paraenses da cena translocal contemporânea

Nélio Ribeiro Moreira — Sat, 30 Sep 2023 00:00:00 +0000

Neste artigo, entrelaçando a perspectiva histórica à antropológica, procuro apresentar o ponto de vista de artistas paraenses radicados na centralidade da cultura musical do país – o Eixo Rio-São Paulo, onde se constituiu uma cena translocal no mundo da canção paraense -, sobre o colonialismo interno contemporâneo na cultura musical brasileira. O objetivo é demonstrar como as leituras dos atores paraenses que estão inseridos nesse processo de objetificação do diferenciante para controle, o que é efetivado pelo grupo sonoro do campo musical brasileiro na contemporaneidade, são manifestações da arregimentação de discursos e narrativas como recursos dotados de uma postura crítica e de carga simbólica em processos de interação pelo conflito.

Os caminhos da Serra Grande e o Parque Estadual do Ibitipoca

Danielle Aparecida Arruda — Sat, 30 Sep 2023 00:00:00 +0000

Neste trabalho analisaremos a política de criação de Unidades de Conservação tendo como foco as relações e dinâmicas entre sociedade e natureza, a exclusão das comunidades que vivem em seu entorno dos processos de implementação, gestão e da própria concepção de uma área de conservação. Os caminhos e trilhas que ligavam as comunidades ao Parque Estadual do Ibitipoca serão usados como exemplo do rompimento de vivências tradicionais. Entendemos que este fato impacta nas relações de sociabilidade entre as populações que ocupavam esse território comunitariamente. Buscamos demonstrar como os silenciamentos das memórias e tradições dessas populações prosseguem até os dias atuais, desconsiderando os saberes e fazeres ligados ao lugar, as relações, identidades e pertencimentos das comunidades que foram afetadas com a estatização do território.

Espiritualidad y saber ancestral: “La partería tradicional afro"

Diónys Rivas Armas, Ismenia de Lourdes Mercerón — Sat, 30 Sep 2023 00:00:00 +0000

La práctica de la partería tradicional afro, es una experiencia heredada del África, legado ancestral que perdura, es un hacer comunitario muy especial, que forma parte de la espiritualidad en las comunidades afrodescendientes, que se aprende mediante la tradición oral, todo el ritual se hereda desde que son niñas, mirando y acompañando a sus madres o abuelas, quienes son las parteras mayores. En Venezuela la partería está presente en muchas zonas rurales, comunidades indígenas y afrovenezolanas, donde se congregan los conocimientos heredados de nuestros pueblos originarios y africanos. En cuanto a la partería afro tradicional, en el enclave afrodescendiente de Chuao en el estado Aragua, sus pobladores dan testimonio de su existencia como una manifestación cultural viva que forma parte de las tradiciones, saberes populares y experiencias vividas de las mujeres y las madres espirituales del pueblo. En el presente trabajo conoceremos los testimonios y experiencias de seis mujeres afrovenezolanas que desde la interpretación subjetiva del sentir de mujeres afro y la “geografía emocional”, nos permitieron develar una pluralidad de saberes en torno a la espiritualidad de la partería tradicional afro.

Indígenas puri LGBTQIA+

André da Silva Muniz, Bruna Mendes de Vasconcellos — Sat, 30 Sep 2023 00:00:00 +0000

O processo de invasão do continente hoje chamado de América envolveu um violento genocídio e etnocídio de populações nativas que levou diversos povos a serem declarados extintos, entre eles o povo Puri. Porém, com os avanços dos direitos indígenas nacional e internacionalmente, a população puri tem disputado politicamente para provar sua (re)existência histórica e, atualmente, demanda pelo reconhecimento de seus direitos. Situar seus corpos e garantir direitos à sua existência tem sido um enfrentamento político ainda mais árduo aos puris LGBTQIA+, considerando que vivemos em uma sociedade colonial-patriarcal que subalterniza indígenas, e corpos dissidentes das normativas sexuais e de gênero. Essas violências possuem uma origem comum, em um processo colonial que impôs normativas culturais aos corpos, suas práticas sexuais e matrimoniais, em detrimento às culturas indígenas que habitavam esse território. Neste trabalho, através de uma pesquisa autoetnográfica, refletimos sobre as continuidades desse processo colonial a partir da vivência puri LGBTQIA+ na contemporaneidade. Diante de um cenário onde os estudos de gênero e sexualidade têm poucos encontros com os estudos indígenas, esse trabalho visa compreender faces dessa opressão histórica contra esse grupo que intersecciona diversos marcadores sociais da diferença e, sobretudo, visibilizar suas estratégias de (re)existência.

Perspectivas decoloniais sobre o Monumento ao Garimpeiro em Boa Vista-RR

Sat, 30 Sep 2023 00:00:00 +0000

Por muitos anos a história foi contada pela perspectiva dos vencedores. Um dos instrumentos utilizados para essa narrativa são os monumentos, que geralmente visam homenagear um povo, um feito histórico, uma divindade ou qualquer outro elemento que seja importante na história local. Esses elementos se encontram, na maioria das vezes, inseridos no meio urbano. A proposta deste trabalho é entender como essa inserção pode gerar narrativas dentro da cidade e como ela se relaciona com o espaço. Pretende-se analisar, também, a necessidade de novos e outros olhares para monumentos através de debates decoloniais. Essa construção se dá no âmbito de Boa Vista, capital do estado de Roraima, que foi marcado pela atividade garimpeira e pela exploração dos povos indígenas. Por esse motivo, a análise gira em torno do Monumento ao Garimpeiro, localizado no núcleo urbano da capital. A metodologia empregada parte de uma abordagem etno-histórica, que dialoga com referências bibliográficas principais acerca do tema. O objetivo foi levantar questionamentos e percepções críticas sobre a simbologia desse monumento em Boa Vista e despertar a proposta de ressignificação sob outros olhares.

O lugar da diáspora negra: notas acerca de afrografias e etnografias nas relações raciais em contextos de pesquisas antropológicas racializadas

Paulo Henrique Ferreira de Freitas, Larissa da Costa Neves — Sat, 30 Sep 2023 00:00:00 +0000

Este artigo discute aspectos contemporâneos à antropologia brasileira ou antropologia feita no Brasil, sob enfoque da relação entre duas perspectivas teóricas complementares: a etnografia e as afrografias, esta última conceituada por Leda Maria Martins (1997). Em torno de questões como, quadros referenciais, circuitos acadêmicos e não acadêmicos e sistemas de interpretação do pensamento que envolvem a disciplina neste momento e como se compõe a ritualização do conflito epistêmico pós-colonial ou descolonial, sob a luz de experiências curriculares e extracurriculares na turma de mestrado de 2021 no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Goiás.